Hollywood: tirania da imagem

Desde os anos 40 o cinema, especialmente aquele produzido por Hollywood, fornece padrões de comportamento para as sociedades. As populações, mesmo as que não freqüentam as salas de exibição, espelham-se no comportamento, hábitos e roupas dos astros.

Há muito, deixou de ser elegante fumar, mas, nos anos 50, os filmes noir exibiam loiras fatais que invariavelmente (e de forma sedutora) tragavam seus cigarros e os corações dos pobres detetives que se derretiam por elas. Não é à toa que, na safra mais recente desse tipo de filme, as vilãs mais famosas fumavam. Em Corpos ardentes, Kathleen Turner seduz William Hurt e o convence a matar seu marido em meio a uma cortina de fumaça e a névoa de um tórrido verão americano. Dez anos depois, Em Instinto selvagem, Sharon Stone levou Michael Douglas à loucura convidando, a todo o momento, o pobre abstinente a voltar a fumar. Na cena mais famosa do filme, aquela-da-cruzada-de-pernas-sem-calcinhas, muitos espectadores saíram do cinema idolatrando o tabaco, pois é justamente para desafiar a proibição do fumo que Stone presenteia a platéia com suas partes íntimas.

Entretanto, nem tudo tem sido fácil para os atores, especialmente os homens. Eles não conseguem seduzir com cigarros, olhares ou cruzadas de pernas. A constante exposição de corpos nos filmes tem exigido um esforço descomunal dos protagonistas. Kenneth Branagh, o famoso ator shakespeareano reclamava, em uma recente entrevista, da malhação constante durante as filmagens de Frankenstein, onde apareceu apenas por alguns segundos sem camisa.

Pitt e Norton em Clube da Luta

Alguns perdem a noção de proporção, como recentemente aconteceu com Edward Norton em Uma outra história americana. No filme, ele representa um violento neonazista que passa metade do tempo de dorso nu. É espantosa a cena em que tira a camisa pela primeira vez, pois Norton não tem crânio nem altura que combinem com um corpo tão “turbinado”. Em Clube da luta, em que teria todo direito e dever de estar “bombado”, não apresenta uma constituição tão desproporcional. O mais estranho é que os dois filmes foram feitos mais ou menos na mesma época. Como Norton aparece com “corpos” tão diferentes&qt;&

Isto nos faz pensar que não é só de malhação que os corpos são moldados. Provavelmente há anabolizantes envolvidos. Ou alguém acredita que Stallone e Schwarzenegger tenham seus corpinhos esculpidos por personal trainers&qt;&

Uma curiosidade recente é a trajetória de Leonardo DiCaprio. Estourou em Titanic especialmente por oferecer um outro padrão de beleza às mulheres, uma fragilidade encontrável no garoto tímido da vizinhança, algo possível, distante do ideal masculino que o cinema habitualmente apresenta. Acontece que, para filmar A praia, DiCaprio passou por academia (ou sabe-se lá o quê), o que lhe proporcionou filetes musculares que, ao que tudo indica, duraram pouco, pois as últimas fotos que vimos mostram que tudo foi substituído pela mais comum das banhas.

Kate Winslet

Ao mesmo tempo em que o galã de Titanic era, com sua delicadeza, lançado ao estrelato, sua companheira de aventuras sofria acusações públicas por manter quilos a mais do exigido por Hollywood. Desde então, Kate Winslet parece não ter a mínima preocupação com a cintura, pois continua bastante fofinha. Nota-se que a febre em torno do filme já passou, assim como o sucesso de ambos, pois o que DiCaprio e Winslet fizeram depois quase ninguém prestigiou.

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