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Honeydripper - Do Blues ao Rock

Drama bem-intencionado reconta a transição da música negra acústica dos EUA para a amplificada

16.04.2009, às 16H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 17H00

Chega com dois anos de atraso mas cheio de boas intenções o drama Honeydripper - Do Blues ao Rock, escrito e dirigido por John Sayles em 2007. A ideia é reafirmar a comunidade negra do sul dos EUA como o berço dos principais gêneros da música popular do país, mas o parto, historicamente, foi muito mais complicado do que o filme sugere.

Não espere guitarristas com pactos com o diabo, bateristas alcoólatras e maus maridos, donos de rádios trocando gravações por pagamentos ínfimos aos intérpretes e compositores. O ponto de vista de Sayles (que aparece em uma ponta como o entregador da bebida) é o da mitificação: músicos excepcionais andando a esmo sobre trilhos atrás de oportunidade, lutando contra o preconceito, empenhando todas as suas economias em nome da arte, etc.

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Honeydripper (algo como "pinga-mel") é o nome do bar administrado por Tyrone Purvis (Danny Glover) no Alabama, em 1950. A crise aperta: o público só quer saber de jukeboxes e ninguém mais vai ao Honeydripper para ouvir um bom blues ao vivo. Para tentar salvar seu negócio, Purvis acerta um show com um astro do rock de Nova Orleans que todos só conhecem pelo rádio. Paralelamente, o jovem Sonny (Gary Clark Jr.) desembarca na cidade, sem rumo, portando apenas uma mala e o seu estranho instrumento musical fabricado em casa: uma guitarra elétrica.

Sayles evita os temas espinhosos da criação do rock e endireita uma via historicamente torta. Há todo o painel da sociedade agrícola racista do sul - plantação de algodão, criadagem, refúgio na igreja batista - para dar à trama um perfil aparentemente completo, mas as subtramas não saem do esquematismo. Em outras palavras, personagens estão ali apenas como representantes de um estrato social (a dona de casa branca, o xerife mau-caráter, o malandro jogador), seus dramas não têm autonomia.

Vê-se o esforço do elenco e há, claro, o prazer da boa música, seja acústica ou amplificada, mas o filme fica na média - arredondada para menos por conta da legenda em português, que descarta a prosa bluesística do sul. Diálogos dramatizados por metáforas e alegorias deveriam ser traduzidos literalmente, não simplificados, como acontece aqui.

Quando Danny Glover solta seu discurso edificante no final, sobre como a comunidade precisa se unir contra a imagem que habitualmente se faz dos negros, Honeydripper já se resume apenas à lição de moral.

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