Depois da lamentação e dramas do fraco Edifício Yacoubian, Marwan Hamed retorna com Ibrahim Labyad (2008). E o faz com alguns truques novos na manga.
O segundo longa do cineasta é uma espécie de Cidade de Deus no Cairo. Se passa em uma das mais pobres e violentas regiões da cidade, à beira do deserto, onde favelas se misturam a ruínas ancestrais. O cenário é impressionante e a fotografia de Sameh Selim o registra com competência extrema, que dá ares de superprodução ao filme. Montagem e trilha sonora ajudam na excelente primeira metade da película, violenta e cheia de ação (muito) realista.
Ibrahim Labyad
Ibrahim Labyad
As lutas do protagonista, o criminoso Ibrahim (Ahmed el-Sakka), sujeito que só consigo descrever como uma espécie de "Shrek guerreiro", são empolgantes. Ele enfrenta, apanha e corre de dez, vinte pessoas sem que a situação pareça exagerada em momento algum. É a cara de surtado de "Heema", como ele é apelidado, que afasta seus oponentes - além de suas facas, claro, que ele usa para riscar rostos e corpos, marcando os inimigos.
A trama, porém, é extremamente confusa. Hamed opta pela não-linearidade no texto de Abbas Abu El-Hassan, mas o faz de maneira desencontrada demais. Respostas demoram demais a surgir - e quando isso acontece já não lembramos ao certo das perguntas. Com isso, o filme parece que vai seguir por uma direção quando enfim entendemos que a história é outra, e a saga de dois amigos de infância que entram para uma família criminosa torna-se um romance... que até funcionaria não fosse o tom já estabelecido.
O elenco, porém, faz sua parte. Mahmoud Abdel Aziz é brilhante como o "poderoso chefão" Zarzur. Convence como implacável e respeitado mafioso e igualmente como frágil velhote apaixonado. De el-Sakka então, não há o que falar. Seu olhar ensandecido segura o filme desde o primeiro frame. O interesse romântico dele, vivido por Hend Sabry, e seu melhor amigo, interpretado por Amr Waked, também acompanham bem em suas cenas.
Em síntese, uma produção caprichada, com ótimo elenco e ação realista. Não me surpreenderia se o nome de Marwan Hamed aparecesse futuramente nas cartelas de filmes internacionais. Filmar ele sabe, faltou apenas um pouco mais de concisão no roteiro.
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Ano: 2009
País: Egito
Classificação: LIVRE
Duração: 134 min