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Inferno

Danis Tanovic e a segunda parte da trilogia concebida por Krzysztof Kieslowski

19.04.2007, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H24

Inferno (L'Efer, 2005), dirigido por Danis Tanovic, (oscarizado por Terra de Ninguém) é a segunda parte de uma trilogia (paraíso/inferno/purgatório) concebida pelo cineasta Krzysztof Kieslowski, com roteiro escrito por ele e seu colaborador Krzysztof Piesiewicz. Mas com a morte do cineasta da Trilogia das Cores em 1996, o primeiro filme, Paraíso, acabou dirigido por Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra). Por causa do tema, notamos que Tykwer procurou imagens mais oníricas e etéreas, em que sua câmera dava uma impressão de liberdade. O azul era a cor predominante. Tanovic toma um caminho diferente. Seu filme possui uma estrutura fechada, quase que sufocante, em que o vermelho dita o tom.

Na trama Sophie, Céline e Anne são irmãs. A primeira (Emmanuele Béart, um espetáculo de mulher e atriz), mais velha entre as três, mora com o marido (Jacques Gamblin) em Paris. Ela acredita que seu marido a trai e sai em busca de provas. A caçula Anne (Marie Gillain) estuda arquitetura e mantém uma relação passional com seu professor, Fréderic (Jacques Perrin), que é pai de sua melhor amiga. Céline (Karin Viard) é solteira e vive para cuidar da mãe (Carole Bouquet), inválida. Ela está sendo seguida por um misterioso homem (Guillaume Canet). Notamos que todas as três estão vivendo uma espécie de inferno na Terra. Um mundo de decepções, angústia, romances frustrados e obsessões. Estão condenadas a repetirem os mesmos erros e cometerem as mesmas crueldades que sofreram.

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O roteiro de Kieslowski e Piesiewicz busca inspirações em O Inferno de Dante, e em Medéia, de Eurípides. O infanticídio aqui é emocional. Tragédia e amor não correspondidos são o combustível que movem os personagens. Tanovic aproveita essas influências para criar metáforas visuais que corroboram a epístola. Coisas como uma abelha tentando subir em um canudo para não se afogar dentro de um copo com um líquido vermelho. Ou mesmo Sophie arrancando vagarosamente as folhas de uma planta. Figuras que representam sua fragilidade em meio de sua tortura psicológica.

A linguagem cinematográfica acompanha o jogo cênico. Tanovic por muitas vezes carrega sua câmera com movimentos delicadamente espirais reforçando as imagens de um caleidoscópio que abrem e fecham a narrativa. Isso representa uma jornada complexa de multifacetadas camadas de um mundo claustrofóbico, em que os erros serão cometidos de geração para geração. Mas Tanovic mostra que a salvação não está longe. Será um caminho árduo, mas em direção à luz. Para isso os personagens precisarão confrontar a verdade. Para aliviar a dor, uma peça do intricado quebra-cabeça só será revelada no final. Mas isso também poderá causar uma enorme desilusão.

Tecnicamente podemos destacar ainda o ótimo trabalho de fotografia de Laurent Dailland e da cenógrafa Aline Bonetto. No campo das interpretações é impossível destacar alguém no elenco. Protagonistas e coadjuvantes defendem seus personagens com bastante dignidade e perícia. Até mesmo o veterano Jean Rochefort aparece em uma ponta como um dos pacientes da clínica na qual a mãe das três irmãs está internada. Agora é esperar para quem vai ser o escolhido para retratar o purgatório.

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