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Irmão Padre, Irmã Puta | Crítica

Irmão padre, irmã puta - Festival do Rio 2006

25.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 12H06

Irmão padre, irmã puta
Princess
Dinamarca/Alemanha, 2006
Animação/Drama - 90 min

Direção: Anders Morgenthaler
Roteiro: Mette Heeno e Anders Morgenthaler

Vozes: Thure Lindhardt, Stine Fischer Christensen, Liv Corfixen, Tommy Kenter, Margrethe Koytu, Christian Tafdrup

O dinamarquês Anders Morgenthaler é conhecido em seu país como um cartunista que faz tirinhas humorísticas voltada para o público infantil no jornal Politiken. Ele também é famoso por suas declarações contra a indústria pornográfica. Morgenthaler não consegue compreender porque a pornografia não recebe o mesmo tratamento que o fumo e as drogas entorpecentes. Irado com este excesso de liberdade, ele resolveu protestar usando o seu talento na animação.

O resultado final se chama Irmão padre, irmã puta (Princess, 2006) e foi exibido na abertura da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes de 2006. O longa mistura desenho animado com cenas reais, e foi a forma que ele achou para protestar contra o mercado de produtos sexuais.

Na trama, August é um padre missionário que volta para casa ao saber que sua irmã, Christina, faleceu devido ao uso de drogas. Christina era uma atriz pornô conhecida como Princesa, e tinha uma filha de cinco anos, Mia. August decide cuidar da menina. Já para o seu desespero, ele a encontra em um bordel. Aparentemente, ela foi criada por sua mãe com a ajuda de outras prostitutas.

Já em casa, quando leva a sobrinha para tomar banho, August nota uma série de machucados e escoriações na garota. E em uma das cenas mais chocantes, Mia abre a braguilha de August, dando a entender que, em sua inocência, ela não consegue mais distinguir o certo do errado. Tomado por culpa e remorso, o religioso decide destruir todo o material pornográfico produzido sobre a irmã. Uma das medidas é ameaçar a Paradise Lust, empresa que produziu todas as revistas e vídeos com a Princesa. Charlie, o proprietário da empresa, se tornou rico justamente explorando a imagem da Princesa e não leva o aviso a sério. Começa, então, o banho de sangue.

Mea Culpa

O filme é um tratado sobre culpa, vingança e redenção. O uso de animação em cerca de 80% do longa mostra-se correto devido ao peso do tema tratado. Os desenhos suavizam um pouco os assuntos, que vão de abuso sexual, indústria pornográfica, desvio de conduta e violência extrema, entre outros.

O desenho lembra bastante o estilo japonês, com cenários praticamente estáticos e sem muitos objetos. Já os personagens, que tiveram como "moldes" atores de verdade, são desenhados como nas tirinhas: rígidos e sem os contornos de uma pessoa normal. Mas o que os torna tão realistas são justamente as cenas com atores de verdade. Estas seqüências foram filmadas digitalmente e retratam o passado dos personagens. Um destes flashbacks mostra a morte dos pais de August e Christina, e ajuda a entender o sentimento de culpa que os leva a escolher carreiras tão díspares. Numa leitura mais profunda, é possível perceber que August é tão culpado quanto os empresários da indústria pornográfica.

Mas vale dizer que mesmo com uma temática adulta, nunca são mostradas cenas de penetração ou de nudez explícita. As imagens são feitas em ângulos que ocultam o sexo ou com objetos que estrategicamente escondem o que não precisa ser visto.

O filme foi produzido pela Zentropa Entertainment, de propriedade de Lars Von Trier (Dogville, Dançando no Escuro). Por isso, nota-se em algumas cenas um pouco do manifesto Dogma, proposta realista que se encaixa bem com a narrativa. A única coisa que destoa é a maneira quase fascista com que Anders Morgenthaler e o co-roteirista Mette Heeno constroem seu protesto contra a indústria pornográfica. Colocar o protagonista como uma espécie de anjo do antigo testamento com a mesma sede de vingança que Charles Bronson em Desejo de Matar, não parece a maneira mais inteligente de chamar a atenção do público para o problema.

Nota do Crítico
Regular
Irmão Padre, Irmã Puta
Princess
Irmão Padre, Irmã Puta
Princess

Ano: 2006

País: Dinamarca, Alemanha

Classificação: 18 anos

Duração: 81 min

Direção: Anders Morgenthaler

Elenco: Thure Lindhardt, Stine Fischer Christensen

Onde assistir:
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