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O cinema italiano dos anos 70 se confunde com as opções estéticas de Federico Fellini (1920-1993) no período.
Enquanto diretores como Marco Ferreri (1928-1997) e Pier Paolo Pasolini (1922-1975) realizavam bacanais bestiais na tela como forma de criticar a sociedade consumista, Fellini adaptou esses exageros carnais aos seus devaneios oníricos - cada vez mais presentes após o seu afastamento do Neo-Realismo. Ou seja, nada mais oportuno do que também evocar alguns rituais dionisíacos para poder exibir, com naturalidade, os seios fartos, os coros de mulheres histéricas e os gordos flatulentos que povoavam o imaginário do diretor.
Em 1972 e em 1973, Fellini depurou o estilo, limou exageros, em dois antológicos retratos autobiográficos, respectivamente, Roma e Amarcord. Mas antes, em 1969, o diretor perpetrou Satyricon: provavelmente o seu filme mais grosseiro, no sentido de valorizar a aberração sem que isso gere, necessariamente, um contraponto artístico, poético.
Como nos dias de Sodoma e Gomorra narrados por Pasolini, Fellini tem na libertinagem dos tempos bíblicos a sua fonte. Aqui, trata-se da adaptação livre da obra homônima do latino Petrônio, escrita provavelmente no ano de 61. O cenário é esse Império Romano dos primeiros séculos cristãos, visto, como diz o título, em versos satíricos. Na trama fragmentada de Fellini, o eixo se concentra na história de Encolpio (Martin Potter), que disputa com o seu amigo Ascilto (Hiram Keller) o afeto do jovem Gitone (Max Born). Daí, em um apanhado de episódios, Encolpio participa de orgias, vira escravo e encontra até a lenda viva do Minotauro.
Se alguns episódios são mais ricos do que outros, se algumas referências podem soar gratuitas a quem não domina o tema, se Satyricon resulta num momento pouco inspirado de Fellini, ao menos uma qualidade se destaca: a vocação para ridicularizar as grandes mitologias greco-latinas e o modo de vida romano. Uma vocação, aliás, que Fellini divide com os seus parceiros de cinema setentista.
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