John Wick: Baba Yaga/O Urso do Pó Branco

Créditos da imagem: Lionsgate/Universal PicturesDivulgação

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John Wick, Urso do Pó Branco e a simplicidade que faz falta nos blockbusters

Na contramão das grandes franquias, longas de Chad Stahelski e Elizabeth Banks conquistaram ao focar na diversão

Omelete
4 min de leitura
04.04.2023, às 17H09.

Quem nega a atual crise criativa de Hollywood, cada vez mais refém de remakes, reboots e universos cinematográficos, ou está mentindo, ou ainda está em negação sobre o número de blockbusters extremamente parecidos que têm chegado às telonas nos últimos anos. Além de sua criatividade, a indústria, especialmente os grandes estúdios, parecem estar perdendo a capacidade de entregar produções descomplicadas e focadas mais na diversão do público do que na construção de uma nova franquia. A cada novo grande lançamento, os fãs são bombardeados com subtramas desnecessárias, referências a continuações não-anunciadas ou diálogos expositivos feitos sob medida para guiar até o mais desligado dos espectadores.

Especialmente quando falamos sobre franquias como MCU, DCEU e afins, percebe-se que produtores e executivos têm subestimado, ao mesmo tempo, a inteligência e a capacidade do público de se divertir. Justamente por isso, é surpreendente quando somos agraciados com John Wick 4: Baba Yaga ou O Urso do Pó Branco, dois dos filmes mais simples – e divertidos – a chegar nos cinemas em 2023.

Mesmo que sejam diferentes em praticamente todos os seus aspectos, ambas as produções conquistaram os espectadores ao focar em suas premissas mais básicas e a desenvolvê-las com qualidade. O longa de Chad Stahelski, por exemplo, entende que seu principal atrativo está em ver Keanu Reeves, Donnie Yen e companhia se enfrentando em cenas bem filmadas e editadas. O mundo quase místico que os cerca até importa, mas não o bastante para que seja necessário usar longos minutos explicando cada detalhe de cada locação ou personagem vistos em tela.

Juntos, Stahelski, Shay Hatten e Michael Finch criaram uma das produções de ação mais enxutas e divertidas dos últimos anos, levando a franquia John Wick a um novo auge e colocando a série cinematográfica entre uma das maiores dentro do gênero. Há quem chame esse foco maior na porradaria de superficial, mas essa sensação está diretamente ligada ao fato de termos nos acostumado a ver filmes verborrágicos distraídos pelas várias histórias paralelas criadas para serem resolvidas em sequências futuras. Baba Yaga, no entanto, está longe de ser vazio e, além de entregar elementos o bastante para ampliar, mas não desmistificar o submundo dos assassinos, mostra um verdadeiro compromisso em entreter seus fãs ao invés de vender a eles um sem número de derivados.

Com uma narrativa básica, mas eficaz, John Wick 4 é praticamente uma resposta aos inchados filmes de herói, que ano após ano têm deixado a própria qualidade em segundo plano para construir mundos capazes de continuar dando lucro por anos e anos. O longa entrega exatamente o que seu público queria e, mesmo com pouquíssimas palavras, garante quase três horas de diversão ininterrupta, do tipo que pouco se vê no cinema mainstream atual.

Embora não esteja no mesmo nível de qualidade de Baba Yaga, O Urso do Pó Branco também entende que sua premissa básica – uma ursa que ingere quilos e quilos de cocaína e embarca em uma jornada sangrenta – é mais do que o bastante para manter a atenção do público. Claro que um orçamento reduzido obrigou Elizabeth Banks a não mostrar a fera tanto quanto queríamos, mas é justamente isso que torna as cenas em que ela aparece tão gratificantes.

Sangrento e hilário, O Urso do Pó Branco abre mão de qualquer conexão com a realidade para causar sustos e risadas, exatamente aquilo que quem compra ingressos para um filme com tal título procura. Em vários momentos, aliás, fica claro que Banks compreende que seu longa funcionaria sem problemas se os humanos massacrados pela ursa fossem pessoas sem nome ou rosto, desde que a animal ainda cheirasse uma carreirinha ou duas ao longo dos 95 minutos da produção.

As cenas sem a ursa, no entanto, são simples e charmosas, com Keri Russell, Alden Ehrenreich, O'Shea Jackson Jr. e Christian Convery acertando na comédia escrachada exigida pela trama. Ainda que traga algumas exposições, o roteirista Jimmy Warden nunca exagera nos diálogos, entregando apenas as poucas informações necessárias para que o público tenha uma conexão básica com os protagonistas do longa. Sem subestimar seus espectadores, ele e Banks se apoiaram no básico para fazer de O Urso do Pó Branco uma sessão pipoca divertidíssima que nada em deve a grandes franquias no quesito diversão.

É claro que todo cineasta torce para que seu filme seja um sucesso financeiro, mas, pelo menos em seus últimos lançamentos, Stahelski e Banks entenderam que, acima de tudo, o cinema está aqui para nos entreter com histórias divertidas e bem montadas. Longe de serem fracassos, John Wick 4 e O Urso do Pó Branco nos lembram que os blockbusters podem nos entregar muito mais do que apenas tramas interconectadas e CGI duvidoso, desde que lembrem que seu objetivo é agradar os fãs nas cadeiras e não só os executivos e acionistas de seus estúdios.

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