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Crítica

Maria Madalena | Crítica

Drama bíblico estetiza personagens e faz atualização da Bíblia pensando na eficiência

15.03.2018, às 17H31.
Atualizada em 24.03.2018, ÀS 00H02

A eficiência é a principal característica de Maria Madalena (Mary Magdalene), drama bíblico do diretor de Lion, Garth Davis, que reconta a chegada de Cristo a Jerusalém e o Calvário do ponto de vista da personagem do título. É um filme eficiente desde suas escolhas de elenco, e isso se consuma na atenção que Davis dá aos temas que ele elege trabalhar.

Questões de whitewashing e da caracterização do Jesus histórico não são a prioridade no longa estrelado por Rooney Mara e Joaquin Phoenix - escolhas que Davis faz duplamente em nome de uma estetização e da busca por um lastro "de prestígio" na sua encenação. Tanto Mara quanto Phoenix carregam consigo o selo de serem nomes "A" de Hollywood, o que automaticamente transfere a Maria Madalena uma confiabilidade que é cara a Davis, uma vez que seu filme, como a jornada do nazareno, tem no caráter catequizador seu nervo central.

Davis não se faz de desentendido. Ele filma os dois protagonistas com lentes que valorizam bastante os close-ups, deixam os semblantes de Jesus (Phoenix) e Maria (Mara) cheios de detalhes, ao mesmo tempo em que borra os fundos e o entorno. É como se Maria Madalena tivesse sido todo rodado após o advento do celular com aquela câmera traseira dupla que permite hierarquizar informações no enquadramento e realmente destacar objetos e rostos de todo um contexto espacial. Às filmagens no litoral seco, arenoso e desbotado da Sicília - paisagem que já se presta a uma uniformização do cenário disforme - Davis adiciona filtros que valorizam as figuras humanas no deserto e fazem do filme uma experiência estética acima de tudo.

Joaquin Phoenix tem seus olhos cristalinos, francos, e o sorriso melancólico de quem sofre em silêncio, e essa combinação faz do seu Jesus o tipo mais empático possível, dentro dessa escolha problemática de Davis por um Jesus gatíssimo e europeizado como o das pinturas católicas. Já Rooney Mara oferece sua vulnerabilidade, o rosto fino e o olhar também franco e atento. O diretor de Maria Madalena enxerga esse potencial e o filme o explora do começo ao fim, iluminando os rostos dos atores, estreitando o olhar e se fechando para eventos marginais, em nome de uma experiência concentrada na capacidade que Phoenix e Mara têm de reagir mesmo aos estímulos mais débeis.

Essa concentração se dá nos temas. Davis faz um filme muito simples com o intuito de contemporaneizar as coisas: Maria simboliza a conquista do lugar de fala das mulheres, Cristo simboliza o movimento contra a mercantilização da fé. Ainda assim, não é um movimento de ruptura; a mulher surge no filme como portadora da conciliação e figura anônima na cura, no perdão, um ponto de vista maternal de observar questões femininas. Ela perdoa Judas, lava os pés de Cristo, ilumina Pedro, permite que continue a Via Crúcis, dá alivio no pé da cruz... Maria é uma mistura de Forrest Gump e coro grego neste filme, mais uma figura testemunhal do que necessariamente uma protagonista de sua própria história.

Nota do Crítico
Bom
Maria Madalena
Mary Magdalene
Maria Madalena
Mary Magdalene

Ano: 2018

País: Reino Unido

Direção: Garth Davis

Roteiro: Helen Edmundson, Philippa Goslett

Elenco: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor, Ariane Labed, Ryan Corr, Tahar Rahim, Hadas Yaron, Charles Babalola, Tsahi Halevi, Shira Haas, Uri Gavriel, Tawfeek Barhom, Zohar Shtrauss, Theo Theodoridis, Michael Moshonov, Sarah-Sofie Boussnina, Lubna Azabal, Lior Raz, Francesco Scianna, Giorgio Caputo, Jacopo Olmo Antinori, Roy Assaf, Giovanni Cirfiera, Giacomo Fadda

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