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Meu Winnipeg - Mostra SP 2008

O cineasta Guy Maddin volta à sua relação de amor e ódio com a cidade canadense

30.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 14.11.2016, ÀS 18H03

Os filmes do cineasta Guy Maddin orbitam uma galáxia distante, muito distante, criada por ele em Winnipeg, Canadá. Mas ainda que a cidade faça parte de mapas, da vida real, é difícil reconhecê-la.

Ela está em The Saddest Music in the World (2003), com Isabella Rossellini no papel de uma ricaça da indústria cervejeira que organiza um concurso para premiar a música mais triste do mundo, mas não é visível. Tampouco é reconhecida no soberbo Dracula: Pages from a Virgin's Diary (2002), estrelado pelo balé de Winnipeg, com um dançarino chinês no papel principal, ou no onírico Twilight of the Ice Nymphys (1997).

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Até então, Winnipeg, no coração do Canadá, aparecia envolta numa nebulosa. Era tratada como um paradoxo. Impossível dizer se ela inspirava amor ou ódio.

Meu Winnipeg (My Winnipeg, 2007), uma mistura de documentário e ficção, resolve a questão. O filme é um divertido tributo amoroso e odiento de Maddin à cidade que o impede de fugir.

Ele precisa escapar, mas não menospreza a importância crucial daquele pedaço de terra gélido no meio de um quase nada. Não à toa, compara a confluência dos rios Red e Assiniboine, com o colo nu de sua mãe (ela própria apenas alguns anos mais velha que a cidade).

Uma noite, o alter ego do diretor (vivido no filme por Darcy Fehr) foge desesperadamente dos laços maternais ao embarcar num trem sacolejante, num estado quase narcoléptico. Mas os fantasmas da cidade o perseguem. Lá fora, pelas janelas preto e branco, a paisagem vai ficando para trás com seus sonâmbulos e suas melancólicas ruas principais e secundárias.

Antes, porém, de deixar seu passado para sempre, ele precisa voltar ao número 800 da rua Ellice. No endereço de sua infância ficava a casa da família e o salão de beleza da mãe no qual o futuro cineasta vivia imerso num mundo paralelo, às voltas com conversas femininas, cheiros de produtos de beleza e a secadores de cabelo.

Nostálgico, Maddin contrata atores para reencenar episódios pitorescos de sua adolescência, como se fosse possível revisitar o passado, reencontra o antigo estádio de hockey da cidade onde seu pai trabalhava e uma escola interna para garotas "ultra-gatas".

Autoral até o último fotograma, por mais démodé que tal expressão possa parecer, Meu Winnipeg é um Guy Maddin de exuberância cinematográfica. Há paixão no frenesi das imagens, no manejo da câmera, na verborragia, no humor do roteiro, na sobreposição de letreiros, com frases subliminares que reforçam a narração (feita pelo diretor), no teor autobiográfico. Impossível saber o que de fato é verdadeiro nessa fantasia povoada por histórias, personagens e endereços reais.

Francamente, esse detalhe pouco importa. A filmografia de Maddin está cheia de referências autobiográficas. Em Careful (1992) um bebê fica cego de um olho após se ferir com um alfinete de roupa. O episódio foi inspirado no pai de diretor, que perdeu um olho da mesma forma.

Meu Winnipeg é coerente com a filmografia do diretor e se mantêm fiel às referências do cinema expressionista alemão. A heroína Citizen Girl é quase uma Maria. Já o bom espectador termina o filme hipnotizado, como um Cesare desajeitado - em nada comparável ao magistral Conrad Veidt.

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