A renascença da Disney Animation começou com uma sereia. Em 1989, Ron Clements e John Musker levaram o estúdio, que passava por uma baixa criativa e financeira, para uma nova era de clássicos com a adaptação do conto de fadas de Hans Christian Andersen. Seguiram-se sucessos como A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992, também comandado pela dupla) e O Rei Leão (1994). O segredo de Walt Disney - histórias emocionais e intrigantes nascidas de mentes criativas - era revelado para uma nova geração.
Moana: Um Mar de Aventuras, novo trabalho de Clements e Musker, faz parte de outro renascimento, do estúdio e dos seus diretores. Quando John Lasseter assumiu o posto de chefe criativo, a Disney Animation passava por uma nova baixa. Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) foi o ponto de virada e Moana, assim como Zootopia, comprovam um novo período memorável. Ao mesmo tempo, os animadores veteranos dão uma lição de longevidade, com disposição para reinventar a si mesmos passados dos seus 60 anos.
Apesar de sempre terem se mostrado abertos a novas tecnologias, misturando efeitos em computação gráfica com animação tradicional em Aladdin, Hércules (1997), Planeta do Tesouro (2002) e A Princesa e o Sapo (2009), a dupla precisou “voltar para escola” com Moana, seu primeiro trabalho completamente em CGI. Era necessário entender uma nova forma de se fazer animação, mais complexa e fragmentada. Das pedras do cenário à textura dos grãos de areia, tudo era aprovado pelos diretores, que nunca viam todas as peças no mesmo lugar.
O resultado é uma animação de riqueza técnica, em que é possível sentir a água do mar e os cabelos ao vento, ficando no limite entre o realismo e a fantasia oriundo do avanço tecnológico. Porém, a grande contribuição de Clements e Musker não é estética, mas sentimental. Como nos trabalhos anteriores da dupla, Moana conta com personagens relacionáveis, em busca do seu lugar no mundo, da princesa polinésia que desafia os pais para salvar seu povo ao semideus que busca redenção (apesar da sua cômica arrogância).
Ainda na tradição da filmografia de Clements e Musker, as músicas são parte integral da narrativa. Do neozelândes Opetaia Foa'i vem o som do pacífico sul, que dá vida a história do povo de Moana e da sua relação com o mar. Das letras de Lin-Manuel Miranda (artista conhecido pelo musical Hamilton) surge a construção dos personagens, que revelam seus anseios e personalidades em canções como a inspiradora “How Far I’II Go/ Saber Quem Sou” (interpretada no original por Auli'i Cravalho e em português por Any Gabrielly) e a divertida “You’re Welcome/ De Nada” (interpretada no original por Dwayne Johnson e em português por Saulo Vasconcellos). Vale notar a qualidade da adaptação brasileira das músicas, com “Shiny/Brilhe” sendo o melhor exemplo. A versão interpretada por Roberto Garcia capta as nuances da performance de Jemaine Clement, que por sua vez levou o tom do Flight of the Conchords para o monstruoso Tamatoa.
A “magia da Disney” que fez e faz parte de tantas infâncias não é um truque, mas a consequência de muito trabalho. Clements e Musker levam isso para tela, sempre cientes da capacidade transcendental da animação, que na sua recriação de culturas, cores e formas se conecta com mais facilidade ao imaginário do público. É o que faz de Moana: Um Mar de Aventuras uma oportunidade de conhecer um mundo diverso e verdadeiro, mesmo que habitado por criaturas marinhas e deuses metamorfos.
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 1h43 min
Direção: John Musker, Ron Clements
Roteiro: John Musker, Ron Clements
Elenco: Dwayne Johnson, Jemaine Clement, Alan Tudyk