Moebius Redux - A Vida em Imagens, homenagem apaixonada a Jean Giraud, o Moebius, examina a carreira e a mente de um dos mais famosos quadrinistas do planeta.
Através de entrevistas com o biografado e outros gênios da arte seqüencial e do cinema, o documentário de Hasko Baumann passa por todas as fases do criador. Começa com a infância sem pai e solitária, quando os desenhos eram sua companhia, e segue com as viagens ao México, as experiências com "champignons" alucinógenos na travessia do deserto e vai elencando os trabalhos mais icônicos, subversivos e vanguardistas, alguns dos quais Moebius "tremia enquanto fazia, sentindo que havia acertado": Blueberry, Arzach, a revolucionária Metal Hurlànt, Surfista Prateado, Garagem Hermética, O Incal... e as colaborações ao cinema (Tron, Alien, O Quinto Elemento...).
Moebius
Moebius
Todas as fases são amplamente ilustradas, tanto pela obra do artista quanto por belas animações 2 e 3D, cenas dele trabalhando (usando de nanquim a tablet digital!) e fotografias. Todos os elementos estão em constante movimento, surgindo na tela e servindo de ligação entre uma entrevista e outra.
Aliás, a lista de pessoas que falaram sobre Moebius não é extensa, mas é de imensa qualidade. Stan Lee, Alejandro Jodorowsky, H. R. Giger, Jim Lee, Mike Mignola, Dan O´Bannon, Enki Bilal e Phillippe Druillet dizem como foi trabalhar com ele, como Moebius pensa, seus acertos e erros. Bem, apenas Jodorowsky e Druillet falaram dos erros, mas estes são essencialmente pessoais - como quando o ilustrador envolveu-se com o culto esotérico de Appel-Guéry. "É a pior fase dele, eu disse que ele não devia envolver-se com essas coisas", comenta Druillet. "Mas foi importante. Quando ele saiu dessa sua mente estava ainda mais expansiva", completa, milhares de quilômetros longe do primeiro, Jodorowsky.
Particulamente interessante é a seqüência que detalha a colaboração entre Moebius, Jodorowsky, Giger e O´Bannon em Duna, a adaptação para as telas da obra de Frank Herbert que nunca saiu do papel. Hollywood a destruiu. "Tinhamos o dinheiro todo para o filme, todo francês, mas precisávamos de mil salas nos EUA para recuperar o investimento. E eles não quiseram nos deixar entrar no circuito", explica "Jodo", como Moebius o chama. "Agora estou cagando para os Estados Unidos", segue, sensacional.
Filmado em digital - e com trilha do igualmente icônico Ex-Kraftwerk Karl Bartos - Moebius Redux - A Vida em Imagens é cristalino. É arrepiante como as ilustrações do mestre, mesmo ampliadas na telona, não perdem qualidade alguma. Pelo contrário. Vêem-se detalhes e percebe-se como a mídia dos quadrinhos, o papel, é um suporte tão diminuto em escala para tamanho talento. Os álbuns de Moebius deveriam ser impressos em outdoors.