Encerrado neste sábado (24) na Espanha, o Festival de San Sebastián - um dos mais prestigiosos do mundo por aliar experiências autorais e filmes com vocação para cifras altas nas bilheterias – rendeu uma menção honrosa especial para o longa-metragem paulistano Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé. Lotado na seção paralela Horizontes Latinos, cujo prêmio principal foi para o chileno Rara, de Pepa San Martín, o drama de tons cômicos acompanha o encontro de refugiados estrangeiros com um grupo sem teto numa hospedaria abandonada de São Paulo, alternando não-atores e intérpretes experientes como José Dumont. Escalado já para concorrer na Première Brasil do Festival do Rio (6 a 16 de outubro), a produção pilotada por Eliane – realizadora dos premiados Narradores de Javé (2003) e O Sol do Meio-Dia (2009) - recebeu sua honraria no Spanish Coproduction Award.
“Tenho a convicção de que o desajuste social se reflete nos níveis psíquicos mais profundos e gera um imaginário cada vez mais épico, mais tragicômico e que, muitas vezes, faz emergir personagens surpreendentes por suas formas tão particulares de resistência”, diz a cineasta.
De alguma forma, no filme, o hotel do título, o abandonado Cambridge, serve de metáfora para as contradições do mundo contemporâneo, como explica Eliane.
“O hotel no titulo do filme remete ao passado do edifício que, antes de se transformar em um espaço abandonado, sem função social, era um dos mais luxuosos hotéis de São Paulo”, conta a diretora. “O prédio ressuscita quando trabalhadores de baixa renda que fazem parte do movimento da Frente de Luta por Moradia, ocupam a sua área e dignificam sua arquitetura. Ao mesmo tempo, a palavra ‘Hotel’ nos remete a um espaço que não nos pertence, a um lugar de trânsito e que recorda aos moradores que a ocupação é uma estratégia de luta para terem acesso à casa própria, sem estarem em um local definitivo”.
