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Terry Gilliam critica Christopher Nolan, Steven Spielberg, John Williams, Michael Bay...

Diretor deixa claro seu descontentamento com a Hollywood contemporânea

06.12.2011, às 20H37.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H32

Terry Gilliam, cujo último trabalho na direção foi em Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009), falou ao Los Angeles Times sobre seu descontentamento com o cinema comercial contemporâneo. A lista de reclamações inclui Transformers, A Origem e As Aventuras de Tintim.

Terry Gilliam

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Terry Gilliam

Sobre a franquia dirigida por Michael Bay, o diretor reclama da falta de interação do espectador com a trama: "[O terceiro filme] é horrível e tem todas essas coisas fálicas acontecendo. Eu não pude lidar com isso. Por favor, deixe um espaço para mim como público. O público é completamente excluído, você só senta lá e assiste às explosões. Não sabia dizer sobre o que aquele filme era. Boa parte da audiência está feliz em não se envolver. Eles trabalham em um emprego horrível o dia todo e só querem sair e ver um filme. Tudo bem, isso é ótimo. Mas prefiro algo que surpreenda e faça você pensar, sentir e sair [do filme] diferente do que quando você entrou".

Gilliam falou ainda da falta de realismo do filme: "O prédio caindo e tudo, há ótimas imagens, mas como as pessoas escorregam de um prédio desabando sem consequência, sem física? É só anestesiante. O filme leva o público à submissão. Eles são influenciados por videogames, mas pelo menos nos videogames você está imerso, nesses filmes você é deixado de fora. Nesses filmes, seres humanos servem apenas para cair, correr e, de alguma forma, atravessar janelas sem serem cortados em pedaços".

Críticas a Bay não são exclusividade de Gilliam, mas o diretor tem também algumas palavras para ícones como o compositor John Williams - que assina as trilhas dos dois novos filmes de Steven Spielberg, As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra. "Ele é um ótimo músico, mas chega de John. Não é escolha dele, claro, são os diretores que o deixam tomar conta do filme e dizer [com a música] exatamente o que você deve sentir a cada segundo de cada minuto", disse.

As Aventuras de Tintim, no geral, não agradou a Terry Gilliam: "Pode desacelerar por um minuto? Para começar, não há um arco do personagem, e, por último, é apenas 'Vamos, vamos, vamos e esteja pronto para a sequência'. A cena de perseguição é extraordinária, mas é estranho que todos estejam empolgados por ser em um plano-sequência... É um filme de animação! Grande coisa! Li um artigo que dizia que eles tiveram que incluir várias histórias de Tintim ali para embalar tudo, mas na verdade não embalaram nada. Conte apenas uma história e vai devagar para as pessoas respirarem. Acredito que role uma insegurança, porque não se trata mais de fazer filmes como uma montanha-russa, porque ao menos as montanhas-russas desaceleram em algum momento, há mergulhos e tensão".

Ainda assim, Gilliam reconhece o talento de Steven Spielberg, além da sua própria falta de habilidade: "Sempre quis fazer mais com a câmera quando era jovem. Quando comecei a ver as coisas que Spielberg estava fazendo, lembro de pensar, 'Deus, como ele movimenta a câmera assim? Isso é brilhante'. Sei que não posso fazer isso. Não tenho o dinheiro para fazer e, na verdade, não tenho a habilidade. Minhas coisas são realmente velhas, clássicas. Há um plano-geral, um plano-médio e um close. É mais sobre usar justaposição ou sobrepor alguma coisa e deixar as ironias fluirem ali. Para mim sempre foi sobre as ideias. Não é habilidade técnica porque tenho limitação nessa área".

Christopher Nolan encerra a lista de descontentamentos, pela perseguição de carros em O Cavaleiro das Trevas ("aquilo é um videogame") e pelos sonhos nada oníricos em A Origem: "Eu pensava o porquê de todos os sonhos se parecerem como filmes de ação. As pessoas não sonham com outras coisas? E o interessante sobre os filmes [de Nolan] é que eles são assexuados. Talvez seja esse o problema. As mulheres representam o perigo mas ninguém parece estar transando. Na sociedade, de modo geral, temos pornô 24 horas por dia, todo mundo pode se masturbar, mas eu me pergunto por que ninguém mais faz sexo de verdade. São questões que eu me pergunto".

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