Filmes

Notícia

Unsane | Filmado no iPhone de Steven Soderbergh, longa assombra o Festival de Berlim com trama sobre loucura

Protagonista vivida por Claire Foy tem alucinação de ser perseguida por um homem

21.02.2018, às 14H34.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Em 55 anos de vida e 33 de cinema, Steven Soderbergh conquistou a Palma de Ouro por Sexo, Mentiras e Videotape, ganhou o Oscar de melhor diretor por Traffic, emplacou franquias de sucesso e fez, dirigindo ou produzindo, séries de TV e da Netflix com status de cult. Era chegada a hora de ele, sempre antenado com as tendências de sucesso da moda, surfar na atual onda do terror. Daí a presença de Unsane no Festival de Berlim: apresentar ao mundo, a partir do evento alemão, a visão desse premiado cineasta com status autoral sobre as cartilhas do gênero. E uma visão captada num iPhone, em duas semanas de filmagem.

Youtube/Reprodução

"Considero Contágio, que fiz em 2011, o meu primeiro trabalho com terror, embora ele não siga as convenções comuns ao gênero. Já Unsane vai mais pra uma linha de thriller psicológico", disse Soderbergh na Berlinale, feliz ao ouvir analogias entre a trama de seu filme e a recente discussão sobre assédios em Hollywood. "Existe aqui uma personagem que acredita estar sendo stalkeada por uma figura masculina por onde vá. Há uma conexão, embora não consciente".

Previsto para estrear em março, Unsane usa e abusa de enquadramentos inusitados (supercloses ou imagens desfocadas, por exemplo) feitos pelo próprio diretor, que fotografa seus longas sob o pseudônimo de Peter Andrews. "Esse fotógrafo é barato, rápido e não discute comigo. Planejo fazer mais um filme com ele pelo menos", brinca o diretor, em resposta ao Omelete. "A dificuldade do Peter Andrews, ou seja, minha, aqui, foi me adaptar às adequações da câmera do iPhone, adaptando a ela conceitos que usava em película ou câmeras digitais comuns. A verdade é que há cada seis semanas surge uma câmera nova que modifica toda a tecnologia anterior".

Na trama de Unsane, a jovem Swayer (Claire Foy) é internada num sanatório ao procurar uma ajuda bem básica para seu problema: ela anda tendo ilusões persecutórias com um ex-namorado. Vê o sujeito em todo o lugar. Mas o problema não é caso de detenção num manicômio. Ao aceitar participar de um experimento proposto por uma clínica, ela acaba presa, sujeita a toda sorte de loucuras e assombros. O filme foi muito aplaudido na projeção para a imprensa e dispara na lista dos longas de alta voltagem estética da Berlinale.

"Queria investigar o efeito de tirar a identidade de alguém”, diz Soderbebrgh, que ressuscitou a sumida Amy Irving (Carrie, a Estranha e Bossa Nova) no papel da mãe de Sawyer. "Taí uma atriz que reluta muito antes de aceitar um projeto, mas que traz pro set uma energia curiosa de que está sempre começando, apesar de toda a experiência que tem".

"Desastroso" foi a palavra usada entre os críticos para definir a dobradinha de filmes em concurso pelo Urso de Ouro exibida nesta quarta (21) em Berlim, que segue caída de amores por Gus Van Sant e seu Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot. Na prateleira de filmes sem sal em competição no evento foram colocados hoje o alemão My Brother’s Name is Robert and He Is An Idiot e o iraniano Pig. Na contramão da boa safra germânica que vem correndo festivais por aí, a produção dirigida por Philip Gröning esbanja arrogância e carece de humor. A trama fala sobre dois irmãos gêmeos às voltas com papos intermináveis sobre Filosofia (indo de Platão a Martin Heidegger) enquanto tiram sarro da cara alheia. Há um arrojo fotográfico notável, porém, não sobra nada mais. Já a (quase) comédia do Irã, dirigida por Mani Haghighi, alonga-se demais ao narrar as trapalhadas e inquietudes de um cineasta em crise.

Falando de filmes alemães, há um em concurso com bastante prestígio: 3 Days in Quiberon, da cineasta Emily Atef, impressionou a crítica com sua sofisticada fotografia em preto e branco, que pode (e deve) sair daqui laureada com o troféu de Contribuição Artística. Em seu elenco, Marie Bäumer comoveu espectadores ao encarnar atriz austríaca Romy Schneider (1938-1982), de Sissi (1955). O Festival de Berlim termina neste sábado.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.