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Nunca é Tarde para Amar

Comédia com Michelle Pfeiffer e Paul Rudd é uma imensa piada interna

20.09.2007, às 16H50.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H28

Depois de coadjuvar recentemente nos filmes dos amigos Will Ferrell e Judd Apatow, o ator Paul Rudd já pode se arriscar como protagonista. Por sua verve cômica, ainda consegue que os jovens se identifiquem com ele, apesar de já ter 38 anos. Michelle Pfeiffer, ao contrário, não tem mais nada a provar - o que, na lógica distorcida de Hollywood, já é uma espécie de decadência. Aos 49, ela se esforça para sobreviver no meio de garotas que viram estrelas antes de poder comprar bebida sozinhas.

Feitas as apresentações, repare nas coincidências: em Nunca é Tarde Para Amar (I Could Never be Your Woman, 2007), Rudd interpreta Adam, um ator com potencial para ser o próximo Ben Stiller, e Pfeiffer vive Rosie, uma profissional em crise rodeada de gostosas precoces. A comédia de Amy Heckerling (Olha Quem Está Falando, As Patricinhas de Beverly Hills) sobre os bastidores do showbiz hollywoodiano é, basicamente, uma imensa piadinha interna.

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Rosie é a produtora de uma série teen de TV que está com problemas de audiência. Precisa, rápido, de algum elemento que cative os telespectadores adolescentes, antes que derrubem-na e coloquem um reality show no lugar. É aí que aparece o personagem de Rudd. Adam faz teste para viver um nerd estereotipado no seriado e se encaixa como uma luva. É o homem bom em um meio corrompido, aquele que faz piadas com o censor e que não se impressiona com implantes de silicone. Rosie se apaixona por ele já no meio do casting.

Não tem como não se apaixonar - a diretora Heckerling sabe que não há canal mais legítimo com o público hoje do que um bom galã geek, e Paul Rudd se encaixa no perfil com perfeição. Através dele, Nunca é Tarde Para Amar passa então a criticar tudo o que não é "autêntico" na indústria: a jovem estrelinha, o executivo fora da realidade, todos aqueles que estão em Hollywood trocando sexo por uma chance de fama, etc.

O problema é que essa piadinha interna logo passa a lição de moral. Nunca é Tarde Para Amar sobe no salto alto e se proclama a última trincheira da pureza. Não se questiona aqui se Hollywood merece essa lição. O que se questiona é se o filme tem autoridade para aplicá-la. Fica a impressão, o tempo todo, de que Amy Heckerling e os seus roteiristas resolveram fazer um filme para se vingar de seus insensíveis chefes, mas não se preocuparam em refletir se o próprio filme não reproduz a visão estreita que eles criticam.

O melhor exemplo é a constrangedora subtrama da secretária loira que tenta separar o casal protagonista. Nunca é Tarde Para Amar denuncia a estereotipação em Hollywood, mas a reproduz sem a menor autocrítica. Um filme que segue tão descaradamente os clichês do gênero pode dizer que está criticando algo? Nesse sentido, não há nada mais sintomático do que o número que fecha o filme - parodiar cantoras usando a própria música pop. É como aquele comediante que ridiculariza a celebridade, mas sem ela não teria material para fazer rir.

Amy Heckerling já posou de autoridade quando fez As Patricinhas de Beverly Hills, mas pelo menos a comédia de 1995 deixava transparecer algum carinho pelas suas personagens, ao mesmo tempo em que as ridicularizava. No moralista Nunca é Tarde Para Amar, dignidade é privilégio de poucos escolhidos, e para ser tratado como gente a personagem precisa passar no processo de seleção antes.

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