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O Apartamento | Premiado em Cannes, filme iraniano é uma das grandes atrações da Mostra SP

Longa recebeu prêmios de melhor roteiro e ator

21.10.2016, às 17H31.
Atualizada em 28.10.2016, ÀS 00H02

Num (in)formal acordo de cavalheiros entre as duas maiores maratonas cinéfilas do país, o Festival do Rio (encerrado no domingo) trouxe para nós o vencedor da Palma de Ouro de Cannes – Eu, Daniel Blake, de Ken Loach –, e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cuja 40ª edição começou na quarta, ficou encarregado de trazer o longa-metragem mais premiado da Croisette deste ano, considerado por muitos críticos europeus “o” filme do ano: O Apartamento (Forushande), do Irã.

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Na comparação, o evento paulistano saiu melhor ao abraçar o novo trabalho de Asghar Farhadi, diretor do oscarizado A Separação (2011). Com sessão na Mostra nesta sexta, às 17h50, no CineSesc, e neste sábado, às 19h50m, no CineArte 2, este drama iraniano saiu de Cannes como os prêmios de melhor roteiro e ator, dado a Shahad HosseiniNa trama, o professor e também ator Emad (Hosseini) está montando a peça americana A Morte de um Caixeiro Viajante nos palcos de seu país quando sua vida conjugal vira do avesso e ele entra em uma cruzada de vingança.

Pouco se sabe, no Ocidente, da transformação urbana pela qual o Irã vem passando nos últimos anos, expressa por uma nova ordenação arquitetônica de alguns bairros centrais. Tem muita obra acontecendo, num esforço de renovação. Mas isso, que é tido como um sinal de progresso, traz, a reboque, um certo sucateamento do passado, uma certa descartabilidade de espaços... e de valores”, disse Farhadi ao Omelete em Cannes. “Fiz este filme para mostrar que, embora alguns prédios sejam tombados e outros sejam reerguidos, as tradições mais ancestrais ficam intactas, mesmo aquelas que nos cerceiam, ou que levam à intolerância”. 

Encarado hoje como o mais pop dos cineastas do Irã, pelo fenômeno mundial de A Separação (ao faturar US$ 19 milhões nas bilheterias internacionais), Farhadi faz de Emad uma metáfora viva para as contradições de seu país. No enredo, ele começa como um educador progressista que, pouco a pouco, vai afundando em tabus e em preconceitos. Em meio aos ensaios de A Morte de um Caixeiro Viajante, sua mulher é agredida por um homem que invade a casa para onde o casal acabou de se mudar. O local era a casa de uma garota de programa e o agressor era um cliente desta. Para defender sua honra, Emad investiga o caso, sedento de revanche, dando margem para que Farhadi estabeleça uma relação entre cinema, teatro, machismo e convicções culturais.

O desafio do roteiro é trançar o drama pessoal de Emad com o drama do personagem da peça que ele encena: um homem adorado por sua família que não passa de um fracassado”, disse Farhadique ganhou com O Apartamento ainda o prêmio de melhor filme nos festivais de Munique e Amsterdã.

 . “Existe essa cruzada de Emad, de se vingar do homem que arranhou sua honra, ao invadir sua casa, mas existe também uma esposa cujos sentimentos não são levados em conta. O tempo que Emad gasta para satisfazer um ritual cultural do Irã seria um tempo a ser dedicado ao amor e à reconciliação com a mulher que o ama e que se sente só. Neste filme, o intruso só faz revelar as ruínas de uma vida a dois, o que é um tema central para mim, associado aqui á minha paixão de berço: o teatro. Eu estudei dramaturgia querendo ficar nos palcos, mas o cinema me tragou”.

Ocupado neste momento com a produção de um longa na Espanha, feita para o casal Javier Bardem e Penélope Cruz, como uma love story existencial, Farhadi diz que seus filmes carregam um mesmo sintoma: “A violência institucionalizada na vida doméstica é um problema que precisamos entender e superar... e não apenas no Irã”, disse o cineasta, que teve O Apartamento selecionado para representar seu país na corrida por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2017. “Tenho buscado um cinema que estreita as fronteiras entre ficção e documentário pelo enquadramento, pela fotografia, buscando entender melhor o Real”.

O Apartamento será exibido de novo na Mostra de SP no dia 24, no Cinemark Cidade São Paulo, às 21h30m, e no dia 30, às 19h50m, na Cinesala. Também tem cinema brasileiro no festival paulista e a grande atração do evento neste fim de semana inaugural é o épico Guerra do Paraguay, de Luiz Rosemberg Filho, com projeção nesta sexta, às 21h15m, no Espaço Itaú Frei Caneca e no sábado, às 14h, no Reserva Cultural, com uma última sessão dia 27, às 18h10, também ali no Frei Caneca. No elenco estão Patrícia Niedermeier, Ana Abott, Alexandre Dacosta e Chico Diaz.

Em sua trama, a Guerra do Paraguai chegou ao fim e os trapos humanos que dela sobreviveram contam os saldos do conflito para entender se a luta valeu a pena e se há ainda alguma luz a iluminar o túnel de possibilidades políticas à frente deles. Não por acaso, o cineasta escolheu filmar em preto e branco: no furor do combate, tudo é monocromático, tudo é sangue, tudo é ódio.

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