Lúcia Murat está fazendo filmes há quarenta anos - e muita coisa mudou nesse tempo. Em entrevista ao Omelete, a cineasta falou sobre a representatividade feminina atrás das câmeras no cinema brasileiro, e brincou sobre como o seu passado de guerrilheira na ditadura militar (ela foi presa e torturada pelo regime, no final dos anos 1960) a ajudou a “manter o controle” de sets de filmagem dominados por homens.
“Quando eu comecei, a equipe inteira era masculina, então eu tive que me impor muito”, apontou ela. “Como eu tinha uma história de vida meio barra pesada, acho que as pessoas me respeitavam mais... mas, em troca, eu não podia fazer muita gracinha, não podia rir muito. Tinha que manter uma figura de pessoa séria, e isso é chato!”.
Um momento emblemático das mudanças sentidas nesse sistema, contou a cineasta, foi a preparação para Praça Paris, longa que lançou em 2017. “Hoje em dia é outra história. Lembro que, quando a gente fez a primeira reunião com todos os chefes de departamento de Praça Paris, só tinha mulher! Foi uma farra”, brincou.
“Então, o ponto é que não são só mais mulheres na direção, no roteiro, mas muito mais mulheres na equipe - e isso muda muito o filme”, disse ainda. “Cinema é um trabalho coletivo, sobre um grupo de pessoas que se une para pensar juntas sobre uma história. E o olhar das mulheres que estão na equipe faz a diferença, é importante tê-las ali, e precisamos continuar brigando para que esses números aumentem”.
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O Mensageiro, novo filme de Murat, retrata a prisão e tortura da ativista política Vera (Valentina Herszage) pela ditadura militar, e a busca desesperada da mãe, Maria (Georgette Fadel), pela jovem. Quando um soldado, Armando (Shi Menegat), decide ajudar levando uma mensagem clandestina para a família, a sorte da jovem começa a mudar.
O longa já está em cartaz nos cinemas brasileiros.
