Aeroportos são cenários freqüentes para as cenas finais de filmes românticos, principalmente as tão costumeiras comédias românticas que abundam nos cinemas atualmente. É abraço para cá, beijo para lá, lágrimas escorrendo na tela e, claro, também na platéia. Quem já foi se despedir ou recuperar alguém muito querido no aeroporto sabe como aquele ambiente pode lubrificar os olhos.
Os roteiristas Sacha Gervasi e Jeff Nathanson resolveram mudar esta história e fazer um filme inteiro dentro de um terminal do movimentadíssimo aeroporto JFK, de Nova York.
O Terminal
O Terminal
O Terminal
O longa-metragem gira em torno de Viktor Navorski (Tom Hanks), que chega da Krakozia, fictício país do leste europeu, e não consegue visto para sair do aeroporto e visitar a Big Apple. Como ele não fala muito mais do que duas palavras em inglês, demora a entender que seu país sofreu um golpe de Estado e deixou de existir, o que torna seu passaporte um pedaço de papel sem valor algum para os burocráticos funcionários da imigração norte-americana. Sem poder entrar, nem ter como voltar para casa, Viktor está condenado a passar dias e mais dias confinado no JFK.
A idéia rende ótimas piadas e situações, mas não é assim tão absurda quanto parece. Bom, na verdade, é, mas o iraniano Merhan Karimi Nasseri disse ao jornal New York Times que há 16 anos vive no aeroporto francês Roissy-Charles de Gaule e jura de pés juntos que é a inspiração para o filme. Segundo a reportagem, Nasseri estudou no exterior e voltou a Teerã, onde foi preso por participar de manifestações e enviado de volta à Europa. A notícia chegou à mídia quando ele tentava conseguir novos documentos, e Hollywood não demorou a literalmente comprar sua história. De acordo com seu depoimento, a Dreamworks (estúdio do qual Spielberg é sócio) entrou em contato com ele em 1999 e pagou nada menos que 300 mil dólares.
Pelo mar ou pelo ar
O Terminal (The Terminal - 2004) não chega a ser um monólogo como foi O Náufrago (Cast Away - 2000), mas Tom Hanks prova mais uma vez que é um excelente ator. Não apenas o seu sotaque está ótimo, mas ele coloca no olhar de Viktor a mesma ingenuidade que tinha Josh, o menino que quer e consegue virar um adulto em Quero ser grande (Big, 1988). Viktor está o tempo todo descobrindo a sobreviver em sua nova casa. A cada novo dia, ele soma novas palavras ao seu vocabulário, se vira para conseguir comida e lugar para dormir.
E assim, se o filme poderia muito bem ser um dramalhão sobre as dificuldades impostas por leis cegas, nas mãos "pipoqueiras" de Spielberg, ele acaba virando uma divertida desculpa para ir ao cinema dar descompromissadas risadas. As marcas do diretor vão aparecendo de acordo com o desenrolar da história. Estão lá a trilha sonora do maestro John Williams e a montagem precisa de Michael Kahn, que dão à fita o passo certo para as mais de duas horas passarem sem pesar nas costas. Comparando com outros filmes recentes do cineasta, é possível ver os mesmos merchandisings que chamaram muita atenção em Minority report e, de uma forma bem mais discreta, nas notas de "Strangers in the night", de Frank Sinatra, que em Prenda-me se for capaz cantarolava "Come fly with me".
Mas o que mais salta aos olhos é o gigantesco cenário montado para mimetizar o aeroporto nova-iorquino. Como seria impossível filmar por vários dias in loco, o Desenhista de Produção Alex McDowell usou cimento, metais, madeira e muito vidro para construir tudo aquilo de verdade, sem a utilização dos fundos verdes (ou azuis) e os pixels que são cada vez mais comuns. E há uma explicação para tanto esmero: o aeroporto é mais do que a jaula sem barras onde Viktor está preso. Ali, está representado um microcosmo dos Estados Unidos, que vai desde o "sonho americano", que dá chances de sobrevivência a todos, até a multietnia de seus funcionários. Estão representados ali o indiano que cuida da limpeza (Kumar Pallana), o negro encarregado de colocar as malas na esteira (Chi McBride) e o latin-lover que carrega as comidas de um lado para o outro (Diego Luna, de E tua mãe também).
Outros exemplos de pessoas que passam seus dias em aeroportos são personificados por Catherine Zeta-Jones e Stanley Tucci. A sra. Michael Douglas está linda como sempre no papel de uma comissária de bordo que tem um sério problema com homens, principalmente os casados. E Tucci é o que chega mais perto de um vilão neste açucarado longa. Ele é o um manda-chuva do aeroporto, que está muito perto de conseguir a promoção de sua vida, mas para tal vai ter que mostrar serviço e se livrar de Viktor.
Que há vários furos no roteiro (Viktor é o único do vôo que não consegue visto? Impossível aprender inglês tão bem tão rapidamente, etc.), não há dúvidas. Mas com O terminal, o que aprendemos é que se você vai ter que ficar muito tempo esperando em um aeroporto (ou rodoviária, ou qualquer outro lugar), o jeito é arranjar algo para fazer. E como se divertir é sempre uma ótima opção, afrouxe os cintos e boa viagem!