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Entrevista

Omelete Entrevista Daniel Craig

O sexto James Bond fala sobre o título do filme, vingança, as cenas de ação e a pressão de ser o 007

07.11.2008, às 00H00.
Atualizada em 05.12.2016, ÀS 19H59

E aí, podemos começar perguntando o que é isso no seu braço?

Daniel Craig: Não [risos]. Tenho esse problema no ombro há algum tempo e acho que esses dois filmes como Bond ajudaram a piorar a situação. No meio das filmagens começou a doer muito. Por causa da possibilidade da greve dos atores, nós tínhamos um prazo para terminar o filme, se não terminássemos estaríamos ferrados, então eu fui ver um médico e ele me disse "Ok, você pode voltar lá e se quebrar mais um pouco, mas assim que tiver um descanso você volta aqui." E seis semanas atrás eu caí na faca e agora tenho que ficar nessa posição por mais um tempo.

Quantum of Solace

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É impressão minha ou é você mesmo fazendo quase todas as cenas de ação? Este filme foi mesmo mais pesado, do ponto de vista físico?

Sabe, aprendemos muito quando fizemos Cassino Royale. Eu com certeza aprendi e a equipe de dublês também aprendeu quais são os meus limites, até aonde eu poderia ir. Acho que estamos ficando bons nesse negócio de fazer minha cara aparecer mais. Trabalhava intensamente com uns quatro ou cinco caras muito talentosos, lutadores, ginastas, acrobatas. E, por sorte, eles eram muito parecidos comigo. Eu tentei ficar tão bem fisicamente quanto eles - e os caras são muito bem preparados - e daí fiz o máximo de cenas possível, mostrando para o público que era eu mesmo. É isso o que queríamos. Não quero que os espectadores que estão vendo uma cena de ação fiquem pensando "Ih, nem é ele."

As cenas de ação neste filme me pareceram muito mais perigosas do que no anterior, principalmente por causa de todo o fogo na seqüência final. Teve alguma cena que te botou medo?

Não. Com medo, não. Tremia um pouco, mas é mais pelo nervosismo de fazer a coisa da melhor maneira possível, principalmente porque só quero fazer essas coisas uma vez. Se vou ter que pular de um telhado para o outro, que seja uma vez só. É isso que eu coloco na minha cabeça. Nós ensaiamos muito e no caso da seqüência com fogo, nós fomos até um lugar em que estávamos totalmente seguros, com roupas à prova de fogo e chegamos o mais perto possível das chamas, para que fôssemos nos acostumando ao calor. Estávamos cobertos de um tipo de gel que retarda as chamas e usei até mãos de borracha porque ia quebrando as coisas no meu caminho. E claro que o tempo todo tem bombeiros ao seu redor, que esperamos jamais tenham de trabalhar [risos]

Imagino que você tenha visto os outros filmes da série quando era moleque. Quando se tornou o Bond, havia coisas lá que você queria manter e outras que você gostaria de mudar?

Mark e eu tivemos muitas conversas longuíssimas quando começamos a fazer esse filme. Somos grandes fãs dos Bonds antigos, aqueles criados nos anos 60, porque eles tiveram uma influência direta no cinema. Uma das grandes mudanças que os filmes do 007 trouxeram foi rodar nas locações. Isso era algo raro naquela época. O mais comum em Hollywood era fazer nos estúdios, construindo por lá lindos cenários, mas daí quando você via o Bond no Japão, ele estava no Japão de verdade. E era isso que nós queríamos fazer neste filme, criar esse sentimento que te transporta para os lugares. E ainda adicionar um pouco do estilo que eles desenvolveram lá atrás. O clima daqueles longas eram estilizados. Você pode dizer que agora estamos pegando pesado na realidade, mas acho que este Bond é bastante estilizado e adoro o fato de que isso remete àquela passado.

Falando das locações, imagino que haja muitos lugares que você gostaria de ir. Você pode citar alguns.

Por causa da facilidade que é viajar hoje em dia, há poucos lugares que as pessoas ainda não conheçam. O que nós tentamos fazer neste filme foi escolher lugares onde as pessoas normalmente não vão a turismo e fingir que estávamos lá, que é o que acontece com o Panamá que serviu de cenário para o Haiti e vários lugares da América do Sul.

Voltando à sua pergunta, eu consigo listar dez lugares que eu gostaria de ir. Mas pensar em dez lugares para levar uma aventura do 007 é algo completamente diferente porque envolve toda uma logística. Mas se tivéssemos ido para a África seria ótimo. A Ásia também é linda. Adoraria ter ir para a China ou Hong Kong, isso seria fantástico.

Você já falou em outras ocasiões que este filme é o desfecho da aventura anterior, mas já tem gente dizendo que ele se parece mais como a segunda parte de uma trilogia. É possível que os temas destes dois primeiros filmes levem a um terceiro ou vocês imaginam o próximo como algo completamente diferente?

Eu acho que fechamos a história. Acabamos com as pontas soltas que eu pessoalmente gostaria de acabar, que é a história da Vesper, e também solidificamos as relações que são importantes, como o Felix e a M, deixando claro onde é o lugar deles neste mundo. Agora acho que temos um universo estabelecido onde podemos fazer o que quer apareça nas nossas cabeças. E eu acho isso extremamente animador.

Na minha cabeça não há trilogia porque devemos fazer algo diferente agora. Sejamos sinceros [risos] nós sabemos que temos muito a explorar. Tem a Moneypenny, tem o Q e vários outros personagens que podemos pensar em trazer.

Meus instintos sempre estiveram om essas pessoas que têm perguntado onde estão Q e Moneypenny. Mas é preciso dar esses papéis para bons atores, se você der pra qualquer um, mostrar como era o personagem e perguntar se consegue fazer igual, não tem a menor graça. Eu quero reinventar esses personagens e é por isso que eu adoraria, se tivermos a oportunidade de fazer mais um filme, de ver pessoas muito talentosas nesses papéis.

Você acha que os ternos do Tom Ford ajudaram a te dar o visual do Bond?

Ele é um alfaiate clássico-moderno. Eu não sou grande entendido no assunto, mas sei que quando você coloca um bom terno você se sente bem. E tinha algo nessa coleção que ele criou que eu acho que encaixa perfeitamente nesse Bond, Essa é a minha opinião. Ele trabalha com linhas clássicas, mas sempre enxaixa um detalhe que faz toda a diferença.

É divertido destruí-los?

É uma pena. Algo muito triste mesmo.

Quando ferido - ou magoado - o Bond não deixa isso barato. E você?

Ele deixa. Acho que ele deixa. Esse é um erro. Tem muita gente achando que neste filme ele é movido pela vingança, mas não é. Está tudo no título, Quantum Of Solace [que nós aqui no Omelete traduziríamos como "A medida do sofrimento"]. É isso que ele está procurando. Ele só faz o seu trabalho. Ele não está atrás de uma vingança. Ele pode estar um pouquinho mais bravo do que antes [risos] mas é meio que por aí mesmo. O que conta é que no final ele tem a chance de pegar o cara - não os chefes - que é o verdadeiro responsável por acabar com o amor da sua vida e ele diz não.

Tá, mas e você, perdoa?

Não acredito em vingança.

Você chegou para este filme mais confiante depois do sucesso do trabalho anterior?

Não. Olhando para trás, parece até que estou inventando isso, mas superei isso há muito tempo. Toda essa pressão passou quando estávamos nas Bahamas filmando Cassino Royale. Nós tínhamos um bom filme. Quero dizer, a equipe era boa, tínhamos bons atores, um bom diretor. Naquele momento, não há mais nada que você possa fazer para melhorar as coisas. Então, toda a pressão que existia, eu simplesmente deixei de lado. Quando chegamos à premiere em Londres, as pessoas me perguntavam se eu estava me sentindo vingado por tudo o que disseram antes e a verdade é que eu não estava sentindo nada. [risos]

Eu acho que temos um grande filme. Eu não tenho motivos para dar para trás. Nunca quis me envolver nesse tipo de discurso, mas temos as mesmas pressões. Talvez de uma maneira diferente já que estamos vindo de um sucesso. Graças a deus que isso está acontecendo. Já imaginou como seria isso aqui se fosse o contrário? É óbvio que a pressão é diferente, mas ela existe. É um filme de 200 milhões de dólares. Não dá para imaginar uma coisa desse tamanho sem uma pressão em cima.

Tenho uma curiosidade, quando você está em um set de filme como este há espaço para improvisação ou é tudo milimetricamente estruturado?

Tem muita improvisação. Muita mesmo. Digo, claro que os pulos que eu dou não são improvisados [risos] Se eu for pro lado errado vou ahhhh! [como se estivesse caindo - mais gargalhadas] Isso ia ferrar tudo, mas tem alguns diálogos que você muda uma fala meio que sem pensar. Não sou Robert DeNiro, acredite, não vou pirando a cada take. Mas se estou fazendo três ou quatro tomadas acabo mudando uma fala de vez em quando até para ficar mais fluido, sabe?

Este papel é incrível, mas cobra seu preço já que demanda muito do seu tempo. Sobra espaço para outras coisas que você realmente quer fazer?

Eu fiz outros filmes desde que terminei o último 007: um pequeno chamado Flashbacks of a Fool que saiu [nos Estados Unidos] há alguns dias sem fazer muito barulho e um outro chamado Defiance, que será lançado no fim do ano. Eu continuo lendo roteiros. Bons scripts são difíceis de se encontrar, então você tem de ficar o tempo todo procurando por eles.

Você falou de Defiance, que algumas pessoas acreditam ter cheiro de Oscar. Para quem não conhece a história, você pode falar um pouco do seu papel e como foi trabalhar com Edward Zwick (Diamante de Sangue, O Último Samurai)?

Foi ótimo. Ed me mostrou o roteiro dizendo que é um história pouco conhecida ambientada na Bielo-Rússia durante a Segunda Guerra Mundial sobre quatro irmãos que organizam uma resistência contra o exército alemão e também contra a população local que está ajudando os nazistas. Existe essa floresta entre a Bielo-Rússia e Lithuânia que é enorme e impenetrável até hoje. Eles entram lá e armam atos de vingança e então formam uma sociedade e sobrevivem quatro anos e salvam 1500 pessoas, criam escolas, sinagogas, fábricas. É uma ótima história e ele me mostrou e convidou para ser um dos irmãos e eu aceitei.

Com um tema desses você deve ter feito muita pesquisa para se preparar para o papel. Como você trata um projeto desses, como é o seu processo?

Na verdade, trato todos da mesma forma. Se tem pesquisa a ser feita, eu vou trabalhar. Se não tem, vou para o pub. [risos]

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