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Entrevista

Omelete entrevista diretor e elenco de Zuzu Angel

Omelete entrevista diretor e elenco de Zuzu Angel

07.08.2006, às 00H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 12H04

Zuzu Angel

Brasil, 2006
Drama - 110 min

Direção: Sérgio Rezende
Roteiro: Marcos Bernstein e Sérgio Rezende

Elenco: Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Luana Piovani, Leandra Leal, Alexandre Borges, Ângela Vieira, Ângela Leal, Flávio Bauraqui, Paulo Betti, Nélson Dantas, Regiane Alves, Fernanda de Freitas, Caio Junqueira


"A arte é livre. Pode falar sobre beleza ou política. É um veículo aberto. Não há obrigatoriedade de se levantar bandeiras". É isso o que diz Patrícia Pillar ao ser questionada sobre o tema do filme Zuzu Angel, que conta a história da famosa estilista brasileira que teve seu filho, Stuart, torturado e morto pela ditadura. "Eu conhecia a história do Stuart como o menino do MR8 que havia sido assassinado, mas não tinha noção correta do ocorrido. Acho que a nossa história é contada pelos vitoriosos", comenta. Por isso, a atriz acredita que o filme tem o papel de repassar e compartilhar essas memórias - mesmo que dolorosas. Quanto a fazer o papel de Zuzu, Patrícia fala, rindo: "O Sérgio me ligou perguntando se era da casa de Zuzu Angel". Estava feito o convite. "Eu encarei o trabalho como um grande quebra-cabeça, eu quis esquadrinhar cada pedaço", explica a atriz, que chegou a estudar a letra de Zuzu antes de começar a filmar. "Era necessário ter total confiança", completa.

Segundo o diretor, Sérgio Rezende, todo o elenco compartilhou essa necessidade de adquirir consciência da história. Todos se reuniam para fazer leituras do roteiro. "Só assim a Luana encontraria o Daniel [de Oliveira]", contando sobre a atriz que no filme representa Elke Maravilha, modelo e amiga de Zuzu, mas que não chegou a conhecer Stuart. O diretor confessa que muito do filme é licença poética, e que algumas cenas de violência eram necessárias, mas que evitou explorar muito esse lado. "O sofrimento não está só nas cenas de tortura, mas também no momento em que Zuzu descobre o que aconteceu com seu filho, por exemplo", citando os momentos de quase alucinação de uma mãe.

Rezende já havia dirigido outros filmes sobre personagens políticos, como Lamarca e Mauá. No caso de Zuzu, foi um convite feito pelo produtor Joaquim Vaz de Carvalho e aceitado imediatamente. "Não é que eu goste de falar de política. O que me fascina são os aventureiros", justifica. "Acho que a história de Zuzu poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo; eu a vejo como uma Antígona", completa. A semelhança entre a estilista e a personagem da mitologia é citada por todo o elenco.

"Teve um período em que a Zuzu assustava um pouco as pessoas", conta Elke, lembrando-se dos momentos em que a estilista chegou a parar pessoas na rua para contar o drama de seu filho. "Eu dizia que ela ia acabar morrendo, mas ela respondia que já estava morta", emociona-se. Por ter presenciado tais cenas, Elke contribuiu bastante com detalhes do filme. Seu contato com o diretor acabou lhe rendendo um convite para fazer uma ponta no filme. "O Sérgio me viu cantando uma música de guerra alemã, gostou e me colocou no filme", explica. O resultado é um momento interessante em que as duas "Elkes" se encontram no filme. Elke acredita que o Brasil deveria ter mais gente corajosa como Zuzu Angel, "Tanto na moda como em qualquer outro lugar". A atriz, que costuma ser bastante sorridente, chegou a chorar em alguns momentos da entrevista, mas diz acreditar que a morte da amiga foi uma redenção para a mesma.

Luana Piovani, que vive Elke no filme, é só elogios para a nova amiga, que chama de "ser humano consciente". Ela diz ainda que seu sentimento em relação à sociedade mudou depois de ter feito o filme e confessa: "Sempre fui meio alienada, não fui universitária, essas coisas. O filme me ajudou a conhecer um pouco mais dessa história. O Brasil precisa saber quem foi Zuzu, porque assim como eu era [alienada], muita gente é".

Outros jovens atores do elenco, Daniel de Oliveira e Leandra Leal, não compartilham o mesmo sentimento de despertar de Luana. O papel de Stuart Angel é o terceiro personagem real e mais politizado de Daniel. Ele já foi Cazuza e acabou de filmar Batismo de Sangue, em que vive Frei Beto. "Para mim foi simples, eu já estava no clima. Stuart eu até achei mais fácil de fazer, pois como não era um personagem público, dava mais liberdade para compor". Já Leandra Leal, que faz o papel de Sônia, a mulher e companheira de causa de Stuart, conta que quando criança costumava ouvir a mãe falar da história de Zuzu, e diz ter feito o filme pensando em sua colega de profissão Beth Mendes, militante esquerdista que foi torturada pela ditadura na década de 1970. "Acho muito importante falar de ditadura. É a nossa história", afirma. A dupla Daniel e Leandra ainda concorda quando questionada se compartilham com alguns jovens o desejo que têm de ter vivido naquela época. Um convicto "Eu não" foi a resposta de Leandra. Daniel ainda complementa: "Em ficção é ótimo, mas eu gosto de ouvir corta".

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