Dame Julie Andrews estava ali, do meu lado. Alguns a conhecem como Mary Poppins. Os fãs de musicais não esquecem dela em A Noviça Rebelde. Atualmente, ele é mais conhecida no cinema por papéis reais. Em Diário de uma Princesa, ela era a Rainha de Genóvia, a avó de Anne Hathaway. Já longe dos dias em que vivia exclusivamente da sua bela voz, ela voltou ao ramo da dublagem (sua carreira com os filmes começou em 1949, em La Rosa di Bagdad, no qual dublou a Princesa Zeila na versão inglesa da animação). Em Shrek 2 ela se tornou a Rainha Lilian, soberana do Reino de Muito Muito Distante, papel que ela retoma agora, em Shrek Terceiro. O papo, porém, foi muito além dos seus trabalhos em Hollywood, chegando até ao estudo das células tronco.
Julie Andrews: Quem já esteve por aqui antes de mim?
Chris Miller.
Ele é um querido...
E então, como vão as coisas?
Ótimo! Tudo está indo muito bem, as pessoas estão nos recebendo muito bem, com bastante entusiasmo, cordialmente. Como poderia ser melhor?
A senhora gostou do filme?
Sim. Vocês já assistiram?
Sim.
Ontem à noite, lá no Teatro Chinês? Não é divertido? É muito engraçado! É um filme delicioso!
Foi divertido também fazê-lo?
Fazê-lo é diferente. Nós não trabalhamos juntos. Cada um grava suas falas separadamente em um pequena cabine, na esperança de que aquilo que você está dando para eles seja o que eles precisam. Todo mundo com quem trabalhei é muito inteligente, pessoas descoladas, e ao mesmo tempo eles conseguiram uma ótima mensagem positiva que serve para qualquer época. Como eu poderia não gostar?
A senhora ainda se surpreende com a qualidade técnica que se consegue hoje em Hollywood?
Sim, eu ainda me surpreendo! Eu achava que do ponto de vista da digitalização, eles já tinham chegado a um limite, mas a qualidade deste filme é inacreditável. Eu achava que só eu pensava assim, mas várias pessoas têm dito a mesma coisa. A luminosidade que eles conseguem criar, a qualidade das roupas dos personagens... eu acho que deram um grande salto com este filme.
E o que acha disso?
Eu adoro! É tudo o que deveria ser. Nós não deveríamos nos tornar cada vez melhor?
E acha que nós estamos melhorando?
Bom, em alguns assuntos nós estamos. Nos lugares onde as pessoas se interessam, você pode ver que estamos. Claro que há filmes ruins, baratos, e um pouco depende de quanto você pode gastar. No caso do Shrek, acho que eles estão tentando e conseguindo fazer um filme icônico que vai marcar uma época.
Falando um pouco de seqüências. A senhora faria uma continuação para Mary Poppins?
Acho que eu seria um pouco velha para o papel, mas se eles a deixassem um pouco mais velha, sim. (risos) Mas isso não vai acontecer.
Isso poderia acontecer. Nunca se sabe.
Nos dias atuais, é meio difícil. Mas o que já foi feito é transportar Mary Poppins para um musical. Eu já vi em Londres, não tive tempo de ver na Broadway ainda... [Mary Poppins] é uma coisa que vem crescendo e continua viva. E, de novo, isso é porque era bom desde o começo. E tudo o que é bom de verdade, deveria continuar vivo.
A senhora deve ter vários fãs bem novos, principalmente depois de Shrek e O Diário da Princesa...
Minha neta acha que a vovó é maravilhosa! Principalmente depois de Shrek. Eles adoram o filme!
O que essa geração de fãs diz quanto a encontra?
Para início de conversa, é ótimo quando elas falam "eu achei você o máximo no filme". Diário da Princesa era o filme da Anne [Hathaway, a estrela do filme] e tenho certeza que falavam isso para ela também, mas o fato das pessoas terem notado que essa rainha era divertida, é ótimo.
Eu estou chegando agora de dois dias de promoção do meu novo livro infantil e o que eu realmente adoro é quando as pessoas chegam e dizem "seu livro foi o meu preferido quando eu era criança. Foi ele que me incentivou a ler mais." Isso é muito especial. É algo que você não espera, mas é maravilhoso quando acontece.
Ler é muito importante...
Extremamente importante! Eu acho que devemos começar a ler para as crianças desde pequenos. Quanto antes melhor.
A senhora não acha que a leitura é um problema nos Estados Unidos?
[Dando um gole no seu chá] Dizem que é. Mas quando estou autografando meus livros, parece que não, por que parece que muita gente conhece os livros. Acho que os pais que podem e se preocupam en incentivar a leitura. Sei que tem muitos que não ligam para isso, mas é muito importante que nós continuemos falando sobre isso. Acho que temos que repetir o máximo de vezes possível que se você lê para uma criança desde que ela é um bebê, mesmo que ela não entenda as palavras, e você mostra os desenhos com seu dedo, elas vão conseguir melhores notas na escola, vão aprender mais rápido. Ninguém discute isso, então como pode não ser importante? O problema dos dias de hoje é que com a mídia eletrônica está dominando e tomando o lugar da leitura. E isso é ruim.
Por mídia eletrônica, a senhora quer dizer...
Jogos, TV... eles também são válidos, mas não podem tomar o espaço da leitura.
Se lhe permitissem ser a presidente dos Estados Unidos por uma semana, o que faria?
Uma semana? Não sei se sobreviveria um dia! (risos)
Mas o que a senhora mudaria?
Se fosse possível fazer isso em um passe de mágica, várias coisas. Acho que por me preocupar tanto com a educação, eu pagaria melhor os professores, para que eles pudessem ensinar os meus filhos e filhos dos outros. Médicos e enfermeiras também. Todos os trabalhos em que pessoas dão tanto duro e não recebem o suficiente. Além da paz e todo o problema ambiental, que cada vez mais vem ganhando importância.
Finalmente!
Finalmente! Todos nós sabíamos, mas nos sentíamos impotentes. Mas o que vem acontecendo vem acelerando as coisas. Espero que não seja tarde demais, mas ao menos estamos tomando mais consciência.
E se você fosse uma rainha, você seria tão humana e bem humorada quanto a mãe da Fiona?
Eu espero que sim! Ela é uma ótima pessoa e tem a cabeça no lugar.
Uma cabeça muito boa! E forte!
(risos) Sim, muito boa e forte! (risos) Fico pensando quanto remédio para dor de cabeça ela toma por dia. (risos) Eu acho que seria, mas é um desafio e tanto comandar um país.
A senhora se vê como um modelo para as crianças?
Parece que eu sou. E eu tento não desapontá-las. Acho até que já fui mais.
Quanto netos a senhora tem?
Sete netos. Ao todo, tenho cinco filhos, sete netos e dois bisnetos.
E como dá para ser atriz, escritora e cuidar das crianças?
Eu tenho de dizer que qualquer um que cuida da sua carreira e cuida da sua família tem a minha admiração porque é um trabalho muito difícil. Para mim, desde que minha família estivesse bem, que eu achacesse que todos estavam seguros, com saúde e tudo bem, eu conseguia fazer o que eu gostava de fazer, que era trabalhar. Mas se minha antena captava algo errado, ficava muito difícil de fazer minhas coisas. É muito difícil estar longe de casa em situações como estas. Até uns 12 anos, eu tentava levá-los comigo para onde eu ia, pois não acho que até essa idade eles precisavam estar todos os dias na escola. Depois disso, acho que eles já tinham que ter uma educação mais regrada.
E deu certo? Como a senhora vê sua vida?
Eu dei muita sorte! Mais do que muita gente. Não sei porque, mas tive.
E imagino que neste caminho também teve várias dúvidas, do tipo, será que estou fazendo a coisa certa...
Constantemente! Especialmente na minha juventude. Eu sempre trabalhei, desde que era muito nova. Eu me perguntava se aquilo ia me servir para alguma coisa. Eu não sei o que você acha, mas na minha opinão, nada é um completo desperdício. Qualquer coisa que você faça eventualmente pode lhe ser útil. Eu me lembro dos dias que fazia teatro de Veaudeville ao redor da Inglaterra e ficava me perguntando o que estava ganhando com aquilo, mas eu estava aprendendo a lidar como público e 20 anos depois, eu fiz Mary Poppins.
O que a motivava e o que a motiva ainda hoje?
Naqueles dias, eu tinha de ganhar dinheiro para mim e minha família, nós éramos muito pobres. Eu fazia o que sabia fazer. Cantar era tudo o que eu sabia fazer. Eu tinha uma voz diferente e que com o treinamento fui percebendo o dom que tinha. Mas isso não é tudo. Não é só cantar. É também ver o que as pessoas estão se sentindo bem por duas horas enquanto elas estão te ouvindo. Esta foi a maior experiência.
E hoje em dia?
Hoje é uma doação mesmo. A diversão e alegria de me doar. Estou aprendendo como gerenciar minha editora. Estou aprendendo um pouquinho a escrever. Estou aprendendo muita coisa e, como eu disse, usando tudo o que já passei. Aprendendo até mesmo que a idade não é uma coisa ruim. Não estou dizendo que é perfeito, pois nunca é, mas é algo bastante especial.
Falando de aprendizado... como a senhora lida com a tecnologia que temos hoje, a internet e tudo mais?
Estou me esforçando bastante. Eu me dou muito bem com meu e-mail (risos). Mas fico catando milho na hora de digitar. Quando estou escrevendo o livro com minha filha, ela mora em Nova York e eu aqui [em Los Angeles] e quando podemos nos reunimos, porque esta é a melhor forma, mas quando não dá nós usamos webcam. E assim trabalhamos online por umas 3 horas. E que bom que temos todas essas ferramentas de procura hoje. Minha autobiografia não ficaria tão apurada se não tivesse tudo isso.
E a pesquisa de células tronco e os novos aspectos biológicos?
Sou a favor. Coincidentemente, um dos meus livros infantis é sobre um professor de genética que é convidado a ajudar na construção de uma nova criatura. E ele diz "Você não quer brincar de ser Deus, você que apenas ajudar." Então, desde que estes estudos não sejam usados para fazer nada errado, desde que hajam objetivos definidos, acho que seria algo muito bom, que ajudaria bastante.
O progresso não é inevitável? Não é para isso que estamos aqui? Nós já estamos aqui há tanto tempo... por que deveríamos parar agora? Acho que este é o caminho que deveríamos seguir. Isso está ficando muito sério! (risos) Vamos falar de Shrek!
Não deu tempo. Neste momento a assessora entrou na sala para avisar que o tempo tinha acabado...
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