Durante uma das festas da Comic-Con 2007 conheci o diretor de filmes de terror Tim Sullivan. Cineasta de produções inspiradas pelo gore divertido, na linha dos primeiros trabalhos de Peter Jackson e Sam Raimi, Sullivan mostrou-se interessado pelo lançamento em DVD no Brasil de 2001 Maníacos, seu primeiro longa-metragem.
Fiquei devendo a ele uma resposta - só conhecia o filme de nome e não sabia se tinha sido lançado por aqui - e esqueci completamente o assunto (o dia inteiro sem comer e duas cervejas fazem miséria com a memória). Mas semanas mais tarde, quando recebi um e-mail dele divulgando um evento (que escolherá a banda de abertura de seu próximo filme), lembrei da história toda - e saí atrás do DVD. O filme realmente foi lançado aqui, pela Califórnia Filmes, e mandei a capa e informações a Tim.
Seguiu-se então uma troca de e-mails sobre os projetos vindouros do cineasta - incluindo a continuação de 2001 Maníacos, um novo terror e outros... incluindo a adaptação para os quadrinhos de 2001 Maníacos, que ele escreveu e sai agora pela Avatar Press nos EUA. O papo acabou virando entrevista - que você lê agora.
Mas antes da conversa, vale comentar brevemente o longa de estréia do diretor, uma refilmagem de um terror de 1964. Na trama, durante a Guerra da Secessão estadunidense, uma pequena vila sulista foi apagada do mapa pelo exército ianque. 2001 pessoas foram exterminadas... mas seu desejo de vingança não os deixa descansar. A cada aniversário do massacre, os fantasmas de Pleasant Valley voltam à vida para dar a alguns desavisados ianques um gostinho do seu próprio remédio. Robert Englund, o eterno Freddy Krueger, vive o prefeito da cidade, Buckman. O longa pode ser facilmente encontrado em DVD no Brasil.
Em novembro, Tim lança Driftwood, seu novo filme. Nele, um jovem torna-se obecado com a morte depois de perder seu irmão mais velho, um astro do rock. Ele é enviado pelos pais, então, para um centro para jovens perturbados, controlado pelo sádico Capitão Doug Kennedy (Diamond Dallas Page). No local, o garoto passa a ser assombrado pelo espírito de um paciente da instituição - alguém cujo mistério pode ser a única maneira dele sair desse lugar.
Depois de Driftwood, Tim começa a filmar a continuação 2001 Maniacs: Beverly Hellbillys. Depois, em maio do ano que vem, inicia um filme de vampiros intitulado Brothers of the Blood (sobre esse ele não conta coisa alguma...), com o jovem ator Thomas Dekker (Heroes, The Sarah Connor Chronicles). E tem ainda um outro projeto sobre o qual ele fala pela primeira vez abaixo.
Conheça mais sobre o diretor, nessa entrevista exclusiva ao Omelete.
Você planeja permanecer nesse gênero, o gore com senso de humor, ou às vezes é tentado a fazer gore puro e simples, algo bastante lucrativo esses dias? A propósito, ótima a nojeira toda em 2001 maníacos!
Obrigado cara! As seqüências de gore foram muito divertidas de inventar e executar. Quando eu era moleque vivia me fazendo de mágico. Me chamava o Grande Sullivini! Depois, quando me tornei adolescente, comecei a ficar atraído por outros tipos de ilusão, o tipo encontrado em efeitos especiais e maquiagem - graças a filmes como Madrugada dos Mortos e Sexta-Feira 13, e conheci o trabalho de Tom Savini. E o que é Tom Savini se não um mágico? Qual é a diferença entre serrar uma mulher ao meio ou fazer com que Jason Voorhees corte a cabeça dela com um facão? São truques desenhados para chocar o público. E isso me empolga demais.
Mas não gosto do prazer sádico de imaginar um humano sentindo dor - mas do truque de fazer o impossível tornar-se real. Quanto mais exagerado, melhor. Foi isso o que tentei em 2001 Maníacos e Snoop Dogg´s Hood of Horror - criar seqüências memoráveis de morte com sangreira cartunesca que fazem rir pelo absurdo. É ISSO que me interessa. Eu até gosto de ver os filmes, mas não curto a idéia de fazer cenas prolongadas de tortura, ou atos de violência contra pessoas. Quando funciona para a trama, como em Rejeitados pelo Diabo, acho bacana. Mas quando é pelo "entretenimento", como em O Albergue, eu não sou nem a favor, nem contra. Acho perigoso quando as pessoas começam a confundir o tipo de violência gore de filmes de maníacos com a violência de O Albergue, por exemplo.
Mas pra resumir, jamais farei um filme como esse. A violência nos meus filmes será exagerada e cartunesca - ou servirá para a trama, como em Driftwood.
Tim e Romero
Tim Sullivan
Robert Englund
Driftwood
2001 Maniacs Comics
2001 Maníacos
Seu próximo filme é 2002 Maniacs (um maníaco a mais que o último filme). A população fantasma cresceu?
Na verdade, esse NÃO é o título do filme. Mas você não é o único a achar isso. Muita gente se refere à continuação como 2002, mas o título correto é 2001 MANIACS: BEVERLY HELLBILLYS. Quanto ao maníaco extra, o filme original de HG Lewis era só 2000 Maníacos - portanto, temos um maníaco a mais sim... e esse sou eu!
Depois de trabalhar com um ícone do terror como Englund, com quem mais você gostaria de trabalhar?
Olha, é difícil ter outro ícone do terror tão grande quando Robert Englund. Ele é uma inspiração e meu amigo - e foi uma honra e uma benção trabalhar ao lado dele na criação do Prefeito Buckman, que ganhou uma legião de fãs digna do próprio Freddy Krueger. Outro cara com quem tive a sorte de trabalhar foi Diamond Dallas Page [famoso ex-lutador de luta livre] em Driftwood.
Nos entendemos tão bem que estamos criando juntos uma nova franquia de terror, um projeto chamado Clowns [Palhaços]. Eu originalmente pensei esse roteiro com meu sócio Chris Kobin para que Tobe Hooper dirigisse, mas agora Dallas e Chris vão produzir, eu vou dirigir e Dallas interpretará o papel de Tom Klown. Imagine Tony Soprano como um palhaço-monstro perturbado e você terá alguma idéia do que esse filme maluco vai ser...
Quais são suas influências como diretor?
O primeiro diretor pelo qual eu fiquei fascinado foi John Landis. Eu adorei a mistura de comédia e horror dele com Um Lobisomem Americano em Londres, por exemplo. Eu estava cursando cinema na Universidade de Nova York e fui muito influenciado por ele - como todo mundo na época. O senso de humor combinado com gore e reviravoltas de roteiro é digno dos clássicos quadrinhos da EC Comics. Landis entendia esses conceitos e fez uma verdadeira ponte entre os clássicos de horror da Universal e o gore oitentista. Uma ponte que levou não apenas aos meus filmes, mas aos de caras como Sam Raimi, Peter Jackson, Eli Roth, Edgar Wright, James Gunn... A lista é enorme.
Quanto aos novos diretores, estou fascinado com Rob Zombie. Ele é o novo Tarantino. Ele está trazendo de volta o tipo de filmes que eu adorava na minha infância, filmes de drive-in que não eram necessariamente de terror, mas tinham crime com um senso estético de terror, uma retratação de uma sociedade violenta, em guerra consigo mesma e com outros. Estávamos naquele estado em 1970 graças ao Vietnã e estamos nele de novo graças ao Iraque. Eu adoraria fazer um filme sobrenatural como o que ele fez em Halloween, e espero conseguir um dia.
Você frequentou a NYU e trabalhou no departamento de desenvolvimento da New Line. Isso o ajudou? Quer dizer, você se considera um diretor que conhece o negócio do cinema. É mais fácil trabalhar assim?
Eu me considero um cineasta que não deve nada a ninguém, pois trabalhei desde os níveis mais baixos pra chegar até a direção. Servi café, trabalhei no controle de extras, estacionei caminhões de equipamento, fiz tudo mesmo. Depois fui subindo, trabalhei com procura de locações, no apontamento de agendas, no orçamento, li roteiros e cheguei a produtor em Detroit Rock City. E tudo isso sem um parente rico ou influente para ajudar - não que eu não fizesse isso pelo meu filho se ele me pedisse -, mas, enfim, vi todos os lados do processo cinematográfico. Me ajudou bastante também o emprego de avaliação de roteiros para a New Line, tanto pelo ponto de vista criativo quanto pelo de negócio. Logo depois comecei a escrever para revistas como jornalista, e foi nesse emprego que pude conhecer gente que hoje são meus amigos como Robert Englund e Gene Simmons.
Só fui dirigir meu primeiro filme aos 39, o que acho que foi perfeito, pois todo esse esforço preliminar me ajudou demais, ganhei uma linguagem em comum com meu elenco e equipe. Se eu tivesse dirigido um filme logo que saí da faculdade, acho que teria sido um só. Talvez eu jamais tivesse a oportunidade de fazer um segundo. Eu levei dois anos pra conseguir o financiamento para Maníacos e agora sim estou sentido mais facilidade. O sucesso do filme está abrindo mais portas e me ajudando a levantar fundos para os outros projetos. Mas a jornada até aqui foi árdua - e eu ainda acho que preciso me superar a cada instante. Mas isso não sou só eu - acho que todos os cineastas se sentem assim. Você só é tão bom quanto sua bilheteria no último fim de semana. Mas dito isso, não tenho um plano B para a minha vida. Vou continuar fazendo filmes nem que seja com uma câmera VHS com décadas de idade.
Eu vi um pôster de 2001 Maníacos no estande da Comic-Con em que George Romero estava dando autógrafos. Você conhece ele? Pergunto isso como fã... encontrar Romero foi um dos melhores momentos da minha carreira. :-)
Sim, eu conheço George. Na verdade, nós dividimos aquele estande na Comic Con pois nós dois tínhamos gibis pra divulgar - ele está lançando a história em quadrinhos que adapta Night of the Living Dead. Eu estava em êxtase de dividir o espaço com ele. George é o criador do cinema moderno de horror e eu penso o gênero como pré-A Noite dos Mortos-Vivos e pós-A Noite dos Mortos Vivos. Estar ali e dividir o estande com ele... eu ficava pensando "não sou merecedor... não sou merecedor". Foi um momento em que senti que minha vida estava no ponto em que deveria estar. Eu tive enorme influência do trabalho dele, me apaixonei pelo cinema por causa dele e de caras como ele, e conseguir transformar essa paixão numa ocupação - e lançar até uma HQ ao lado de GEORGE FUCKING ROMERO - é incrível. Agora me dê licença, tenho que me beliscar!