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Dia da Consciência Negra: Produções para refletir sobre a data

O Mês da Consciência Negra chegou e precisamos falar sobre este movimento importante

20.11.2021, às 16H49.

Entra ano, sai ano, e um questionamento insiste em ressurgir: "Por que existe um Dia da Consciência Negra?". Ou talvez: "Se há um dia assim, também deveria ter um Dia da Consciência Branca". Há também quem recorra a uma fala de Morgan Freeman, na qual ele afirma que "para o racismo deixar de existir é só parar de falar nele". Seria ótimo poder fazer essa mágica: parar de falar na fome, na pobreza e na miséria, e fazerm com que elas deixassem de existir, mas não é assim que funciona. É por isso que é muito importante saber que estes dicursos surgem pra minimizar a importância da representação da data, que vai muito além de um simples feriado.

Instituído em 2003, por meio de uma lei que ainda inclui o tema “História e Cultura Afro-Brasileira” como componente curricular obrigatório das escolas brasileiras, a data vem sendo reinvindicada desde 1971, pelo poeta gaúcho Oliveira Silveira, para contrapor o Dia da Abolição da Escravatura, em 13 de Maio. O Dia da Consciência Negra é lembrado, desde então, em 20 de novembro, por ser o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, um dos símbolos da resistência à escravidão no Brasil. Ao longo dos anos, foi se instituindo novembro como o mês da consciência negra, um momento pra manifestações, estudos, celebrações, homenagens e pra evidenciar, a importância dos negro na construção social, política, cultural e econômica do Brasil. Então, falar em consciência negra é olhar ao mesmo tempo para passado, presente e futuro, na expectativa de dias de igualdade de direitos e oportunidades. 

Como várias formas de arte, o cinema e a TV podem contribuir pra este olhar e reflexão, oferecendo obras que nos fazem entender, seja qual for a cor de pele nós tivermos, noções importantes de igualdade, luta contra os preconceitos e oportunidades pra transformar o futuro. Pensando nisso, o Omelete lista abaixo grandes filmes que contribuem para essas reflexões.

Quanto Vale ou é Por Quilo?

Cena de Quanto Vale ou é Por Quilo?
Europa Filmes/Divulgação

O primeiro da lista é um filme nacional de 2005, do diretor Sérgio BianchiQuanto Vale ou é Por Quilo? é uma obra que adapta o conto "Pai contra Mãe", de Machado de Assis. Ela desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas, bem semelhantes na manutenção da violência, da corrupção impune e das enormes diferenças sociais.

No século XVIII, momento explícito de escravidão, os capitães do mato caçavam negros para vendê-los aos senhores de terra com um único objetivo: o lucro. Nos dias atuais, o chamado Terceiro Setor explora a miséria, pra preencher a ausência do Estado em atividades assistenciais, que na verdade também são fontes de muito lucro.

E a gente vê uma ONG fazendo isso, superfaturando computadores entregues pra uma comunidade carente. É um filme com humor afinado e um ótimo elenco que reúne Danton MelloLeona Cavalli e Caio Blat, pra mostrar que o tempo passa e nada muda, num país em permanente crise de valores.

Selma

Cena de Selma
Divulgação

O segundo da nossa lista é esta obra que retrata um dos grandes nomes na luta pela igualdade de direitos no mundo, Martin Luther KingSelma é um filme da diretora Ava DuVernay, e mostra a participação do ativista em um dos fatos históricos mais conhecidos dos Estados Unidos: a marcha que partiu da cidade de Selma em direção a Montgomery, capital do Alabama. Isso em 1965.

O objetivo era garantir uma coisa que hoje nos parece óbvia: que os negros tivessem direito ao voto. O movimento provocou reações violentas, manifestações inconformadas, principalmente no racista sul americano. A narrativa é envolvente e emocionante, nos entragando um grande filme para refletirmos sobre a importância de lutar por direitos. Para todos.

Ó Paí Ó

Cena de Ó Paí Ó
Europa Filmes/Divulgação

A terceira indicação é este filme protagonizado pelo nosso gigante e talentoso Lazinho, Lázaro Ramos, e Wagner Mouracom quem tivemos o prazer de conversar aqui no OmeleteÓ Paí Ó, filme de Monique Gardenberg cujo título é uma gíria baiana, que significa "olhe pra aí, olhe".

Esta comédia musical retrato um cenário, feitos de momentos da cultura baiana. Ele se passa em um cortiço do centro histórico de Pelourinho, em Salvador, durante o carnaval, e usa de estereótipos e tipos sociais com funções específicas. No caso, expor questões profundas da cidade, como o racismo e violência. Tudo isso com o forte tom de comédia, que é a tônica do filme inteiro.

Marshall: Igualdade e Justiça

Cena de Marshall: Igualdade e Justiça
Divulgação

A próxima indicação traz um astro que partiu cedo demais: Chadwick Boseman é o grande protagonista de Marshall: Igualdade e Justiça, no papel do advogado Thurgood Marshall. Um homem que, fato real, se tornou o primeiro negro a fazer parte da Suprema Corte dos Estados Unidos, depois que ele teve uma carreira muito bem sucedida como defensor dos direitos da comunidade afro-americana.

O filme se dedica a retratar um dos casos mais emblemáticos da carreira de Marshall, quando ele defendeu um motorista negro da acusação de estupro a uma mulher branca. É um enfrentamento direto ao preconceito e às idéias pré-concebidas, condenando o acusado, tanto no tribunal quanto na opinião pública. E tudo com o detalhe que Marshall teve de atuar como um mentor pra um advogado branco, Sam Friedman. Vivido pelo ator Josh Gad, ele é obrigado a assumir o trabalho de inocentar o acusado.

Aliás, uma curiosidade interessante é que Gad se tornou grande amigo do Chadwick após este filme. Marshal: Igualdade e Justiça também se destaca graças a um clima que remete ao cinema noir, e por ser sutil e eficiente pra falar sobre as injustiças sofridas pelos negros na busca por direitos iguais.

A Outra História Americana

Cena de A Outra História Americana
New Line Cinema/Divulgação

O próximo desta lista é A Outra História Americana, um dos melhores filmes sobre o tema racial da década de 1990. Um filme que não poupa o espectador da violência e do ódio pra mostrar os crimes de uma gangue racista de skinheads, formada por integrantes neonazistas, nos Estados Unidos.

Nele, o personagem de Edward Norton, Derek, se torna líder desta gangue. E após assassinar um homem negro, ele é condenado e preso. E três anos mais tarde, sai da prisão e tenta convencer seu irmão mais novo, que está prestes a assumir a liderança do grupo, a não seguir no mesmo caminho.

É um filme que tem o poder de mostrar como o ódio racial acaba com a vida tanto de agredidos quanto de agressores, e esta mensagem aqui é contundente, principalmente pela dramaticidade com que a violência vazia, o ódio desmedido, são apresentados, e também pela ótima interpretação de Norton.

Dentro da Minha Pele

Cena de depoimento em Dentro da Minha Pele
Globoplay/Divulgação

Esta indicação agora é um documentário, o ótimo Dentro da Minha Pele, que você pode assistir na Globoplay, para ver estas várias histórias que revelam o racismo estrutural que ainda se agarra à realidade da sociedade brasileira; no dia a dia, nos ambientes de tabalho, nas relações familiares, na política.

Aqui, nos acompanhamos o relato de nove pessoas comuns, mostrando seu cotidiano na cidade de São Paulo e nos contando sobre as situações de racismo, microagressões veladas e, muitas vezes, a violência explítica da qual são vítimas.

Olhos que Condenam

Cena de Olhos que Condenam
Netflix/Divulgação

E a gente sabe que TV, ou o streaming, cada vez mais vem se forjando como espaço fundamental pra narrativas diversas, para obras profundas, usando o poder de diretores e produtores sedentos de contar suas histórias. Por isso que a próxima dica não é um filme, mas uma série: Olhos que Condenam, mais uma produção da Ava DuVernay

Ela acompanha a história real dos chamados "5 do Central Park", um grupo de jovens negros que foi processado e condenado injustamente pelo estupro e assassinato de uma jovem branca que corria no Central Park, em Nova Iorque.

A série, emocionante, revoltante, muitas vezes dolorosa, no seu brilhantismo dramatúrgico, mostra a condenação completamente injusta dada a estes jovens, ao mesmo tempo em que traz uma reflexão pesada e choccante do tratamento que pessoas negras tem no sistema jurídico e prisional americano.

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