Todo mundo já percebeu que 2020 é um ano estranho. Chegando na metade, nós olhamos para trás para recapitular os melhores lançamentos do ano até agora e vimos uma momento dividido entre os filmes que tiveram a chance de estrear no cinema, e diversas produções aclamadas que perderam a janela para entrar em cartaz por causa da pandemia de coronavírus, e seguiram direto para as plataformas. Por isso, quando relembramos os filmes que já recebemos até agora, foi até difícil ter certeza do que realmente foi lançado este ano ou não.
Assim, não apenas para aclamar filmes que precisam ser celebrados, mas também aproveitando a chance para dar dicas de grandes filmes que já estão disponíveis nas plataformas digitais, listamos abaixo 15 das melhores produções que chegaram ao Brasil desde o início do ano. Confira:
O Farol
O Farol chegou aos cinemas no Brasil em 2 de janeiro, levando o público que já havia se impressionado com o diretor Robbert Eggers (por causa de A Bruxa) correndo para os cinemas. A antecipação não foi frustrada. O filme é totalmente diferente da estreia do diretor e, na realidade, totalmente diferente de tudo. Com atuações brilhantes de Robert Pattinson e Willem Dafoe, O Farol é um daqueles filmes únicos, que intrigam, desconfortam e ao mesmo tempo surpreendem com o resultado final.
Onde assistir: Disponível para compra/aluguel no Microsoft Store, Looke, Google Play e iTunes.
Dois Irmãos - Uma Jornada Fantástica
Dois Irmãos foi uma das primeiras produções prejudicadas pela pandemia de coronavírus aqui no Brasil, já que ele estreou em 5 de março e foi rapidamente para as plataformas digitais, quando os cinemas do país fecharam as portas. O filme, no entanto, não demorou para conquistar o público. Já disponível no Amazon Prime Video, o novo filme da Pixar emocionou por contar uma história tocante sobre perda e continuidade da vida, envelopada em uma jornada cheia de fantasia. Pixar, né?
Onde assistir: Disponível em streaming no Prime Video.
O Caminho de Volta
O Caminho de Volta foi aclamado pela crítica estrangeira quando foi lançado lá fora, mas infelizmente por aqui ele acabou perdendo seu lugar no holofote. Disponibilizado diretamente nas plataformas digitais, o filme estrelado por Ben Affleck é tocante especificamente pelo performance do ator, que interpreta um operário que luta contra o alcoolismo e tem sua trajetória reconfigurada após ser convidado para treinar um time de basquete de colegial. Com Affleck também se recuperando da dependência de álcool, O Caminho de Volta tem um fator emocional na própria escalação.
- Jennifer Garner foi fundamental para Ben Affleck em O Caminho de Volta
- Ben Affleck fala sobre interpretar personagem alcoólatra: "conexão emocional"
Onde assistir: Disponível para compra/aluguel no Microsoft Store, Looke, Google Play e iTunes.
Uma Vida Oculta
Dos filmes de Terrence Malick posteriores a A Árvore da Vida, Uma Vida Oculta é o que resolve melhor a busca obsessiva do cineasta por epifanias visuais do dia a dia. Na história baseada em fatos de um fazendeiro austríaco católico que se recusou a lutar pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, Malick consegue alinhar a espirituosidade dos seus filmes com a urgência angustiada de preservar uma experiência de mundo que é efêmera por natureza. No Brasil, Uma Vida Oculta chegou aos cinemas no fim de janeiro.
Onde assistir: Ainda indisponível em formato digital.
Destacamento Blood
Spike Lee tem o hábito de impressionar o público, e em 2020, isso não poderia ser diferente. Em plena pandemia, o diretor lançou Destacamento Blood na Netflix, ainda em um momento que não poderia ter sido mais apropriado, com o crescente questionamento de racismo sistêmico e em um contexto de diversas manifestações antirracistas. Destacamento Blood não tem uma ligação tão direta com tudo isso, já que trata de um grupo de veteranos da Guerra do Vietnã que voltam à nação asiática, mas como sempre o diretor usou sua voz para falar de muito mais, analisando o real interesse dos conflitos e quem está na linha de frente da guerra.
- Confira o veredito de Destacamento Blood
- Por que Spike Lee é a principal voz da cultura negra americana no cinema
Onde assistir: Disponível na Netflix.
Martin Eden
À parte o fato de Luca Marinelli ser uma presença magnética em cena e sua atuação ser uma das melhores que veremos nas telas este ano (é até curioso vê-lo atuando num blockbuster como The Old Guard, também deste ano, depois disso), o filme dirigido por Pietro Marcello por si só já honra a melhor tradição italiana do cinema político. Ele transforma o romance de formação de Jack London, de teor autobiográfico na Califórnia da virada do século XIX para o XX, em uma jornada profunda pela Itália do pós-guerra para tratar melancolicamente de questões de desesperança que até hoje assolam os sonhos da Europa de conciliar os povos e as ideias do continente com sua herança humanista.
Onde assistir: Disponível no NOW.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
Quem poderia esquecer que Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa estreou este ano? Como uma dos únicos blockbusters do ano que realmente chegou ao cartaz antes da quarentena, não poderíamos ter pedido um filme de super-heróis melhor. Margot Robbie retornou como a nossa querida Arlequina em um filme cheio de bom-humor, irreverência na medida, e cenas de luta fora de série, muito bem coreografadas e executadas pelas atrizes. Se o mundo tinha dúvidas sobre um derivado de Esquadrão Suicida, a diretora Cathy Yan veio para silenciá-las.
- Leia a crítica
- Como o olhar feminino fez diferença para Arlequina e Mulher-Maravilha
- Como John Wick moldou as cenas de luta do filme
- Confira os principais easter eggs e referências do filme
Onde assistir: Disponível para compra/aluguel no Microsoft Store, Looke, Google Play e iTunes.
Retrato de uma Jovem em Chamas
Dirigido e escrito por Céline Sciamma (Tomboy), Retrato de uma Jovem em Chamas chegou ao cinema do Brasil em janeiro com altas expectativas, depois de levar o prêmio de Melhor Roteiro e a Palma Queer no Festival de Cannes do ano passado. A produção encantou o público e não decepcionou. Contando a história da relação entre duas mulheres, Marianne e Héloïse, o filme faz muito mais, estudando o afeto, a arte, e o olhar de uma maneira única.
Onde assistir: Disponível para compra/aluguel no Looke, Google Play e iTunes.
O caso Richard Jewell
O caso Richard Jewell, filme mais recente de Clint Eastwood, se parece com Sully e, mais uma vez, coloca um homem "normal" numa situação excepcional, que gera uma série de provações morais até mais desafiadoras do que a situação do começo da história. Desta vez não contamos com o carisma e a credibilidade acima de qualquer suspeita de Tom Hanks, porém, e as provações a que o ator Paul Walter Hauser se sujeita incluem convencer o espectador de sua inocência. O resultado é um estudo de personagem que soa simplório à primeira vista, mas a maneira descomplicada como Eastwood conta a história de Richard Jewell não diminui a inteligência desse filme, que convida o público a analisar seus próprios preconceitos.
Onde assistir: Disponível para compra/aluguel no Microsoft Store, Looke, Google Play e iTunes.
Má Educação
Má Educação foi outro presente que recebemos durante a quarentena, tendo sido lançado em abril aqui no Brasil, direto na HBO. Retratando a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos, o filme liderado por Hugh Jackman não apenas conta com uma performance fantástica do protagonista como usa a trama para explorar a desconstrução da figura do herói.
Onde assistir: Disponível na HBO Go.
Fim de Festa
Com Fim de Festa, o roteirista e diretor Hilton Lacerda começa a buscar um registro mais interessado na investigação da imagem e menos nos discursos de impacto, que fizeram a sua carreira em filmes como Amarelo Manga, Árido Movie e Tatuagem. Ele não deixa de abordar questões sociais da hora, como homossexualidade e violência urbana, com sua habitual verve libertária, mas a forma como ele olha para o Carnaval e se deixa conduzir pelo espírito introspectivo da Quarta-de-Cinzas torna Fim de Festa um interessante ponto de virada em seu trabalho como diretor.
Onde assistir: Disponível no NOW.
Joias Brutas
Joias Brutas chegou para criar toda a expectativa de vitória de Adam Sandler no Oscar, mas no fim das contas o ator nem chegou a ser indicado. Estranho, já que a produção em que o ator interpreta Howard Ratner, um judeu falastrão e viciado em apostas, dono de uma loja de joias no Distrito dos Diamantes de Nova York, parece ser uma combinação simplesmente perfeita. Não apenas o ator, mas a direção dos irmãos Joshua e Benjamin Safdie foram altamente aclamados, e apesar de ter ficado fora do Oscar, Joias Brutas definitivamente entra na nossa lista.
Onde assistir: Disponível na Netflix.
O Preço da Verdade
A frieza e o distanciamento com que Todd Haynes desenvolve este filme de tribunal misturado com terror ambiental talvez tenham sido responsáveis pela sua recepção morna, mas é um dos trabalhos mais originais do diretor de Carol e Não Estou Lá. Ele coloca Mark Ruffalo numa espiral meio kafkiana de revelações e becos sem saída na investigação de um caso de contaminação de água, e o que se vê no fim, depois de muitas tomadas de escritórios, corredores e veículos em trânsito, pode ser entendido como um filme político na linha de Todos os Homens do Presidente ou mesmo um apocalíptico relato de fim de inocência como Corrente do Mal.
Onde assistir: Disponível no Google Play e iTunes.
1917
Nem parece que foi esse ano, mas 1917, a assombrosa realização técnica de Sam Mendes, chegou nos cinemas brasileiros no fim de janeiro. Usando a estética de um plano-sequência para narrar a jornada de dois jovens soldados pela Primeira Guerra Mundial, o longa dividiu opiniões, inclusive na própria redação do Omelete, que produziu duas críticas diferentes. Mas o épico de guerra certamente entrará para a história como um dos melhores filmes sobre a 1ª Guerra.
- O que é um plano-sequência e qual seu valor para o Oscar
- Por que a Primeira Guerra Mundial não é tão retratada no audiovisual
Onde assistir: Disponível no Google Play, iTunes e Looke.
O Hotel às Margens do Rio
O Hotel às Margens do Rio chegou ao circuito comercial no Brasil apenas este ano, apesar de ser uma produção de 2018. Nele, Hong Sang-soo volta aos filmes em preto e branco, desta vez sob uma neve pesada que transforma a locação do tal hotel em uma paisagem minimalista quase absurda. Isso contribui para o clima de constrangimento e galhofa dos acasos e desencontros desta trama não-linear. Não é a melhor maneira de iniciar um contato com a obra de Hong, porque a secura das situações pode desnortear o espectador acostumado com relações amarradinhas de causa e efeito, mas sem dúvida é um pequeno compilado do tipo de humor e de drama que este cultuado cineasta sul-coreano busca nos seus filmes.
Onde assistir: Ainda indisponível em formato digital.