Depois de uma boa meia hora de conversa com os roteiristas de Vingadores: Guerra Infinita (leia aqui), chegou a hora de entrevistar o elenco. Os atores entraram no galpão por uma porta típica de saída de emergência. Foi só pelo estrondo que ela fez ao fechar que olhei naquela direção. E dali vinham, em uma escadinha inconsciente, Tom Holland, Robert Downey Jr. e Chris Hemsworth. Os três com figurino e visual saído diretamente de uma cena do filme (que não poderei comentar aqui). Posso dizer ao menos que eles estavam surrados, com sangue no rosto e cheios de poeira espalhada pelo corpo. De fato, os heróis parecem sofrer nas mãos de Thanos…
Downey Jr., como esperado, toma conta do ambiente. Ele é Tony Stark. Não existe a empáfia exagerada, mas os trejeitos e o humor ácido estão em todas as falas do ator. Por ser o primeiro herói do Universo Marvel do Cinema, é normal a reverência de todos. Robert, ou Sr. Downey, como Tom Holland o chama, é o presidente dos Vingadores fora das telas. Era de se esperar uma certa fadiga, um certo desleixo com o papel e até com o trabalho em si - lidar com a imprensa não é a parte favorita dos atores. A postura do artista, porém, é surpreendente.
"Durante todos esses anos vi o personagem passar por muitos momentos, mas não cansei. E eu acho que não vou cansar em nenhum momento e um futuro próximo", disse o ator, enquanto balança a cabeça para tirar os escombros de alguma batalha. Com a roupa suja e cheia de indicadores de captura de movimentos, ele começa a falar sobre a divisão dos filmes 3 e 4. "Eu acho que esse é o melhor roteiro dividido que eu já vi. Nunca vi uma história quebrada no meio desse jeito, pois são filmes diferentes, bem diferentes, mas que se ligam muito bem. Eles [os roteiristas] estão de parabéns", elogiou.
E conforme Markus e McFeely comentaram, a colaboração de Tony Stark no roteiro é essencial. Downey Jr. não esconde que sim, vive fazendo alterações e colabora o máximo possível. "Acho que é nosso papel, afinal estamos aqui há mais de 10 anos. A gente colabora muito, estamos sempre discutindo o que fazer", comentou. Holland, o mais quieto até ali, é o alvo da próxima, e mais óbvia, pergunta. "Como é ser o novato nessa turma gigante?". "Engraçado é que apesar de eu ser o mais novo, não me sinto como o novato. Eles me acolheram muito bem. Hoje, inclusive, tivemos uma refeição de Natal com todos os Vingadores e eu sentei ao lado do Sr. Downey. Por incrível que pareça, esse já é meu quarto filme da Marvel em menos de um ano", disse.
Hemsworth começa a sorrir e todo mundo vira a cabeça para ele. "Engraçado é que há algum tempo essa era a pergunta que faziam para mim. Olho para ele e vejo, poxa, estou ficando velho. Sou passado e ele é o futuro", disse Thor, com um sorriso no rosto cheio de sangue e cortes falsos. "O mais interessante é que melhoramos com o tempo. A eficiência da equipe como um todo aumenta - e claro que há a confiança nos caras que estão por trás disso tudo também", complementou, sem esquecer de JossWhedon, o diretor dos dois primeiros Vingadores. "Tudo que ele fez perdura até hoje. O que foi feito lá atrás é algo seguido e serve de exemplo para nós em Guerra Infinita", disse.
Aranha, os Guardiões e o maior vilão de todos
Levanto a mão e faço uma pergunta. O questionamento é para Tom Holland, que usa o traje de captura de movimentos para o novo uniforme do Aranha. O famoso Aranha de Ferro, que é construído por Tony Stark. Pegando esse gancho, qual é o novo passo na relação entre eles dois? "Ah, Peter evoluiu bastante nesse filme. Ele acaba se tornando… Ele vira um… Desculpe, eu sou muito ruim nisso. Certeza que eu vou entregar alguma coisa que eu não posso". Ele começa a rir e aponta para Sr. Downey. "Responde você". Stark ri e começa a falar. "É, algumas coisas continuam, evoluem e amadurecem". "Isso, ótima resposta", diz Peter Parker.
Além da tutoria que Stark exerce no Homem-Aranha, há também a inevitável rivalidade entre ele e Steve Rogers. Desde o primeiro encontro de ambos fica clara a dissonância entre as ideias e postura perante os problemas. Os dois são opostos de uma mesma vertente, que precisam se entender e continuarão a conviver neste novo filme. "Existe sim ainda uma rivalidade entre o Capitão e o Homem de Ferro, mas só existe uma saída pra eles: se unir. É como se a soma de todos os medos estivesse na frente deles. É o resultado de todos os pavores que eles já tiveram. Ninguém consegue passar pelo Thanos, é uma realidade que não tínhamos visto ainda. Eles precisam se juntar e só assim podem ver alguma esperança no futuro", contou Downey Jr.
A ideia de unir todos os medos em um cara só não é tão simples. A missão ficou com Josh Brolin que, apesar de não estar no set aquele dia, é uma constante nas conversas e nas perguntas. Afinal, ele é o cara que exige a união de todos os heróis e é a culminação de tudo construído no cinema pela Marvel. "Existe alguma coisa sobre Thanos que nos faz acreditar que ele é a junção de todos os nossos medos. E não há nada que consiga vencê-lo. Ele força uma Terapia Gestalt, uma terapia que nos faz pensar no agora e na situação que passamos, para conseguir ver algo lá na frente. Nada é igual ao que é mostrado nesse filme", completou Downey.
Os caras responsáveis por dirigir essa bagunça nerd são os Irmãos Russo, que curiosamente parecem tão abertos a colaboração quanto os roteiristas. "Meu momento favorito nisso tudo é quando eles estão brigando. Os irmãos ficam discutindo entre si por causa de uma cena. 'Tem que ser assim. Não, tem que ser assim'.", brinca Downey Jr. Hemsworth aproveita a deixa e rindo complementa: "Mas é verdade, e acho que é por isso que eu me diverti e achei esse trabalho tão bom. Essa divisão de opiniões e essa colaboração. Nos outros [Vingadores] eu ainda era o novo, hoje me sinto como parte fixa do grupo e é algo que me permitiu dar sugestões", disse.
"Eles trouxeram algo novo para a franquia, um frescor. E, claro, alguns de nós podem estar de saída e outros são o futuro do negócio. Então o comportamento como um todo é de um time mesmo. De um time que pensa na franquia em si", comenta Robert. "É bem impressionante que mesmo com dois filmes e tanta gente para bilhar eles conseguiram dar um momento interessante para cada personagem. Eu não tenho ideia de como eles conseguiram estruturar isso, mas o resultado em si ficou excelente", diz Tom Holland.
A entrevista estava para terminar. Faltam apenas dois minutos e possivelmente duas perguntas. Até ali, Thor: Ragnarok era o filme mais recente da Marvel e tínhamos um Deus do Trovão muito diferente do normal. Ele iria voltar em Guerra Infinita? "Não". Chris Hemsworth é sucinto e entende bem a diferença entre os momentos do herói. "Esse não é o mesmo Thor de Ragnarok. O que fizemos neste filme não vai vir 100% pra Guerra Infinita, pois é um problema que ele enfrenta muito diferente do que vimos antes. O tom é mais sério, mais pesado. Claro que há sim algumas piadas, mas é um filme dos Russo, não do Taika", disse. Antes de se levantar para despedida, Robert adiciona algo interessante. "E olha, minha cena favorita do filme inteiro vocês já viram. É quando Thor e os Guardiões se encontram na nave deles. Aquele tipo de humor esquisito, aqueles personagens se encontrando. Pra mim aquilo basta", opinou o Homem de Ferro, aproveitando para se despedir.
Duas entrevistas feitas, mais algumas para acontecer. Até ali já sabíamos mais sobre a trama de Guerra Infinita e como os heróis se comportariam. Mas faltava o outro lado da moeda, faltava falar com Capitão e com os heróis cósmicos. Guardiões, Nebula e, claro, os diretores dessa jornada. No próximo texto da nossa visita, vamos conversar com todos e descobrir um pouco mais sobre esse cenário vasto que é o terceiro filme dos Vingadores.