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Operação Red Sparrow | Crítica

Francis Lawrence investiga a arte do sexo na espionagem, mas sem prazer

01.03.2018, às 16H27.
Atualizada em 06.03.2018, ÀS 17H01

Para James Bond, sexo é uma uma atividade paralela, um bônus prazeroso das suas missões. Já para as espiãs do cinema, essa costuma ser a sua principal arma. Recurso que Francis Lawrence examina em Operação Red Sparrow ao apresentar a gênese de uma agente russa treinada na arte da sedução. Dominika Egorova (Jennifer Lawrence) é uma ex-bailarina do Bolshoi forçada pelo tio a se tornar uma Red Sparrow, uma espiã capaz de manipular alvos de interesse do governo com seus dotes libidinosos.

Baseado no livro do ex-agente da CIA Jason Matthews, o roteiro de Justin Haythe dá um realismo entediante às operações de espionagem (muita conversa, muita espera e zero ação) enquanto cria uma trama fetichista sobre a formação dos agentes russos e prega a continuidade da Guerra Fria. Há nisso uma constante desconexão de elementos narrativos. Ao mesmo tempo em que o diretor Francis Lawrence busca um retrato visceral, também subestima seu espectador com padrões cinematográficos obsoletos.

A classificação indicativa restrita nos EUA (da qual produtores geralmente fogem pela dificuldade de exibir seu produto em um grande número de salas e de chegar a um grande público) aparece na violência e na nudez de Jennifer Lawrence, mas não serve para dar dignidade aos russos, que são maioria no filme, condenados a falar em um inglês de sotaques variados e instáveis (principalmente o de Lawrence) - personagens estrangeiros costumam falar inglês para não afastar o público que teme legendas. Uma decisão questionável desde a primeira cena, mas compreensível na visão americanizada assumida pelo longa, que não abre mão de nenhum clichê relacionado à Rússia e à União Soviética: a agente à la Viúva Negra, o ballet, a vodka, os militares, a disciplina e a obediência ao Estado. Eventualmente, porém, o agente da CIA solta uma frase em russo, mais extensa do que qualquer coisa dita pelos personagens nativos, e logo depois elogia o inglês de Dominika como se ela não estivesse falando no idioma desde a primeira cena. Não há suspensão de descrença que resista a tamanha confusão idiomática.  

A fotografia de Jo Willems (parceiro de Francis Lawrence na franquia Jogos Vorazes) faz questão de enquadrar a grandiosidade do Estado russo na proporção entre os prédios públicos e transeuntes, criando belas paisagens urbanas desoladas. A frieza que serve bem à ambientação, contudo, não tem o mesmo resultado em um dos aspectos mais essenciais para Operação Red Sparrow. Em um filme que se propõe a desvendar a arte da sedução, é irônico que qualquer cena de sexo seja ou bruta ou apática, mas nunca excitante. A escola de espiões comandada por Matron (Charlotte Rampling) é um manual burocrático do desejo.

Se o sexo enquanto arma de guerra precisa ser eficiente, não prazeroso, um contraponto se fazia necessário para a personagem no centro da narrativa ter algum tipo de evolução. Dominika, porém, embora se envolva com o inexpressivo agente da CIA Nate Nash (Joel Edgerton), não tem um momento para descobrir que o sexo pode servir para mais do que interesses políticos. Francis Lawrence é ousado para mostrar o corpo da sua protagonista no retrato do seu sofrimento e da sua exploração, mas é bastante econômico na hora de apresentar o outro lado, reforçando a ótica fetichista do longa. Quando Dominika assume uma posição dominadora é sempre como mecanismo de defesa ou ferramenta de manipulação. Seu corpo nunca é realmente seu.  

Entre conspirações governamentais desinteressantes e reviravoltas óbvias, Operação Red Sparrow tem um momento de brilhantismo em Mary-Louise Parker, que invade o filme como uma das vítimas da sedução dos Red Sparrows em uma história paralela e cômica. É uma dose de vida aleatória em um filme que parece ter sido feito em outro tempo, mas só chegou aos cinemas agora.

Nota do Crítico
Regular
Operação Red Sparrow
Red Sparrow
Operação Red Sparrow
Red Sparrow

Ano: 2017

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 140 min

Direção: Francis Lawrence

Roteiro: Justin Haythe

Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Jeremy Irons, Matthias Schoenaerts, Ciarán Hinds, Joely Richardson, Mary-Louise Parker, Charlotte Rampling, Douglas Hodge, Thekla Reuten, Sakina Jaffrey, Sergei Polunin, Sergej Onopko, Kristof Konrad, Joel de la Fuente, Nicole O'Neill, David Z. Miller, Sasha Frolova, Simon Szabó

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