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Rua Cloverfield, 10 | Crítica

Cloverfield vira antologia no cinema com um filme de trucagens que se destaca pelo elenco

01.04.2016, às 13H31.

Os projetos da Bad Robot de J.J. Abrams pensados como caixas de mistério são sempre ótimos antes de estrear. Seus teasers que escondem o jogo prometem muito mais, por serem tão lacônicos e crípticos, do que os trailers sempre iguais de todo blockbuster, e cabe ao público ligar os pontos enquanto decifra os virais de teoria de conspiração que acompanham filmes como Cloverfield e Super 8.

Mas quando a estreia acontece a história é outra.

Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane) parte de uma ideia interessante: pega emprestado o título do filme de 2008 para fazer não uma continuação ou um derivado localizado na mesma mitologia, mas um longa de antologia. É como se fossem episódios de Além da Imaginação, sem ligação mas sempre pautados pelo fantástico: reconhecemos as semelhanças dos temas, mas Rua Cloverfield, 10 não é um terror de found footage, não repete personagens, sequer tem o mesmo tipo de monstro do filme anterior.

Mary Elizabeth Winstead, atriz que está se especializando em ser uma jovem Sigourney Weaver, faz Michelle, jovem que sai de casa depois de uma briga e sofre um acidente de estrada. Ela desperta no abrigo nuclear subterrâneo de Howard (John Goodman) e é informada de que o fim do mundo está acontecendo do lado de fora. Emmett (John Gallagher Jr.), outro sobrevivente no bunker, confirma essa versão dos fatos.

As trucagens de mystery box da Bad Robot não apenas ditam Rua Cloverfield, 10 - estamos de fato presos dentro dessa caixa misteriosa com três estranhos - como o roteiro condiciona o espectador a ser conduzido pelas reviravoltas. Mais do que um suspense de câmara que se constrói nas relações desses três personagens, o filme dirigido por Dan Trachtenberg existe em função das revelações que vêm de fora (não só espacialmente mas temporalmente, nas pistas que vão surgindo sobre o passado).

Então acontece que não estamos diante de um filme como o primeiro Cloverfield, que à parte os truques de esconde-esconde era um terror bastante envolvente no seu jogo de pontos de vista. Rua Cloverfield, 10 é mais limitado. Sofre da ansiedade de ser algo maior, o que fica inscrito na trilha sonora excessiva e nas viradas de roteiro (sempre calculadas para inflar o drama da alienação depois de momentos de empatia), enquanto se dedica, aí com mais talento, a colecionar easters eggs do universo de Cloverfield e criar outros novos (a cortina do pato certamente voltará como fantasia no Halloween neste ano).

A vantagem deste novo Cloverfield é o elenco. Enquanto o primeiro tinha um grupo de desconhecidos sem muito espaço para desenvolver seus personagens, aqui John Goodman brilha como o velho bonachão e paranoico que transita entre a tristeza e a fúria. O entendimento que o ator faz do potencial cômico de Rua Cloverfield, 10 é certeiro, assim como o de Winstead, cuja interjeição de surpresa com mais uma virada no desfecho da trama traduz muito bem o espírito do filme.

Nota do Crítico
Bom
Rua Cloverfield, 10
10 Cloverfield Lane
Rua Cloverfield, 10
10 Cloverfield Lane

Autor: Josh Campbell, Matthew Stuecken, Josh Campbell, Matthew Stuecken e Damien Chazelle

Ano: 2015

País: Estados Unidos

Direção: Dan Trachtenberg

Roteiro: Damien Chazelle

Elenco: Mary Elizabeth Winstead, John Goodman, John Gallagher Jr., Douglas M. Griffin, Cindy Hogan, Bradley Cooper, Suzanne Cryer, Maya Erskine

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