Não é difícil perceber que o cinema tem fórmulas para contar suas histórias. Existem as clássicas tramas de amor, de amadurecimento e também a história de superação, que é exatamente o que é contado em Sexy por Acidente. Usar esse método não é necessariamente um problema, mas os ensinamentos poderiam ser ainda maiores se a trama tivesse coragem de ousar um pouco e não fosse tão confusa dentro de si mesma.
Renee, interpretada por Amy Schumer, é uma mulher insegura com o seu corpo. Todos os dias ela se olha no espelho e não gosta do que vê. Nesses momentos, Sexy por Acidente é um filme muito verdadeiro e que consegue se relacionar com o público. Afinal, quem é que nunca se sentiu assim? Mas quando a protagonista começa a se achar bonita - e se transforma em uma pessoa extremamente arrogante por causa disso - o filme se perde dentro de sua própria mensagem. Abby Kohn e Marc Silverstein (diretores e roteiristas) parecem querer mostrar que as aparências não importam e que a sua visão de você mesma é o que vale. Mas 90% do longa é focado em mostrar o oposto disso.
Quando pensa em sua cabeça que mudou o visual, Renee conquista o trabalho dos sonhos, começa a ajudar a pessoa que mais admirava na vida e dá início a um relacionamento maduro com uma pessoa legal. Mas ela faz tudo isso pontuando o quanto é linda e incrível, e o quanto a aparência é importante na sua vida. Em prol de sua autoestima, ela prejudica as pessoas ao redor e perde até mesmo suas duas grandes amigas. Será que esse é o significado de se sentir bem consigo mesma?
Talvez o objetivo do longa fosse estabelecer esses paradigmas para quebrá-los depois e mostrar o quanto é fácil se perder no meio das aparências. Mas o desfecho é tão acelerado, com pouca emoção e óbvio, que essa mensagem não chega ao espectadores. Propor uma jornada de redenção tão rápida é funcional para o roteiro, mas quebra a relação do público com a protagonista e estraga aquela empatia citada no começo.
Como uma comédia estrelada por Amy Schumer, Sexy por Acidente poderia ter se sobressaído por seus momentos divertidos, mas infelizmente eles aparecem bem menos do que poderiam. Schumer faz piadas físicas e inseridas no cotidiano que são engraçadas pelo absurdo, mas dá para contar nos dedos quantas vezes isso acontece. Assim, sem se destacar pelo humor e com um drama fraco, o longa termina raso e com uma grande sensação de que perdeu todas as boas oportunidades que tinha.
Ano: 2018
País: EUA, China
Classificação: 12 anos
Duração: 107 min
Direção: Marc Silverstein, Abby Kohn
Roteiro: Marc Silverstein, Abby Kohn
Elenco: Adrian Martinez, Michelle Williams, Amy Schumer