A grosso modo, o filme mexicano com distribuição de majors hollywoodianas Sob a Mesma Lua (La Misma Luna, 2007) é uma lição ilustrada de tudo o que espera quem decide cruzar o Rio Grande e se aventurar nos EUA como ilegal. No transcorrer de uma semana, de um domingo a outro, o filme nos mostra os percalços no México, na fronteira, nas estradas, nas plantações do Sul dos EUA, até chegar aos subempregos em Los Angeles.
Sob a mesma lua
Sob a mesma lua
É preciso um bom drama humano para dar liga a essa exposição didática, e a diretora mexicana Patricia Riggen encontra o ideal: mãe separada do filho. Rosario (Kate Del Castilho) já não vê Carlitos (Adrian Alonso) há quatro anos, desde que conseguiu entrar, sozinha, nos EUA. Ela envia dinheiro para o filho no México regularmente, só esperando o momento em que conseguirá a cidadania necessária para pagar a vinda de Carlitos. Os dois se falam no telefone todo domingo. Mas uma série de eventos - narrados ao longo de Sob a Mesma Lua - faz com que o encontro dominical à distância seja interrompido.
São visíveis, em um filme esquemático assim, os indícios de que algo vai dar errado. O primeiro é quando Carlitos pergunta para a mãe: "Você vai me ligar domingo que vem às 10 horas?". Se o personagem "sentiu necessidade" de perguntar, pode apostar: acontecerá alguma coisa que impedirá a mãe de ligar, simples assim. Da mesma forma, quando a mulher que toma conta de Carlitos diz que "aqueles traficantes de imigrantes são inexperientes, a imigração fareja", pode apostar dobrado: a imigração vai pegar os inexperientes, porque a personagem - ou melhor, o próprio roteiro - nos preveniu de antemão.
Não é a melhor experiência do mundo, para quem espera ser surpreendido no cinema, sentir que um filme está menosprezando a sua inteligência. (A dondoca que castiga Rosario em L.A. tinha mesmo que ser tão caricatural?) O caso é que, uma vez que já não se espera muito de Sob a Mesma Lua, assiste-se ao resto do filme tranquilamente, por dois motivos: o garoto que interpreta Carlitos é muito carismático (ainda que não se pareça nada com o mexicano padrão) e fica engraçado ver como a diretora Riggen abusa do suspense desavergonhadamente nos instantes finais.