Normalmente visto com certo desdém pela crítica, o "filme de verão", também conhecido como blockbuster, se desenvolvido por realizadores competentes pode se tornar uma das mais divertidas formas de entretenimento.
J.J. Abrams, diretor egresso da televisão, é um exemplo desses cineastas que sabem dar ao público a dose exata de mistério, ação, romance e comédia que produções de grande orçamento precisam empregar para serem viáveis nas bilheterias. Mas além de competente malabarista, Abrams é também um cara corajoso. Encarou, ao lado dos colaboradores Alex Kurtzman e Roberto Orci, o desafio de ressuscitar uma das maiores franquias da ficção científica já criadas. Ou melhor, a maior franquia, se pensarmos em volume de mídias, derivados e mesmo relevância histórica, já que Jornada nas Estrelas - A Série Clássica foi a responsável por derrubar tabus televisivos e também é objeto de culto por milhões de aficionados mundo afora.
Star Trek
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Com isso em mente, dá pra começar a imaginar o tamanho da responsabilidade e pressão que Abrams - que mais de uma vez afirmou não ser fã da série - teve. Ele mexeu, aos olhos dos chamados "trekkers", em um verdadeiro texto sagrado (eles usam até um termo específico para isso, o "cânone"). E foi além: ao invés de comportadamente ater-se ao universo estabelecido, buscando novas aventuras com naves e tripulações distintas das conhecidas, resolveu reescrever o intocável "Velho Testamento" ao rejuvenescer a U.S.S. Enterprise e seus conhecidos heróis.
Há pelo menos um momento emblemático dessa pressão durante a produção do filme: os insistentes gritos em comunidades de fãs para que William Shatner aparecesse de alguma maneira no filme. A exigência pela presença do capitão James T. Kirk original começou no momento que o filme foi anunciado e, por incrível que pareça, não terminou nem depois que o filme estava na lata. Muita gente ainda acreditava que a aparição de Shatner ainda aconteceria, como num milagre sci-fi. Bem... talvez o próprio Shatner também acreditasse nisso, apesar de ter morrido ou se aposentado inúmeras vezes na série, mas o fato é que coube a Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock, o honrado papel de embaixador da paz entre os velhos fãs e a desejada nova geração de trekkers (será que eles continuarão usando esse nome?).
Na trama, Spock inadvertidamente retorna ao passado juntamente com um vingativo capitão romulano, Nero (Eric Bana). Na melhor tradição do saudoso Khan, o vilão busca uma violenta e genocida vingança contra o vulcano e a Federação. Cabe a um eclético grupo de novatos tripulantes da recém-inaugurada Enterprise a tarefa quase impossível de impedi-lo.
Nesse novo grupo de tripulantes, o novo Kirk é Chris Pine, em seu primeiro papel de expressão. Vê-lo em ação na primeira cena, a do bar terráqueo em que ele leva uma surra de cadetes de frota, é ver canalizadas todas as qualidades que Shatner deu ao personagem. Estão lá a arrogância e a canastrice que o tornaram famoso. Mais tarde no filme, surgem também a ternura e a amizade... algo que vimos o capitão demonstrar incontáveis vezes nas telonas e telinhas com seus amigos, Leonard "Magro" McCoy e o já citado Spock.
E por falar no médico da nave e no orelhudo imediato, Karl Urban e Zachary Quinto também evocam em seus trabalhos as atuações dos protagonistas originais dos personagens. Urban chega a ser assustador em alguns momentos em sua semelhança com DeForest Kelly. Menos ancorados em suas contrapartes clássicas, mas igualmente "fascinantes", como diria um certo analista científico, são as interpretações de Anton Yelchin, Simon Pegg, John Cho e Zoë Saldana, respectivamente Chekov, Scotty, Sulu e Uhura. Todos os personagens têm espaço de sobra para serem desenvolvidos e não faltam situações que exploram lados distintos deles. Há cenas bem-humoradas, mas são rapidamente seguidas por momentos que provam a competência daqueles jovens ex-cadetes.
O resultado, batizado simplesmente Star Trek, é
revigorante. Um Tonoclen vulcano, um Viagra romulano, uma Catuaba andoriana!
Abrams, Orci e Kurtzman resgatam em um roteiro envolvente e dotado de todo aquele
equilíbrio que comentei acima, não o tal cansado e especializado
cânone, mas a excitação e o fascínio que Trek
causava na década de 1960, ao audaciosamente ir aonde homem nenhum jamais
esteve. E o fazem de maneira brilhante, que não dá margem aos
lamentos de fãs mais devotados, com uma viagem no tempo, um dos conceitos
mais difíceis de serem explorados na ficção científica.
Ao jogar dentro das regras mais confusas do gênero, o trio acerta seus
torpedos de fóton em cheio, criando um universo paralelo que não
ignora a existência do original, mas dá ao trio liberdade para
seguir com as viagens da Enterprise por longas e prósperas décadas,
como se ela tivesse acabado de zarpar do estaleiro.
Leia mais sobre Star Trek no Especial Omelete
Ano: 2008
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 126 min
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Roberto Orci, Alex Kurtzman
Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Leonard Nimoy, Eric Bana, Bruce Greenwood, Karl Urban, Zoe Saldana, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Ben Cross, Winona Ryder, Chris Hemsworth, Jennifer Morrison, Rachel Nichols, Faran Tahir, Greg Ellis, Scottie Thompson, Paul McGillion, Lucia Rijker, Jimmy Bennett, Greg Grunberg, Lisa Vidal, Jacob Kogan, Tyler Perry, Amanda Foreman, Diora Baird, Sufe Bradshaw, Tony Elias, Sean Gerace, Randy Pausch, Tim Griffin, Freda Foh Shen, Kasia Kowalczyk, Jason Brooks, Sonita Henry, Kelvin Yu, Marta Martin, Tavarus Conley, Jeff Castle, Billy Brown, Spencer Daniels, Jeremy Fitzgerald, Zoe Chernov, Max Chernov, Lorenzo James Henrie, Colby Paul, Cody Klop, Akiva Goldsman, Anna Katarina, Douglas Tait, Tony Guma, Gerald W. Abrams, James McGrath, Jason Matthew Smith, Marcus Young, Bob Clendenin, Darlene Tejeiro, Reggie Lee, Jeffrey Byron, Jonathan Dixon, Ben Binswagner, Margot Farley, Alex Nevil, Kimberly Arland, Jeff Chase, Charles Haugk, Nana Hill, Michael Saglimbeni, John Blackman, Jack Millard, Shaela Luter, Sabrina Morris, Michelle Parylak, Oz Perkins, Michael Berry Jr., Pasha D. Lychnikoff, Matthew Beisner, Neville Page, Jesper Inglis, Marlene Forte, Leonard O. Turner, Mark Bramhall, Ronald F. Hoiseck, Irene Roseen, Jeff O'Haco, Deep Roy, Majel Barrett, Rico E. Anderson, Richard Arnold, Tad Atkinson, Leslie Augustine, John Baca, Sala Baker, Leo Baligaya, Corey Becker, Jessica Boss, Neil S. Bulk, James Cawley, Brad Champagne, Zachary Culbertson, Calvin Dean, Christopher Doohan, Claire Doré, Mark Casimir Dyniewicz, Etienne Eckert, Ken Edling, Aliza Finley, Ian Fisher, Mathew Thomas Foss, Massi Furlan, Victor Garber, Tommy Germanovich Jr., Mary Grace, Wyatt Gray, Joshua Greene, Nancy Guerriero, Justin Rodgers Hall, Jeffery Hauser, Brad William Henke, Elizabeth Ingalls, Christopher Karl Johnson, Jolene Kay, Sarah Klaren, Makiko Konishi, Bryan Lee, Daniel D. Lee, Anne Leighton, Steve Luna, Aaron Lynch, Justin Malachi, Nav Mann, Paul Marshall, Owen Martin, Taylor McCluskey, Matthew McGregor, Caitlin McKenna-Wilkinson, Patrizia Milano, Kevin Moser, Jonathan W.D. Newkerk, Westley Nguyen, Jim Nieb, Andres Perez-Molina, Mark Phelan, Damion Poitier, Rahvaunia, Bertrand Roberson Jr., Deborah Rombaut, Leonard Jonathan Ruebe, Ramona Seymour, William Morgan Sheppard, Katie Soo, Arne Starr, Ronnie Steadman, Joseph Stephens Jr., Joseph Steven, T.J. Storm, Paul Townsend, Scott Trimble, Errik Tustenuggee, Ravi Valleti, Jason Vaughn, A.J. Verel, Brian Waller, Steve Wharton, Wil Wheaton, Brianna Womick, Lynnanne Zager