"O público dos Estados Unidos não gosta de fantasia". Quem diz são os produtores da Paramount, que "espertamente" decidiram vender Stardust como um "Piratas do Caribe encontra Romeu e Julieta". Deu certo? Claro que não. O filme foi mal na temporada de verão e perdeu feio para Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Ultimato Bourne.
Dá pena porque Stardust é um filme bacana. Mais do que magia (que virou sinônimo de Harry Potter), Stardust tem um encanto e uma ternura que fazem a gente torcer, sim, por um final feliz. É um filme para entrar e se deixar levar, acreditar que do outro lado do muro que cerca parte da cidadezinha de Muralha, em plena Inglaterra vitoriana, está o reino encantado de Stormhold, em que reis se deliciam com a morte dos filhos e bruxas perseguem estrelas para devorar seus corações.
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Do lado de cá a normalidade, o provincialismo e os sonhos que vão na cabeça de Tristan (Charlie Cox), apaixonado pela garota mais bonita da vila, Victoria (Sienna Miller). Para ela, o coitado promete trazer uma estrela cadente que parece cair a umas poucas milhas dali. E é nessa jornada que Tristan, o menino, vai dar lugar a Tristan, o homem e, mais tarde, descobrir finalmente o seu papel nessa história.
A estrela, que não é um pedaço de meteorito e sim uma criatura de aparência humana, Yvainne, é talvez o único problema do filme. No original criado por Neil Gaiman, Yvainne de repente se vê no meio da cratera, aturdida, machucada e zangada por não estar brilhando mais no céu. O que se vê na tela é Claire Danes totalmente loira, metida em um vestido prateado com botas de nobuck. Mesmo esquecendo o figurino, falta aquela química entre Tristan e Yvainne, talvez em parte porque ele parece tão jovem e ela mais envelhecida. Mesmo se tratando do universo de Gaiman, em que nada é convencional e muito menos superficial - mesmo personagens que aparecem e somem sem aviso - fica um pouco mais difícil entrar nesse estado de animação suspensa por duas horas.
Mas quem passar daí vai se divertir muito. Primeiro porque o elenco secundário é sensacional. Ruppert Everett (O Casamento do meu Melhor Amigo, Um Marido Ideal) aparece no máximo uns cinco minutos na tela e é tudo. A lista segue com Peter O Toole (o rei moribundo de Stormhold), o comediante David Walliams (de Little Britain, que aparece irreconhecível como um dos príncipes-fantasmas), Julian Rhind-Thut (o Dr Mac da série Green Wing, outro príncipe morto) até chegar a Ricky Gervais (o homem mais engraçado do mundo, segundo Madonna), que tem um status de semi-deus aqui no Reino Unido depois do sucesso de The Office e Extras.
Mas os personagens de quem todo mundo vai sair mesmo com vontade de quero mais ficaram para dois astros de Hollywood. Como o pirata Capitão Shakespeare, qualquer ator ganharia no máximo uns dois minutos na tela. Mas como estamos falando de Robert DeNiro, o pirata é um dos elementos principais para entender como Tristan deixa para trás o desajeitado ajudante da vendinha para virar príncipe. E sem entregar tudo, a cena de can-can em que piratas enfrentam os homens do príncipe Septimus, enquanto ele se digladia com DeNiro é uma glória que só o cinema pode materializar...
E tem Michelle Pfeiffer. De bruxa. Malvada. Linda e horrorosa ao mesmo tempo, com um timing para comédia que dá gosto e que vai assustar quem levar criança pequena para ver o filme. Mas quer saber? As meninas espertas vão deixar o cinema pensando "queria ser igualzinha a ela!"
Eu, por minha vez, continuo achando que o original é melhor. Mas se o próprio Gaiman jura que tem orgulho do filme, quem sou eu para discutir?
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