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Steve Jobs | Crítica

Agilidade e drama pessoal marcam a primeira cinebiografia digna do criador da Apple

14.01.2016, às 15H53.

Steve Jobs não era uma pessoa simples ou fácil de lidar. As histórias que cercavam o criador da Apple se tornaram mitos tão grandes quanto o sucesso de suas invenções. Discutir a importância ou a influência que ele teve no mundo moderno demandaria um esforço suscetível a erros e reclamações de todos os lados.

Com isso em vista, Aaron Sorkin criou em Steve Jobs (2014) uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, que durante anos negou a paternidade de sua primeira filha. A partir daí, o filme discute manias, criações e erros com uma agilidade capaz de dar espaço para Michael Fassbender e o elenco de apoio brilharem. São situações que distorcem a realidade e propositalmente constroem um retrato multifacetado de uma das mentes mais importantes dos últimos anos.

Sorkin adapta a biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs. O roteirista pega um livro extenso e transforma em um longa de três atos, focados nos lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac. Dessa maneira, detalhes dos computadores são obrigatoriamente discutidos, mas servem de pano de fundo para o verdadeiro tema que o filme tenta discutir: a psicologia por trás das decisões e dos feitos de Jobs.

Entre surtos repentinos e sacadas geniais, Steve Jobs mostra a imponência de seu protagonista sem pudor, mas constantemente o rebaixa a um sujeito com problemas familiares. A sua adoção (e o uso de John Sculley, CEO da Apple, como uma figura paterna) é um caso tão discutido quanto a paternidade de Lisa - e combinados mostram-se o grande eixo da cinebiografia, pois, sem entrar no mérito de quem está certo ou errado, não simplifica a figura de Jobs em broncas, design e gagdets. Para isto existem inúmeros documentários produzidos depois da morte dele.

O roteiro de Sorkin não seria tão forte se o elenco não tivesse sido tão bem escolhido. De Michael Fassbender a Kate Winslet, passando por Seth Rogen, Michael Stuhlbarg e Jeff Daniels, ninguém se parece de verdade com seus personagens reais - e isso pouco importa. Tal qual a encenação exagerada de cada lançamento/ato, cada indivíduo carrega nas falas um caminhão de personalidade. É como se cada frase fosse pensada para definir uma pessoa, cada situação fosse feita para transmitir uma mensagem. A velocidade com que eles entram e saem de cena dão um ritmo equilibrado ao filme, que ao final não parece ter os 122 minutos descritos na ficha.

Esse aqui é um filme do diretor Danny Boyle, mas poderia ser assinado ao lado de Sorkin, que deixou sua marca em todos os quadros. Boyle tem o mérito de filmar sem exageros e usa bem os corredores e imagens projetadas para simbolizar dúvidas e pensamentos de Jobs. As idas e vindas na linha temporal, mescladas com os diálogos super rápidos de Sorkin, também são bem montadas, sem deixar o espectador perder o fio da discussão, que nem sempre é fácil.

Steve Jobs não vai ensinar o porquê de a Apple ser a maior empresa de tecnologia do mundo, nem os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio. Aqui estão discussões pessoais de um cara tão inteligente quanto problemático. E mesmo que seja lotado de frases de feito e diálogos eloquentes, é um filme que sobressai pela dedicação com que discute os temas mais obscuros da vida de Jobs.

Nota do Crítico
Ótimo
Steve Jobs (2015)
Steve Jobs
Steve Jobs (2015)
Steve Jobs

Ano: 2015

País: EUA

Classificação: LIVRE

Direção: Danny Boyle

Roteiro: Aaron Sorkin

Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterston, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Perla Haney-Jardine, Sarah Snook, Adam Shapiro

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