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Superman Lives: O fiasco de Tim Burton

Superman Lives: O fiasco de Tim Burton

23.08.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Quando foi contratado pela Warner Bros. para escrever o roteiro de Superman lives, em 1996, Kevin Smith estava longe de ser o nome reconhecido que é hoje. Havia lançado apenas O balconista e Barrados no shopping. O filme Procura-se Amy, que realmente o consagrou junto a público e crítica, ainda estava em preparação. Apesar disso, a empolgação do então jovem cineasta ao comentar o projeto contagiava os fãs do Maior Herói de Todos os Tempos. O ex-balconista de loja de conveniência prometia uma das melhores adaptações dos gibis para as telas grandes, citando vilões cult do Universo DC e criticando o desenvolvimento das personagens do filme Batman eternamente, de Joel Schumacher. Dizia também que seu objetivo era escrever uma revista mensal da DC Comics. Em resumo, estava provado que Kevin Smith era grande fã dos quadrinhos de super-heróis, e que seu roteiro agradaria em cheio aos apreciadores do gênero.

O roteiro completo de Smith, que precisou batalhar muito para excluir as idéias risíveis e infrutíferas do produtor de estimação da Warner, Jon Peters, foi bem recebido pela companhia; e já estava tudo pronto para iniciar a produção no verão de 1997.

A PEDRA NO CAMINHO

Passados os anos, convém expor o que deu errado e por que Superman lives nunca foi para a frente. O maior responsável pelo fiasco, que teve influência mais negativa do que a de Jon Peters ou do diretor executivo da Warner, Lorenzo DeBonaventura, foi o diretor escolhido para a película, Tim Burton. Contratado por conta de seu trabalho bem sucedido em Batman e Batman: o retorno, que deram nova vida aos super-heróis nos cinemas, rejeitou o roteiro de Kevin Smith, acredite, por considerá-lo muito fiel aos quadrinhos (!).

NÃO É UM PÁSSARO, NÃO É UM AVIÃO... NÃO É O SUPER-HOMEM

Tim Burton e Jon Petes estavam determinados a apresentar um Super-Homem desfigurado e irreconhecível aos olhos de qualquer fã. Peters considerava o uniforme azul e vermelho, o mais tradicional e emblemático da história dos quadrinhos, muito alegre, muito afeminado, e preferia trajes negros. Também achava que o herói não deveria ter a habilidade de voar, pois detestara as cenas de vôo nos filmes anteriores, não importando se é esta uma das habilidades mais conhecidas da personagem e um sonho antigo da humanidade.

Demonstrando desprezo pelos quadrinhos, Burton defendia o mesmo que Peters e chegou a definir sua visão da personagem. Em vez de voar, o Super-Homem teria um Supermóvel. Burton preferia o grande S estilizado da fase do herói com poderes elétricos, e apresentou vários planos para o uniforme, alguns inacreditáveis, como uma roupa transparente que deixaria visíveis os órgãos internos do Super, e uma armadura negra de aparência alienígena, cruzando Edward Mãos-de-Tesoura com um borg de Jornada nas estrelas. Os fãs de Burton - óbvio - aprovaram tudo.

INVULNERÁVEL E HOMICIDA

E o pior é que as ignomínias não param por aí. Para o papel de Super-Homem, Peters queria Sean Penn, pelos seus olhos de assassino e o carisma de um animal enjaulado; qualidades (?) inerentes ao último kryptoniano, sob a ótica distorcida do produtor.

Quando o papel foi transferido para Nicolas Cage, Peters continuou a série de impropérios. Afirmou que ser um estranho e sentir-se renegado são a essência do Super-Homem, e que, por isso, Cage interpretaria bem o lado alienígena do Super. Burton, por sua vez, asseverou, em entrevista a uma rádio do Texas, que seu objetivo era trabalhar um inexistente lado mais sombrio e homicida do Super-Homem, e esperava que Cage estivesse à altura do desafio.

Embora a escolha de Nicolas Cage para o papel título do filme cause estranheza e nunca tenha agradado aos fãs do herói, é importante dizer que o ator foi um dos maiores oponentes de Burton nos bastidores, combatendo suas idéias esdrúxulas e exigindo o uniforme tradicional e o poder de vôo.

VENCE O BOM SENSO

Roteiros ridículos como os que mostravam Jor-El criando Brainiac e desprezando o computador por ocasião do nascimento de seu filho Kal-El; o perverso cérebro eletrônico destruindo Krypton por ressentimento; sua fusão, na Terra, a Lex Luthor a fim de formar o vilão amálgama Lexiac, que deixavam Burton pulando de felicidade, foram sucessivamente recusados pela Warner.

No final de 1998, Burton foi finalmente afastado pela companhia, que mostrou não ser totalmente desprovida de bom senso.

Embora seja um diretor de talento e tenha realizado ótimos filmes como Edward Mãos-de-Tesoura, A lenda do cavaleiro sem cabeça e a refilmagem de Planeta dos macacos, devemos agradecer ao deus Rao pelo cancelamento de seu projeto com o Super-Homem. Certamente, seria a mais ofensiva transposição de um super-herói dos quadrinhos para o cinema, motivo para que Burton continue afastado da personagem e de qualquer outro super-herói da DC Comics.

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