Rebecca (Julianne Moore) é casada com Tom (David Duchovny). Ela é uma atriz respeitadíssima que está para estrear uma nova peça. Nos ensaios, o ator jovem e belo tenta conquistá-la. Tom é o inventor da campanha Got Milk?, aquela do bigode de leite, e também tem uma garota linda em seu encalço, sempre que ele leva os filhos para a escola.
Elaine (Maggie Gyllenhaal) é uma escritora em ascensão, paquerada pela editora lésbica. Seu namorado, Tobey (Billy Crudup), é um jornalista descolado que encontra certo dia uma antiga namorada do colégio, Faith (Eva Mendes), que evidentemente continua louca por ele. Elaine e Tobey estão em crise no namoro, porque Tobey tem medo de compromisso. Rebecca e Tom também estão em crise, decorrente dos anos e anos de casamento. Afinal, é disso que trata as comédias românticas: desencontros amorosos.
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Mas não são só amores pra vida inteira que as comédias românticas vendem aos incautos, vendem um estilo de vida também. E nesse quesito não há, nos últimos tempos, um filme do gênero tão descarado quanto Totalmente Apaixonados (Trust the man, 2005), do roteirista e diretor Bart Freundlich.
Por estilo de vida entenda-se um emprego de sonhos - atriz, publicitário, escritora, jornalista - e uma rotina sem tropeços financeiros. E tome jantar com vinho, apartamento impecável, filhos lindos... É a radicalização do aroma lavanda. E faça-me o favor: o cara ter que escolher entre a Maggie Gyllenhaal e a Eva Mendes não é o dilema que todo homem gostaria de ter?
Evidentemente, faz parte do jogo criar um simulacro daquilo que imaginamos ser a vida perfeita, e a vida perfeita é como um comercial da Apple mesmo, com aquela gente sorridente e penteada, de roupa branca e computadores sem fios. Assistir a uma comédia romântica sobre o amor da tia velha com o alcoólatra desempregado não agradaria ninguém. Quer dizer, agradaria ao público de Sundance, mas isso é outra história.
O problema de Totalmente Apaixonados é que Freundlich superestima nossa suspensão de descrença. Não dá pra acreditar que aquelas pessoas estão sofrendo de verdade - não porque seus dramas, suas traições, seus medos sejam falsos, mas porque os entornos são falsos. Uma pessoa é o que o ambiente faz dela, e o ambiente do filme é de um artificialismo ímpar.
Dito isso, existe uma coisa que torna Totalmente Apaixonados um programa suportável (e que, com muita boa-vontade, justifica um terceiro ovo na cotação): o bom elenco tem total noção desse artificialismo. Em especial Duchovny, que desde o fim de Arquivo X aprendeu, em nome da saúde de sua carreira, o perigo de levar-se a sério demais. Rimos com ele porque Duchovny, no fundo, está rindo também. Tem que levar na esportiva na hora em que a moça engasga com a comida, afinal. É uma barbaridade o que essa gente engasga com comida em comédia romântica. Como quer resolver a vida se mal sabe mastigar?
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