Sempre que são questionados sobre os motivos que os levaram a fazer determinado filme, atores e atrizes respondem sem pensar: o roteiro (não que um pote cheio de pepitas de ouro seja irrelevante, veja bem). E é por isso que não me conformo quando vejo um elenco estrelado como este de Traídos Pelo Destino (Reservation Road, 2008) desperdiçando seu talento em uma obra aquém de suas habilidades. Onde foi que aquele script dourado enferrujou?
De certa forma, esta incerteza, este detalhezinho, é também o que alimenta a trama do filme. Era um dia perfeito para Ethan Learner (Joaquin Phoenix), sua esposa Grace (Jennifer Connelly) e seus dois filhos, Emma (Elle Fanning) e Josh (Sean Curley). Assim como era bom também para o advogado Dwight Arno (Mark Ruffalo) e seu filho Lucas (Eddie Alderson). Enquanto os Lerners passaram a tarde em um lindo parque e ouviram o recital de Josh, Dwight e Lucas estiveram em um jogo de beisebol do Boston Red Sox. E é nesse ponto que o destino age, descarrilhando as vidas das duas famílias para sempre.
traídos pelo destino
Mas o que começa como um drama promissor, carregado de dor, vai aos poucos se desviando para um caminho confuso até se tornar um thriller. Neste processo, a perda da vontade de viver experimentada por Learner acaba eclipsando os problemas de sua própria esposa, que sofre tanto quanto ele, mas consegue juntar suas forças para seguir adiante, enquanto seu marido vai se enterrando na depressão e obsessão. E nesta equação, quem vai mostrando mais uma vez o ótimo repertório é Mark Rufallo, que a cada cena aumenta a intensidade dos problemas enfrentados pelo seu personagem.
Baseada no livro Reservation Road, escrito por John Burnham Schwartz, que assina o roteiro ao lado do diretor Terry George, Traídos Pelo Destino tem a estrutura clássica de um telefilme, daqueles que passam sábado à noite e você só assiste em último caso. Porém, escapa deste rótulo por alguns detalhes: conta com um bom cineasta na direção e reúne um ótimo elenco. Juntos, eles constróem um desfecho mais compatível com suas carreiras, o que não torna o filme uma obra-prima, mas ao menos prova que eles não estavam ali só pelo dinheiro.