Quando Ke Huy Quan leu o roteiro de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo pela primeira vez, ele teve duas certezas: “Eu senti que aquele personagem tinha sido escrito para mim, até disse isso para a minha esposa. Fiquei lendo o roteiro até 5 da manhã, rindo muito e chorando muito... Quando ela me perguntou o que estava acontecendo, disse isso a ela, mas também disse: 'Eles nunca vão me deixar interpretá-lo'”.
Reação compreensível para um ator que passou 30 anos afastado de Hollywood, simplesmente porque não havia papéis para ele no cinemão americano. Quem verbaliza essa jornada ao Omelete, durante coletiva para discutir o sucesso de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo na temporada de premiações, é Jamie Lee Curtis, colega de elenco de Quan: “Receber um papel como Waymond, cheio de camadas, pelo qual ele está sendo premiado... Ke é um exemplo vivo para todas as pessoas que sonharam, perderam o sonho e depois o reencontraram. Tudo é possível”.
“Por muito e muito tempo, Hollywood simplesmente não escrevia material, ou ao menos bom material, para atores asiáticos”, concorda Quan. “O que eu costumava receber eram roteiros em que o personagem não tinha nem um nome, e só duas falas... Muita coisa mudou, e é por isso que eu estou aqui, que eu decidi voltar à atuação. Me sinto muito grato por filmes como Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, A Despedida, Podres de Ricos, e agora Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo - e me sinto muito otimista sobre o futuro também”.
“Ao mesmo tempo, acho que o próprio fato de estarmos tendo essa conversa sobre representatividade significa que não chegamos a um lugar ideal. Espero que, um dia, não precisemos justificar a presença de um ator asiático em um filme, que nós possamos simplesmente interpretar papéis, mesmo os que foram escritos sem especificar 'chinês', 'japonês' ou 'coreano'”, completa.
Esta é a jornada e o discurso que levaram o ator a vitórias no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, posicionando Quan como o favorito ao Oscar de melhor ator coadjuvante. “Eu senti que a deusa da atuação estava olhando por mim quando fui escalado. É como se ela tivesse olhado para mim e dito: 'Você não atua há 20 anos, então vou te dar esses três papéis incríveis'”, brinca ele, se referindo ao fator “multiversal” da trama, que o obrigou a interpretar várias versões diferentes de Waymond.
“A minha favorita é a versão principal, que chamamos de 'Waymond dos Impostos'”, declara ele. “Ele é um personagem lindo, alguém que eu gostaria muito de ser... e alguém que é muito parecido com a minha esposa. Ela representa as qualidades de Waymond muito bem: ambos são gentis, tratam todos com respeito, são generosos e humildes. Eu sempre quis ser esse tipo de pessoa, e acho que não conseguiria interpretar Waymond se ele tivesse chegado até mim 10 anos atrás, ou antes de eu conhecer minha esposa. Ela me mudou como pessoa, e eu sou melhor por conta dela”.
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo está disponível para streaming pelo NOW, e para compra e aluguel em plataformas como Amazon, Google Play e iTunes.
