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Um Crime Americano

Diretor investiga assombrosa história real de sua cidade natal

21.08.2008, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H39

É curioso como Hollywood, sempre em busca de chocantes histórias reais para retratar, levou mais de quatro décadas para levar o caso de Sylvia Likens às telas. Nele, em 1965, um casal que trabalhava no circuito das feiras de parques de diversão, visando uma certa ordem na vida de suas duas filhas, deixou as meninas aos cuidados de Gertrude Baniszewski, uma passadeira de roupas e mãe de sete.

Um mês depois de receber em sua casa Sylvia e sua irmã Jenny em troca de um cheque semanal de 20 dólares, Gertrude começou a abusar das meninas. O primeiro espancamento aconteceu quando o cheque atrasou dois dias. O segundo por uma acusação de roubo. O terceiro por Sylvia ter supostamente espalhado boatos sobre a filha mais velha de Baniszewski... O quarto, o quinto... não importa. A violência já estava fora de controle.

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O diretor Tommy O´Haver cresceu na mesma Indianápolis onde o caso aconteceu. Depois de fazer seu nome em filminhos adolescentes e inofensivos como Uma Garota Encantada, escolheu a tenebrosa história real como seu primeiro longa-metragem "sério". Para tanto, empregou em Um Crime Americano (An American Crime, 2007) uma interessante estrutura que dá fundamento à trama: alternou seqüências de tribunal - nas quais todo o diálogo foi extraído dos autos do processo - com cenas que dramatizam os fatos. A alternância tem alguns truques inteligentes, que impedem quem nunca ouviu falar da história de adivinhar o destino das personagens.

O cineasta teve especial cuidado com o teor do filme, que facilmente escorregaria para um "torture porn" dramático, já que Sylvia, nua e acorrentada, era habitualmente espancada, torturada e submetida a atrocidades que reviram o estômago. Optou então por não mostrar ou sequer insinuar os maiores sofrimentos, mantendo a talentosa e corajosa atriz Ellen Page (Juno, Menina Má.com) vestida o tempo todo. Enfim, O´Haver deu à menina a maior dignidade possível perante a situação.

Houve também atenção especial na caracterização, o que irritou alguns. Catherine Keener (Na Natureza Selvagem, Capote), muito bem num papel completamente oposto do tipo que costuma fazer, não é feia como a protagonista da história. A personagem também teve seus defeitos mais óbvios e passíveis de preconceito imediato minimizados, como o vício em heroína. Se Gertrude Baniszewski fosse mostrada como era de verdade a dramaturgia já começaria prejudicada. Coube a Keener desenvolver a personagem e transformá-la aos poucos em um monstro digno de pena.

Chocado com a história, O´Haver investiga, busca alguma lógica no caso. Também oferece como pode algum conforto - um final feliz? - à devastada menina de 16 anos que sofreu o inferno na casa dos Baniszewski. No processo, também encara as próprias assombrações de sua juventude.

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