Em entrevista ao The New York Times, Uma Thurman falou pela primeira vez sobre o assédio que sofreu de Harvey Weinstein e revelou detalhes do rompimento da sua parceria com Quentin Tarantino.
Thurman, que revelou ter sido violentada aos 16 anos por um ator não nomeado, contou como inicialmente tomou o comportamento de Weinstein como excêntrico até que o produtor dos filmes de Tarantino a atacou em um hotel em Londres. "Ele me empurrou, tentou se expor, fez todo tipo de coisas desagradáveis", descreveu a atriz. Weinstein teria enviado rosas para se desculpar, mas quando Thurman o confrontou sobre o ocorrido, ele ameaçou destruir sua carreira, mas a própria atriz teria o alertado sobre o seu comportamento: "se você fizer o que fez comigo com outras pessoas, você vai perder sua carreira, reputação e a sua família". Envolvida em diversos projetos da Miramax, antiga produtora de Weinstein, Thurman manteve seu relacionamento profissional, mas conta que passou a considerá-lo um inimigo desde o ocorrido.
Representantes de Weinstein confirmaram que o produtor assediou a atriz, dizendo que ele logo se desculpou, e enviaram à imprensa diversas imagens dos dois em eventos sociais para afirmar que a relação dos dois não teria sido afetada depois do evento relatado. Já Thurman afirma se arrepender de não ter se pronunciado antes, considerando que a sua ligação com Weinstein era um dos fatores que fazia com que jovens atrizes não temessem o produtor. "Quentin usou Harvey como o produtor-executivo de Kill Bill, um filme que se tornou símbolo do empoderamento feminino. E todos esses cordeiros foram para o matadouro pois estavam convencidas de que ninguém nessa posição faria algo ilegal com você, mas eles fazem".
Na mesma entrevista, a atriz diz que Tarantino chegou a confrontar Weinstein antes da produção de Kill Bill depois da revelação do assédio e das ameaças, e que o produtor de fato se desculpou. Sua relação com o diretor, porém, foi definitivamente abalada no final das filmagens da saga da Noiva. Faltando quatro dias para o fim de uma maratona de nove meses de gravação, a atriz foi forçada por Tarantino a dirigir um carro danificado, o que causou um grave acidente no set (veja o vídeo do momento). "De colaboradora criativa passei a ser uma peça quebrada", diz a atriz, que passou 15 anos brigando com Tarantino para ter acesso ao vídeo que mostra seu acidente e conta ter sofrido lesões permanentes no pescoço e nos joelhos, mas na época foi impedida de entrar com um processo. No vídeo, Thurmam é logo socorrida pela equipe, incluindo Tarantino, e sorri quando percebe que consegue se levantar - "[na hora] senti essa dor abrasadora e pensei que nunca mais ia andar".
"Harvey me assediou, mas aquilo não me matou. (...) Sempre senti uma conexão com um bem maior no meu trabalho com Quentin e a maior parte do que aceitei e participei foi quase como uma terrível briga na lama com um irmão muito zangado. Mas pelo menos eu tinha uma escolha, sabe?", conta a atriz, que aceitou ser esganada e cuspida pelo diretor em cenas de Kill Bill, mas diz nunca ter sentido ausência de poder de decisão até o momento do acidente.
Procurado pela reportagem, Ethan Hawke, marido de Thurman na época, confirmou que confrontou o diretor pelo ocorrido e que ele se mostrou profundamente desapontado consigo mesmo. O artigo do NYT sugere que o arrependimento do diretor sobre o acidente pode ter inspirado a criação de À Prova de Morte (2007), filme que segue um serial killer que usa seu carro "à prova de morte" para causar acidentes fatais em carros dirigidos por mulheres. Zoë Bell, dublê de Uma Thurman, é uma das vítimas que consegue se vingar do personagem vivido por Kurt Russell.
Os representantes de Tarantino foram procurados, mas não se pronunciaram sobre as declarações da atriz. Depois das primeiras denúncias públicas contra Weinstein, o diretor rompeu a sua parceria com a Weinstein Company e declarou que sabia o suficiente sobre os casos de assédio envolvendo o produtor e poderia ter tomado alguma atitude na época - leia mais.