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Valentin | Crítica

<i>Valentin</i>

29.04.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Valentin
Valentin, 2002
Argentina/Holanda
Drama/Comédia - 86 min.

Direção: Alejandro Agresti
Roteiro:
Alejandro Agresti

Elenco: Rodrigo Noya, Carmen Maura, Julieta Cardinali, Jean Pierre Noher, Alejandro Agresti, Mex Urtizbeara

A infância é uma fase tão boa quanto dura. Ao mesmo tempo em que não se tem obrigações chatas como acordar cedo para ir trabalhar, ninguém leva uma criança muito a sério. Por mais madura que seja, ela será sempre vista como alguém que não sabe o que está falando.

A vida de Valentin (Rodrigo Noya) não é muito diferente disso. Aos 8 anos, ele é filho de pais separados e vive com sua avó (Carmen Maura), que perdeu o marido, o avô de Valentin, há pouco tempo. Seu grande sonho é ser astronauta. Para isso, ele treina em casa e gasta o tempo livre construindo foguetes.

Como não é difícil de se imaginar, os dois são muito solitários. Entre brigas e beijos, eles (de vez em quando) recebem a visita do tio Chiche (Jean Pierre Noher) e do pai de Valentin (interpretado pelo próprio diretor, Alejandro Agresti). Valentin tem dois amigos. Um é da escola onde estuda, o outro é seu vizinho pianista, Rufo (Mex Urtizbeara), que embora seja mais velho é um dos poucos que parece não ligar para a diferença de idade e conversa de igual para igual com o menino. Outra pessoa que entra em sua vida é Leticia (Julieta Cardinali), que entre as várias namoradas de seu pai, é a que Valentin mais quer que tome o lugar de sua mãe.

A história acima é praticamente uma autobiografia do cineasta Alejandro Agresti (Uma noite com Sabrina Love). Filho de pai católico e mãe judia, ele viu o casamento de seus pais se desintegrar e viveu, a partir dos anos 60, dias cheios de mudanças e disputas políticas, com as revoluções armadas, a morte de Che na Bolívia, as ditaduras militares, uma onda de anti-semitismo na Argentina. Tudo isso é usado como pano de fundo para este drama do menino que só quer ter alguém para chamar de pai e mãe.

Tiro certeiro

Ferramenta importantíssima para cativar o público, o uso de um personagem infantil pode também ser um tiro pela culatra caso o jovem ator não consiga convencer a platéia. Não é o caso aqui. Agresti foi muito feliz ao escolher Rodrigo para o papel principal e deu liberdade para o guri, que além de atuar também narra a fita. O Vale interpretado por ele é um menino que pode falar algumas coisas erradas, como qualquer criança de sua idade, mas que fará tudo o que puder para mudar a vida das pessoas que ama, como (em graus diferentes) fez Amélie Poulin.

Esta soma de virtudes fez de Valentin o filme indicado pela Argentina para concorrer à lista dos indicados ao Oscar de filme estrangeiro deste ano. Não conseguiu, mas não foi por deméritos. Apesar de todo o sofrimento, é um filme que pode modificar o dia de quem o assiste, tornando-o mais prazeroso.

No lançamento de Diários de Motocicleta para a imprensa, o cineasta brasileiro Walter Salles Jr. (Central do Brasil, Abril despedaçado) disse que ao contrário do que se diz na Europa, o melhor cinema jovem da atualidade não vem da Ásia. Ele é feito aqui, na América Latina. Valentin, do alto de seus 8 anos de idade comprova isso.

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