Há um debate interessante sobre Vingança, filme dirigido e roteirizado pelo gaúcho Paulo Pons. Primeiro de uma tetralogia independente de baixo orçamento (filme realizados com verba entre 80 e 120 mil), o suspense foi, nas palavras do diretor, "feito para o público".
A declaração reverberou nos festivais onde o filme foi exibido antes de entrar em circuito comercial. Questionou-se o que é "filme de festival", o cinema autoral e a validade de algo criado tendo o público em mente. Mas quem saiu prejudicado foi o próprio filme, que vários críticos diminuíram, provavelmente influenciados pela discussão, preconceito ou o habitual cansaço de festival que abate qualquer um que passe duas semanas vendo 3, 4 longas por dia. Perdeu-se o foco, portanto.
vingança
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Nas condições ideais - ou seja, uma sessão de cinema normal - Vingança funciona bem. Pons mirou em um tipo de cinema comercial (e não há qualquer demérito aqui) e acertou. Ele fez exatamente o tipo de longa-metragem que costumamos questionar a inexistência no Brasil: o filme de gênero. E daí que ele não inovou na linguagem cinematográfica ou realizou uma exploração humanitária, dois dos elementos que abundam em festivais? O cinema comercial tem tanto valor quanto o autoral artisticamente, basta que tenha qualidade técnica suficiente e seja realizado sem diminuir o espectador, sem subestimar sua inteligência, erro em que Vingança não incorre.
Revelada aos poucos, mantendo sempre o interesse, a trama elaborada do filme segue a melhor tradição dos thrillers. Nela, Miguel (Erom Cordeiro), um professor, vai ao Rio de Janeiro com um misterioso objetivo. Durante a noite ele espreita Carol (Branca Messina), mas seu intuito não é claro. Aos poucos eles se aproximam - e Miguel pode colocar tudo a perder.
O trio de protagonistas é sólido. Erom Cordeiro (Sexo com Amor), como o interiorano Miguel, saiu-se muito bem na difícil tarefa de interpretar um personagem do qual não sabemos nada quase o filme inteiro, mostrando-se aos poucos. Mas é Branca Messina (Não Por Acaso) que rouba a cena como Carol, menina atirada e com dinheiro que conquista Miguel - e o público - contra todas as expectativas e preconceitos a seu respeito.
O roteiro tem lá seus defeitos e alguns personagens e situações dispensáveis, especialmente na segunda parte, quando
o caso começa a ser desvendado. A chegada do personagem de José
de Abreu antecipa o climax - que imagino que deveria ser o mistério
em si e não sua resolução - e deixa algumas perguntas incômodas
no ar. A maioria dá pra relevar facilmente, mas há uma que dá
pra caracterizar como furo. Se a pessoa que Miguel buscava havia aparecido em
uma foto, como ele tinha dúvida de sua aparência? Era um ponto
a ser melhor trabalhado.
Felizmente, Pons tem mais três filmes pela frente para se aperfeiçoar.