Em 2004, um dos maiores fenômenos da televisão americana chegou ao seu fim, quando Friends encerrou uma jornada de 10 temporadas. Com um dos episódios finais mais assistidos na história da TV, a produção terminava de modo brilhante, mas também representava o fim de uma audiência garantida para a NBC. Para tentar resolver isso, a emissora se aproveitou de um personagem conhecido e lançou, nem seis meses depois, um derivado que acabaria se tornando um dos mais infames da TV até hoje: Joey.
Lançado em setembro do mesmo ano, Joey buscou capitalizar no querido personagem de Matt LeBlanc levando-o para Los Angeles, com a premissa de vê-lo tentar emplacar sua carreira de ator. Na série, Joey Tribbiani se reconecta com sua irmã Gina (Drea de Matteo) e vive com seu sobrinho Michael (Paulo Costanzo), levando uma vida que ignorou a existência de seus melhores amigos de Friends e a sua vida em Nova York. Este foi definitivamente o primeiro erro que tornou a série um exemplo a não ser seguido; em Joey, o protagonista parecia completamente fora do mundo que conhecíamos antes, ao ponto de que nem parecia o mesmo amigo bobo e com um coração de ouro.
Isto aconteceu em grande parte porque Joey teve pouco envolvimento da equipe criativa por trás de Friends, com a recusa dos criadores Marta Kauffman e David Crane de participar do projeto. O terceiro criador de Friends, Kevin S. Bright, continuou ao lado de LeBlanc como um dos produtores executivos, mas até hoje insiste que o derivado acabou pela interferência do estúdio, que transformou o personagem para alguém distante do que o público conhecia na série original. Falando sobre o resultado final, Bright resumiu perfeitamente como a série mudou o espírito de Tribbiani [via The Age]: “Joey foi desconstruído para um cara que não conseguia nem um emprego, nem sair com uma mulher. Ele se tornou um personagem patético, deprimido”.
Joey durou duas temporadas que viram a audiência declinar cada vez mais, e foi cancelado em maio de 2006, no meio de seu 2º ano, sem chegar a transmitir oito episódios que já estavam gravados. Mas não foi apenas a decadência do público que levou a decisão de tirar Joey do ar, mas a recepção da crítica também teve peso. Segundo as críticas da época, a série havia alterado os fundamentos de Joey Tribbiani ao mesmo tempo que não mudou as estruturas de Friends, deixando óbvia a falta que os outros cinco personagens faziam. E enquanto algumas coisas funcionavam - como a agente de Joey, interpretada por Jennifer Coolidge - Joey sempre chamava mais atenção pela comparação negativa com sua série original.
O próprio Matt LeBlanc também já falou diversas vezes sobre a história triste de Joey, nunca tirando sua parte da responsabilidade, mas enfatizando a dificuldade que a série teria de fazer sucesso [via Metro]: “Estava amaldiçoada desde o começo”, ele explica. “Era responsabilidade demais. A pressão era tanta, eu lembro de sentir que um elefante havia sentado na minha cabeça”.
Enquanto Joey é uma página triste na história de Friends, o derivado serviu como um tipo de lição na televisão. Talvez tenha sido a pressa em produzir um derivado ou a simples ambição de lucrar se aproveitando do sucesso de um produto anterior, mas Joey virou um conto preventivo do que não fazer em uma série.
Felizmente, este não foi o fim de LeBlanc na TV. Depois do fracasso de Joey, o ator saiu em um hiato e retornou em uma série muito melhor, que inclusive brincava com os altos e baixos de sua carreira. Em Episodes, série inglesa lançada em 2011, o ator interpretava ele mesmo, adaptando uma série britânica nos EUA.
A série, que durou cinco temporadas, não foi apenas um sucesso de crítica como rendeu ao ator um Globo de Ouro por melhor atuação e quatro indicações ao Emmy, mais do que sua carreira em Friends. Provando mais uma vez seu talento, LeBlanc sacudiu a poeira de Joey e deu a volta por cima, aproveitando o espírito quase metalinguístico de Episodes para fazer um comeback divertido nas telas, sempre tirando sarro de si mesmo.