A guerra já chegou em Westeros no terceiro episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão, e a primeira cena do capítulo evidencia isso com uma confusão entre grupos de jovens Bracken e Blackwood. Mas a briga entre as duas casas não é nova, tem vários momentos interessantes e até apareceu algumas vezes na história de Game of Thrones.
[Spoilers de A Casa do Dragão e dos livros de George R. R. Martin]
Intitulado “O Moinho Ardente” em referência a batalha dos Blackwood e Bracken, o terceiro episódio do segundo ano da série começa com Aeron Bracken (Ryan Kopel) se gabando para alguns companheiros sobre seu recente título de cavalaria. Nisso, quatro rapazes usando as cores Blackwood se aproximam e dizem que os Bracken moveram as pedras que marcavam a fronteira entre seus territórios, favorecendo a casa de Aeron. O cavaleiro diz que as terras são de sua família, e então os dois começam a disparar insultos um ao outro, lembrando que os Blackwood se mantiveram leais a Rhaenyra (Emma D’Arcy), enquanto os Bracken reconheceram Aegon (Tom Glynn-Carney) como rei.
A cena corta, então, para o mesmo campo em que a briga começou, só que agora cheio de corpos caídos e destruição. Um dos mortos, inclusive, é o próprio Aeron, e ao fundo é possível ver um moinho pegando fogo. A luta ficou conhecida como Batalha do Moinho Ardente, e acabou cheia de baixas para ambos os lados, servindo de justificativa para os Verdes e os Pretos mobilizarem suas tropas e partirem para a guerra efetivamente.
Mas essa rivalidade não começou com uma briga entre apoiadores de Rhaenyra e de Aegon. Na verdade, ela é milenar, e ninguém sabe exatamente o porquê começou. A rixa entre as casas remonta ao período de Westeros conhecido como Era dos Heróis, bem antes do reino ser unificado e os Targaryen sentarem no Trono de Ferro. Naquela época, o continente era dividido em vários pequenos reinos, e muitas das casas mais tradicionais entre a nobreza westerosi eram governantes. Esse era o caso dos Bracken e dos Blackwood, que foram reis em suas terras e, segundo ambas as casas afirmam, chegaram a governar as Terras Fluviais.
Vale dizer que cada casa tem a sua versão sobre o período: os Blackwood alegam que eram poderosos reis da região no passado, e os Bracken seriam senhores sem importância decididos a traí-los e tirá-los do trono. Os Bracken, por sua vez, dizem o exato oposto, é claro.
Visto que seus territórios são vizinhos e muitas disputas de poder assolaram a região por séculos, não é difícil imaginar que essas pequenas disputas foram se somando e cultivando uma rivalidade que só crescia. Porém, alguns pontos de discordância se destacam, como é o caso de suas diferenças religiosas. Os Blackwood são uma das últimas casas ao sul do Gargalo a cultuar os deuses antigos, herança cultural de sua origem entre os Primeiros Homens. Já a casa Bracken, como a maioria de Westeros, se converteu à Fé dos Sete com a invasão dos Ândalos no continente.
Muitos episódios emblemáticos marcam a conturbada relação entre os vizinhos. Uma delas alega que foi algum membro da família Bracken quem envenenou o represeiro sagrado de Solar de Corvarbor, sede da família Blackwood e que enfeita o seu estandarte. Séculos depois, durante o reinado de Aegon IV, o Indigno, a rixa foi inflamada numa briga infame pelo território que ficou conhecido como Tetas, duas colinas na divisa dos territórios. O ponto é que Aegon IV teve, entre suas muitas amantes, Barbra Bracken e Melissa Blackwood. O rei, por capricho, tirava esses territórios de uma família e passava à outra conforme sua preferência pelas amantes - além disso, as tais colinas passaram a ser conhecidas como Tetas de Missy ou Tetas de Barbra, dependendo de qual lado estivesse falando.
A briga simbolizada por Barbra e Missy ainda seguiu com seus filhos, já que ambas tiveram garotos que cresceram e ficaram famosos como os Grandes Bastardos de Aegon IV. Barbra deu à luz Aegor Rivers, o infame guerreiro Açoamargo; enquanto Missy era mãe de Brandon Rivers, o misterioso Corvo de Sangue. Os dois são protagonistas nas Rebeliões Blackfyre, outro episódio marcante da história de Westeros - e que deve aparecer na nova série O Cavaleiro dos Sete Reinos.
Já durante o tempo em que se passa As Crônicas de Gelo e Fogo, as duas casas brigaram bastante, inclusive tomando lados opostos na Guerra dos Cinco Reis. Aqui, os Bracken - inicialmente vassalos dos Tully - se renderam aos Lannister e se curvaram ao Trono de Ferro dominado pelos filhos de Cersei, enquanto os Blackwood, muito próximos aos Stark, mantiveram a lealdade ao Rei do Norte e não se curvaram.
Eles também tiveram momentos raros de trégua, como quando se uniram para lutar contra os Ândalos em sua invasão (infelizmente, foram derrotados por 777 cavaleiros ândalos e sete septões usando a estrela de sete pontas em seus escudos). Além disso, o filho bastardo de uma união entre as casas deu origem a casa Justman, que governou as Terras Fluviais por quase três séculos. Na história recente, cerca de cem anos antes dos eventos de Game of Thrones, a briga tinha cessado por um período, até que Sor Otto Bracken matou Lorde Quentyn Blackwood em um torneio. Já durante o governo de Aerys II, o Rei Louco, a sua Mão Tywin Lannister teve que lidar com uma disputa de terras entre as casas, que brigavam por um moinho.
Foram inúmeras as tentativas de resolver a briga, tendo até mesmo o rei Jaehaerys I, o Conciliador, dedicado um tempo a isso, mas qualquer pequena fagulha é capaz de acender esse fogo todo novamente. Agora que A Casa do Dragão trouxe um aperitivo dessa rivalidade, resta esperar para ver os próximos capítulos da treta lendária nas Terras Fluviais.