[Crítica atualizada com a análise do episódio final do jogo]

The Walking Dead: The Game

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The Walking Dead: The Game

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A questão primordial quando se pensa em um game de The Walking Dead é: o título faz jus aos quadrinhos e à série de TV? Vai envolver o público como as outras mídias da mesma franquia? A New Day é somente o primeiro episódio (de uma série de cinco) de The Walking Dead: The Game, mas com ele já é possível responder com clareza estas questões.

O tom, a arte, os personagens e as missões do game capturam a tal aura dramática das HQs: o importante aqui não são somente os zumbis, mas como as pessoas passam a se relacionar em um cenário tão perigoso e pós-apocalíptico. Levando em conta de que o jogo episódico é leve (somente 400MB), o trabalho de arte é absolutamente bem-feito, mesmo que existam pequenos problemas em beiradas de alguns cabelos, ou outros objetos angulosos.

Os gráficos utilizam cel-shading para deixar claro o traço de quadrinho, alterar expressões e dar vida aos personagens, todos ricos e bem-construídos. E são todos baseados na graphic novel – assim, Hersell e Glenn podem parecer um pouco diferentes se você assistiu somente ao seriado de TV. O título também toca em assuntos não explorados nos quadrinhos, como o passado de alguns sobreviventes. O protagonista, Lee Everett, porém, é um novato: condenado e preso por assassinato, se safa de uma morte prematura com alguns mortos-vivos e acaba tomando conta de uma menina chamada Clementine.

É como se Lee fosse um tipo de segurança, ou "babá" de Clementine, mas esta foi a minha opção para o game. Inclusive, a partir do momento que você escolhe um caminho, todas as consequências dos seus atos serão lembradas e servirão para moldar o personagem principal e a narrativa. Muitas vezes, porém, não há muito tempo para escolher entre as possibilidades de diálogos, então você pode se sentir agindo por instinto. Assim como nos quadrinhos, o tema é pessoal. E, também, claro, trazem um valor de replay ao título, já que você pode experimentar novas possibilidades. No entanto, se você tentar uma segunda aventura, como eu, verá que talvez prefira o seu primeiro Lee: as escolhas são simples, mas determinam muito do personagem e mudá-las é mais uma brincadeira.

Logo ao final do game, você descobre a porcentagem de pessoas que tomaram a mesma decisão que você, o que é um adicional interessante. Eu, por exemplo, percebi que estou junto com mais 50% dos jogadores, menos em uma das escolhas cruciais do jogo.

Em termos de mecânica, o jogo é bem mais um point-and-click do que um jogo de tiro, o que faz sentido: The Walking Dead não é um Left 4 Dead - e não deveria ser. O título funciona como um quadrinho que se joga. A cada novo cenário, você poderá explorar pontos de interesse, resolver quebra-cabeças e interagir com objetos e pessoas. Isto é, mova o cursor, entenda o que pode ser feito naquele ambiente, mire e aperte os botões. Pode não parecer complexo como um game de guerra, mas serve ao propósito de criar tensão. Mesmo porque, os zumbis não são decepados a cada segundo e cada morte é relevante. Em algumas delas você precisará ser rápido, mas todas têm um certo teor de furtividade.

O único problema real de A New Day é sua câmera, que fica próxima demais à ação e ao personagem. Muitas vezes da vontade de saber o que está do outro lado do quarto, mas ela o impede. Este é um game que preza a construção de uma história em conjunto com o jogador e em momentos assim, quando a câmera não colabora, um pouco da imersão fica perdida, nem que seja resgatada minutos depois, com a chegada de mais uma ameaça.

Outros jogadores podem até afirmar que gostariam de quebra-cabeças mais complicados ou profundos. A estes, vale lembrar que o primeiro episódio é somente um prelúdio, com cerca de duas horas de duração. A dificuldade geral da série ainda pode ser colocada à prova adiante.

Para os amantes da série de quadrinhos, A New Day é uma surpresa, um jogo melhor do que se esperava de uma série episódica e que vale a pena ser testado.

ATUALIZADO, 29/11 - O game como um todo

Depois de ter todos os seus cinco episódios lançados, The Walking Dead: The Videogame pode ser analisado como um produto completo. A primeira coisa que chama a atenção - e que pode ser percebida logo no segundo capítulo - é a questão das escolhas e das consequências. Não existe somente preto e branco no universo do jogo e muitas das decisões terão impactos que não foram calculados pelo jogador. Não há somente o caminho do bem ou do mal, existe apenas uma invasão de zumbis, e o que você faria para sobreviver. Neste ponto, o título é profundo e foge da convenção bandido-mocinho, já que entre os sobreviventes ninguém é inteiramente nenhum dos dois. É um reflexo mais verdadeiro da vida e Walking Dead: the Videogame dá uma profundidade às escolhas muito maior do que a encontrada em vários jogos. Não há respostas simples.

Também há uma sensação de urgência na série, que é colocada durante todo o jogo, mas não apressa o jogador. Se por um lado há poucos segundos para fazer uma escolha entre os diálogos. Por outro, isso não significa que a exploração não aconteça. Há tempo para verificar todas as possibilidades. Agora, o momento de fazer a ação certa para não ter o cérebro comido esse sim é precioso. Dessa forma, assim como nos quadrinhos, há uma balanceamento entre as temporalidades, que não retira do jogador (e do leitor) a impressão de premência.

Na jornada dos capítulos, não são somente os zumbis que morrem de fome. Existe a necessidade de lidar com problemas para a comunidade dos vivos, como falta de comida ou problemas com as alianças realizadas. Neste ínterim, porém, a relação entre Lee e Clementine se desenvolve com beleza; às vezes delicada, às vezes brutal.

Cada episódio trouxe novos personagens e encerrou a saga de alguns, portanto, é importante que o protagonistas tenha ao menos uma âncora emocional. O quarto e penúltimo episódio, que conduz ao grand finale, forçou um pouco nesse sentido, guiando demais as situações, de modo a levar a narrativa para onde ela deveria estar antes do quinto capítulo. Contudo, fora este deslize e pequenos problemas de frame rate, não há muito do que apontar de negativo sobre The Walking Dead.

Estas duas falhas ficam irrelevantes quando o jogador chega ao capítulo conclusivo. O conto como um todo é cativante e aterrorizante, no tocante de uma pergunta muito básica: por que existimos?

O quinto episódio da série faz esse e outros questionamentos, dando ao clímax a imersão esperada. E mais importante: esse final é composto das escolhas do jogador, então ele reflete quem é você (como líder, como reage em situações extremas, etc). Todas as consequências dos seus atos estarão lá: presentes e imponentes. Há uma cena pós-créditos que divide opiniões e foi criticada por alguns, mas também vi nela mais do brilhantismo que permeia todo esse capítulo final de um dos mais impressionantes conteúdos episódios já realizados.

The Walking Dead: The Game é arte serial, mesmo que os problemas técnicos existam do começo até o final. É uma experiência. É um mergulho. É um game que você tem que jogar.

Nota do crítico