Há um mês, no dia 29 de abril, Grand Theft Auto IV foi lançado para PS3 e Xbox 360. No mesmo dia, todos os sites especializados em games do mundo começaram uma enxurrada de notas 10 para o game. Em vez de uma simples resenha do jogo, vale mais a pena responder à pergunta: todos esses "10" são merecidos, ou é tudo um hype em cima de uma série polêmica?

Primeiro, vamos situar os leitores que voltaram de Saturno ontem, começando pelo cenário do jogo. Liberty City nunca se pareceu tanto com uma cidade real como em GTA IV. É impressionante a quantidade de detalhes, seja nas construções, nas pessoas ou nas situações que acontecem ao seu redor. Sair para "dar um rolê" em Liberty City e ver como a cidade se comporta é um programa de antropologia. Nas ruas, as pessoas conversam, brigam, compram coisas, correm, sacam dinheiro em caixas eletrônicos, tudo como em uma cidade real. Mais especificamente a metrópole conhecida como Nova York (Liberty, Liberdade, Estátua da Liberdade, pegou?). Sempre tem gente nas ruas, policiais, bombeiros, ambulâncias, táxis, muitos carros e motos. A caracterização das vizinhanças também é muito detalhada. Em bairros mais pobres, o asfalto é ruim e remendado, os muros são pichadas e sujos. Já nos bairros ricos, as ruas são limpas, há um mais policiais e o caminhão do lixo passa com maior frequência. Perto do aeroporto, você começa a ver os aviões pousando e levantando vôo. São várias lojas de roupas, armas e diversos restaurantes, além de barraquinhas de cachorro quente espalhadas pelas ruas. E agora você tem diversas opções de lazer: jogar dardos, sinuca, boliche, ir a shows de comédia Stand Up, casas de strip-tease, comer fora. A vida social de Liberty City é bastante agitada. A cidade, sim, merece uma nota 10.

GTA IV

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Mas a cidade não é nada sem seus personagens. E o protagonista de GTA é você, na pele de Niko Bellic, um ex-soldado do leste europeu, imigrante ilegal recém-chegado em um cargueiro no porto de Liberty City. A iniciação com as maravilhosas oportunidades que só a Terra da Liberdade oferecem é seu primo Roman. É ele quem vai te ajudar a fazer os primeiros contatos na nova cidade - incluindo aí sua primeira, digamos, "namorada". Seu nome é Michelle, e ela é amiga da namorada de Roman. Além de trabalhar para esses contatos todos, inclusive para seu primo Roman, você tem que dar atenção para as "namoradas" e amigos, saindo com eles para ver shows, comer, beber, jogar boliche, sinuca, dardos, enfim, se divertir. O respeito e consideração por Niko crescem não só quando ele faz as missões do jogo, mas também quando sai para se divertir com os amigos. E sabendo que na balada você pode encontrar figuras como o traficante jamaicano que atende pela alcunha de Little Jacob e um playboy marombado chamado Brucie, vale a pena sair para se divertir e desencanar um pouco das missões às vezes. Os personagens, também, merecem nota 10.

E você pode conhecer mulheres pela Web. É só ir até o TW@ Internet Cafe e usar a rede social de encontros, trocar e-mails e até navegar pela Internet do jogo. Um ponto novo na série é a quantidade de meios de comunicação disponíveis em Liberty City. Além das rádios nos carros, agora você pode navegar na Rede, receber SMSs e ligações em seu celular e assistir TV. Tudo, claro, com o humor peculiar de GTA. Na TV, por exemplo, você pode assistir à série "America’s Next Top Hooker", além de infomerciais de diversos produtos e documentários sobre a cidade. Do seu celular, você pode receber ligações e SMSs com missões, convites para sair com os amigos ou encontros com suas namoradas, além de também poder ligar para a galera convidando para uma balada. Pode ainda, ligar para a Polícia, para os bombeiros ou para o hospital, pedindo para mandarem uma viatura onde você está. É só pegar seu celular e discar 911! A interface com o jogo é nota 10.

Para se locomover entre todos esses lugares onde ficam seus contatos, não faltam opções de carros e motos, cada um com sua física própria para dirigir. Como já é clássico na série, você pode se aventurar atrás dos volantes de táxis, carros de polícia, caminhões de bombeiro e ambulâncias, cada um com missões específicas. O mapa da cidade, que funciona como seu guia no jogo, agora tem funções de GPS, indicando os caminhos para os lugares que você selecionar. E, se quiser, também dá para ativar a navegação por voz, que fala quanto andar e onde virar. Muito útil numa cidade desse tamanho. E não é só isso. Além de dirigir os veículos que você "adquire" no jogo, e o metrô, já presentes em versões anteriores, agora você pode ligar para seu primo, que é dono de uma empresa de táxis, e pedir uma viatura para te levar aonde quiser. Ou, simplesmente, quando aparecer um táxi na rua, esticar o braço e pedir para o motorista te levar. Como bom taxista que se preze, ele vai puxar papo com você no caminho. Ah e mesmo num jogo que não preza pela civilidade, se sair para beber com os amigos, voltar bêbado para casa pode ser um desafio enorme e um táxi talvez seja uma pedida consciente. No ponto forte de GTA, que é dirigir vários tipos de veículos por aí, claro, a nota é 10.

Mas o que faz esse jogo diferente de seus predecessores é uma história muito bem feita. Você presta atenção na vida de Niko Bellic muito mais que em qualquer outro GTA. Quando Niko chega aos Estados Unidos, a terra das oportunidades, e descobre que seu primo mora em apartamento nojento no subúrbio, deve dinheiro para agiotas mafiosos e tem uma empresa de táxis, descobre na pele que o sonho nada tem a ver com a realidade. O jeito, então, é usar suas habilidades de ex-soldado no front de Liberty City, que vive em eternas batalhas entre polícia, gangues, mafiosos e todo tipo de mau elemento. Ao contrário de todos os outros GTAs, Niko Bellic tem uma identidade, tem personalidade e a história dele te prende no jogo. A história é nota 10.

As missões do game também são bem variadas. Desde ser o piloto de fuga de algum fora da lei até explodir prédios, passando por roubos de carro, matar desafetos, pilotar lanchas e helicópteros. O novo sistema de cobertura e mira ajuda bastante em algumas missões. Você se esconde atrás de paredes, carros, e a mira mostra a energia de seu imigo, o que facilita muito na hora de saber quanto atirar em cada um. Os minigames, como sinuca, dardos e boliche, não são nenhuma obra-prima, mas servem para matar o tempo. Em Liberty City, você só fica sem ter o que fazer se quiser. E mesmo se esse for o caso, o simples fato de sair andando pela cidade já é uma baita diversão. Diversão nota 10!

Sempre polêmico, o jogo é classificado para maiores de 17 anos. E não é à toa. Os personagens usam muitas palavras de baixo calão, fumam, bebem, fazem sexo (não explícito, mas ouve-se bem) e são extremamente violentos. E não adianta ficar pensando que pelo menos os palavrões estão em inglês e a molecada não vai entender. Uma hora eu bati em um outro carro na rua e ouvi do motorista um sonoro "filha da p*t@!", em português mesmo. Pelo jeito, além de hispânicos, Liberty City também tem a sua colônia de imigrantes brasileiros. A polêmica e, por que não, o humor, também são nota 10.

Para não dizer que tudo é perfeito, o jogo ainda apresenta alguns problemas técnicos no PS3. Os mais irritantes são travamentos, que levam a vários segundos de tela congelada, que depois volta ao normal, como se nada tivesse acontecido. Nas tentativas de jogar online, também tive muito lag, mas isso não sei se é do jogo ou da Internet brasileira, que é mais capenga do que a casa do Roman. A primeira vez que você roda o jogo no PS3, ele instala parte do game no HD, o que leva uns bons 10 minutos e é até bom, porque ele é bem pesado. Além disso, ser popular e ter vários amigos na trama pode acabar saindo pela culatra. Assim como os amigos de verdade, manter todos felizes demanda trabalho e tempo que você poderia gastar de outra forma.

Então, respondendo à pergunta do começo do texto, sim, os 10 são merecidos, mesmo com todo hype em torno do jogo. Para quem tem um PS3 ou um Xbox 360, GTA IV é "O" game.

Assista a clipes do game