The Last of Us nasceu no PlayStation 3 como um jogo, inicialmente, sem a pretensão de receber uma sequência. Quando o game começou a ser desenvolvido em 2009, as produções sobre zumbis se pautavam em um conceito mais tradicional que, ainda que não estivesse tão saturado, já caminhava para seu auge.

Em outras mídias, a fórmula do apocalipse zumbi mídias trazia inspirações – ou mesmo replicações diretas – dos jogos de Resident Evil, como é o caso dos quadrinhos de The Walking Dead e dos livros de Max Brooks (Guerra Mundial Z e o Guia de Sobrevivência aos Zumbis).

Crédito: Naughty Dog

Mesmo monstro, nova mitologia

A Naughty Dog ousou ao criar uma propriedade intelectual com essa temática, mesmo entendendo que se tratava de uma construção que, em breve, apresentaria sinais de desgaste. Por isso, a história criada por Neil Druckman se valeu de conceitos tradicionais, mas trouxe uma nova origem, mitologia e cultura própria para esses monstros.

Crédito: Lessons from the Screenplay

Tradicionalmente, em obras sobrenaturais, os mortos retornam a vida por meio de uma maldição, ao passo que nas ficções modernas, infecções virais matam o hospedeiro e o colocam em estado de necropsia, mantendo atividades instintivas.

Em The Last of Us, a infecção fúngica causa uma mutação ativadora no hospedeiro ainda vivo. Essencialmente, os zumbis não chegam a morrer e suas alterações de aparência não são decorrentes da decomposição, mas do crescimento dos fungos pelo corpo.

Naughty Dog

Com isso, Druckman conseguiu explorar criaturas bizarras, cuja aparência é assustadora o suficiente para impressionar, mas sem repetir necessariamente os clichês do gênero.

Desenvolvimento e recepção

The Last of Us começou a ser desenvolvido em 2009, pouco tempo depois do lançamento de Uncharted 2: Among Thieves. Com o sucesso da franquia de Nathan Drake, a Naughty Dog se viu pela primeira vez trabalhando com dois times distintos no estúdio. Enquanto uma das equipes trabalhava na sequência de Uncharted, um time secundário focou em desenvolver a nova propriedade intelectual.

Crédito: Naughty Dog

O jogo foi anunciado oficialmente apenas em 2011 e lançado para o PlayStation 3 em junho de 2013. Mesmo com alguns problemas de jogabilidade, The Last of Us foi um sucesso de críticas e vendas, atingindo 1,3 milhão de unidades vendidas em apenas uma semana. 

Crédito: The Enemy

Com seu lançamento no final da vida do PlayStation 3, naturalmente o jogo recebeu uma versão remasterizada pra o PlayStation 4 em julho de 2014. Com a nova versão e seus conteúdos extras, em 2018 The Last of Us entrou para história como um dos jogos mais vendidos da história, alcançando impressionantes 17 milhões de unidades.

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A jogabilidade traz um ritmo bem menos intenso que Uncharted, mas também focada no combate e exploração em terceira pessoa com dois personagens simultâneos. Primariamente, os jogadores controlam Joel, tendo Ellie como uma personagem secundária que sempre o acompanha – parte para acrescentar o medo de perdê-la, parte para auxiliá-lo em combate e quebra-cabeças.

O combate é bem limitado, podendo ser irritante em alguns momentos, e o sistema de criação de itens, além de repetitivo, muitas vezes parece não fazer sentido. Ainda assim, essas questões não diminuíram o sucesso de The Last of Us.

“Simulador de Pai Triste”

Além do cenário pós-apocalítico, repleto de monstros e conflito entre facções de sobreviventes não infectados, a trama do primeiro jogo tem como foco o relacionamento de Joel e Ellie

O personagem interpretado por Troy Baker perde sua filha de maneira trágica nos primeiros minutos do jogo. Assim, ele luta para não se afeiçoar à garota que precisa escoltar – e que pode representar a cura da infecção que assola o mundo.

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Ellie, interpretada por Ashley Johnson, também reluta para reconhecer uma figura paterna em Joel. Dessa forma, a linha narrativa principal  orbita em torno da construção e amadurecimento dessa relação, colocando o caos do mundo como contexto, e não fio condutor.

Mesmo sendo apelidado carinhosamente de “Simulador de Pai Triste”, é impossível negar que a relação entre as personagens é extremamente cativante. Esse elemento, combinado ao ápice da trama no último capítulo do jogo, garantiu a The Last of Us o merecido título de jogo do ano.

Crédito: The Enemy

Minissérie em quadrinhos e Left Behind

Como parte das ações de divulgação do primeiro jogo, a franquia recebeu uma minissérie em quadrinhos em 2013 pela Dark Horse Comics, que acompanha a vida de Ellie antes dos eventos de The Last of Us. 

The Last of Us: American Dream narra os conflitos da protagonista que, ao completar 13 anos, se vê dividida entre se juntar à luta armada ou sobreviver por conta própria.

Em fevereiro de 2014, a Naughty Dog lançou o conteúdo adicional The Last of Us: Left Behind. O DLC, incluso na versão remasterizada para o PlayStation 4, serve como prequela para o jogo original, dando continuidade aos eventos narrados nos quadrinhos.

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Left Behind foca bem menos em combate e mais na exploração, narrativa e quebra-cabeças. O DLC também foi a primeira experiência em que os jogadores puderam controlar Ellie durante todo o jogo.

Musical One Night Live

Para promover o lançamento da versão remasterizada do PS4, a Sony produziu um musical com única apresentação no dia 28 de julho de 2014, no The Broad Stage, em Santa Mônica. Neil Druckman escreveu e dirigiu o espetáculo e ainda acrescentou um final alternativo.

O musical foi transmitido simultaneamente nos canais oficiais do PlayStation na Twitch, YouTube e na plataforma PlayStation Live.

The Last of Us Part II: anúncio e expectativas

Por anos, a especulação sobre uma eventual sequência dividiu opiniões. Muitos acreditavam que a maneira como o primeiro título se encerrou não deixava abertura para uma sequência. Por outro lado, o sucesso estrondoso de The Last of Us tornava quase impossível a tentação de transformá-lo em franquia. 

Crédito: The Enemy

Apenas em 2018, com o PlayStation 4 encaminhado para o final de seu ciclo, a Sony e a Naughty Dog confirmaram oficialmente que uma continuação para a história de Ellie e Joel estava a caminho.

Por se tratar de uma continuação, naturalmente a comunidade esperava um maior protagonismo de Ellie, mas foi surpreendida completamente com a forma como a Naughty Dog optou por implementar isso.

Narrativa mais complexa

Lançado em junho de 2020 para PlayStation 4, The Last of Us Part II foi recebido em meio a muitas críticas. Uma das críticas está relacionada à foma como o estúdio escolheu trazer o foco para Ellie. Logo no início do segundo jogo, Joel é removido abruptamente da trama e se torna a principal motivação para Ellie sair em sua nova jornada.

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Outro ponto de estranhamento por parte do público se encontra mais adiante na história, quando o jogo muda para o ponto de vista de Abby, principal responsável pelo destino de Joel. Não satisfeitos em atacar abertamente as escolhas criativas, uma parcela menor – mas extremamente barulhenta – da comunidade ainda se valeu das redes sociais para atacar deliberadamente a atriz Laura Bailey, que interpreta Abby.

Jogabilidade aprimorada

A jogabilidade do primeiro The Last of Us coloca o jogador explorando um mundo pós-apocalíptico com visão em terceira pessoa. Além de desbravar áreas infestadas por infectados, invadir regiões dominadas por outras facções é um elemento crucial do jogo, e isso se manteve na sequência.

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Outros elementos importados do primeiro game são a personalização e aprimoramento de armas por meio do sistema de criação de itens e o forte elemento de furtividade. O som se faz essencial tanto para o jogador se manter escondido quanto para perceber ameaças. 

O sistema de cobertura, já tradicional dos jogos de ação, também é um fator importante da jogabilidade da franquia. 

Um dos principais problemas desses elementos no primeiro jogo é que, justamente por combinar muitas funcionalidades, algumas delas são lentas se comparadas a outros jogos do gênero, inclusive da mesma época. Isso acaba prejudicando o jogador em momentos em que a ação é mais frenética e as respostas precisam ser rápidas.

Por usa vez, uma das melhores partes de The Last of Us Part II é que praticamente todas as questões de jogabilidade que tornam o original datado foram resolvidas. O combate é mais fluido, as opções de exploração foram expandidas e o sistema de furtividade e cobertura melhorados. 

Representatividade

Outro ponto fortíssimo da sequência está na forma como a equipe de roteiristas da Naughty Dog abordou e construiu a representatividade de seus personagens. No primeiro jogo, Ellie ainda era uma criança, mas TLOU já traz a personagem mais velha e madura.

Crédito: The Enemy

Ao abordar a personagem assumidamente bissexual, o jogo trabalha profundamente a forma como lida com sua sexualidade e com os preconceitos estruturais ainda enraizados, mesmo em um mundo destruído.

O casal Dina e Ellie cativou o público, e ambas estão tranquilamente entre as personagens femininas mais bem-construídas da indústria de games. The Last of Us Part II foge completamente do estereótipo de hipersexualizar mulheres como forma de agradar o público masculino, e isso se reflete também em outras personagens.

Abby é caracterizada como uma mulher forte – inclusive fisicamente –, marcada por sua história de sobrevivência e luta no mundo devastado de The Last of Us. O próprio design da personagem traz linhas menos suaves no rosto e corpo, algo que raramente acontece na caracterização de mulheres nos jogos.

Crédito: The Enemy

Como parceiro de Abby durante seus capítulos, a equipe da Naughty Dog trouxe Lev, um garoto trans que foi expulso de sua facção, entre outras razões, por sua identidade de gênero. Essa combinação de elementos faz com que The Last of Us Part II tenha algumas das melhores construções de representatividade da mídia recente, e não apenas dos jogos. 

Escândalos de produção

Além das questões de roteiro, a recepção problemática de The Last of Us Part II envolveu denúncias em relação aos abusos sofridos pela equipe de desenvolvimento durante a produção do título.

Como efeito inicial, isso desencadeou uma série de outras denúncias dentro da diversos estúdios de desenvolvimento e serviu para mobilizar conversas sobre uma eventual sindicalização do segmento.

Crédito: The Enemy

Alguns desenvolvedores relataram síndrome de burnout, depressão e, inclusive, problemas com a família em decorrência das jornadas de trabalho excessivas. Muitos dos casos relatados repercutem ainda hoje, colocando em pauta problemas que até então eram vistos como condições tradicionais desse segmento da indústria.

Outra polêmica envolve não tanto as críticas que o jogo recebeu, mas o posicionamento da Naughty Dog e membros da equipe. Após a enxurrada de ataques misóginos referentes à sexualidade de Ellie, à personagem Abby e à própria Laura Bailey, o estúdio tentou reduzir a gravidade da situação. 

Isso levou a crítica especializada a expor a incoerência da postura da empresa diante da mensagem de inclusão que permeia toda a narrativa.

Apesar dos escândalos e polêmicas, The Last of Us Part II não apenas levou o prêmio de jogo do ano, como varreu a premiação do The Game Awards 2020. O título foi premiado em sete categorias: Jogo do Ano, Melhor Direção, Melhor Narrativa, Jogo de Ação e Aventura, Melhor Design de Áudio, Inovação em Acessibilidade e Melhor Performance, premiando Bailey por dar vida e personalidade à Abby.

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Expandindo a franquia

Diferente do primeiro jogo, que entrega uma história autocontida, o final de The Last of Us Part II deixa pontas soltas propositalmente, abrindo margem para que uma continuação seja uma aposta mais segura. Mesmo sem confirmação oficial até o momento, uma eventual continuação pode ser explorada mais facilmente por ter ponto de partida já estabelecido.

Série da HBO

 A popularidade da franquia foi mais que suficiente para a Sony enxergar potencial de expandir The Last of Us para além dos jogos. A criação da PlayStation Productions representou o início de um investimento pesado na transposição de suas propriedades intelectuais para produções multimídia.

Crédito: The Enemy

A recepção morna do filme de Uncharted: Fora do Mapa não afetou esses planos. A série live-action em produção pela HBO terá Pedro Pascal e Bella Ramsey nos papéis de Joel e Ellie.

The Last of Us Part I

Dando continuidade a onda de relançamentos de jogos populares para o PlayStation 5, a Naughty Dog revelou o Remake de The Last of Us, com lançamento marcado para 2 de setembro de 2022. 

A nova versão adiciona oficialmente “Part I” ao título. Mesmo que isso não confirme oficialmente que um Part III está a caminho, a alteração serve para adicionar consistência ao nome da série.

O Remake atualiza as texturas do primeiro jogo e adiciona efeitos de iluminação, mas não aproveita as melhorias de jogabilidade introduzidas em The Last of Us Part II – o que provocou questionamentos em relação à relevância da nova versão. 

Além do lançamento para PlayStation 5, The Last of Us Part I chegará também ao PC, apesar de ainda não ter data confirmada. Dessa forma, o título compõe a expansão do catálogo de exclusivos da Sony para a plataforma, aumentando o potencial de receita de suas IPs.

Futuro da franquia

A série que nasceu como um projeto menos ambicioso da Naughty Dog se tornou praticamente obrigatório para fãs de videogame. O tratamento cada vez maior que a Sony proporciona à franquia é um forte indicativo de que podemos esperar mais produções desse universo.

Saiba mais sobre The Last of Us

  • Lançamento

    14.06.2013

  • Publicadora

    Sony

  • Desenvolvedora

    Naughty Dog

  • Censura

    16 anos

  • Gênero

    None