Se em 2020 a Netflix já havia marcado forte presença entre os indicados ao Globo de Ouro, podemos dizer que em 2021 a plataforma de streaming não só marcou presença, mas dominou a lista de concorrentes aos prêmios da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA). Foram 22 indicações nas categorias dedicadas ao cinema e outras 20 nas de TV, bem à frente dos segundos colocados - em cinema, Disney, com dez indicações, incluindo filmes da Pixar e da Searchlight, pertencentes ao conglomerado do Mickey; em TV, HBO, com sete indicações.
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O resultado talvez não seja uma grande surpresa para quem vem acompanhando o impacto que a pandemia de Covid-19 teve na indústria do cinema desde março de 2020, com cinemas total ou parcialmente fechados na maioria dos países do mundo. Para os serviços de streaming, esse cenário acabou representando uma grande oportunidade de abocanhar filmes de prestígio, que teriam ido para as salas de projeção em outras épocas. Foi o caso de Os 7 de Chicago, de Aaron Sorkin, que foi lembrado em cinco categorias - filme de drama, ator coadjuvante (Sacha Baron Cohen), direção, roteiro (Aaron Sorkin) e canção (“Hear My Voice”).
Os adiamentos ou mesmo atrasos nas produções de estúdios maiores também deram espaço para os filmes originais dos streamings brilharem este ano - incluindo aí, além da Netflix, Amazon, Hulu e até mesmo o novato Apple+. Mank, o filme com o maior número de indicações, seis, é uma produção original da Netflix dirigida por David Fincher, mais um diretor queridinho das premiações, enquanto a Amazon marcou presença com sete indicações para Borat: Fita de Cinema Seguinte, Uma Noite em Miami e O Som do Silêncio. Entre os estúdios maiores, além da Disney (que aparece com Nomadland, Soul, Dois Irmãos, Hamilton e The Personal History of David Copperfield), a Warner teve apenas quatro indicações (para Tenet, Judas e o Messias Negro e Os Pequenos Vestígios), enquanto a Universal teve três (para Os Crood 2 e Relatos do Mundo, este lançado em parceria com a Netflix).
TV
Nas categorias de TV, a Netflix teve praticamente todas as suas principais produções do ano lembradas: The Crown recebeu seis indicações, Ozark e Ratched receberam três cada, Emily em Paris e O Gambito da Rainha receberam duas e Nada Ortodoxa e Hollywood ficaram com uma cada.
Bem atrás nesse páreo, a HBO, que em anos anteriores protagonizou disputas acirradas com a concorrente, especialmente quando Game of Thrones estava no páreo, foi lembrada com séries de impacto bem menor do que seu maior sucesso: The Undoing (quatro indicações), Lovecraft Country, I Know This Much Is True e Perry Manson (uma indicação cada).
O domínio da Netflix nas categorias de TV não chega a surpreender, pois há anos a empresa vem se consolidando como a casa de algumas das séries de maior impacto cultural da atualidade, como a própria The Crown, mas a presença massiva nas categorias de cinema, ao lado de outros streamings, aponta para mudanças maiores na indústria.
Ainda não sabemos como as coisas ficarão quando todos os cinemas puderem ser reabertos e os espectadores ocuparem as poltronas sem medo de contaminação, mas o cenário desenhado pelo Globo de Ouro indica que a pandemia acelerou mudanças que talvez levassem anos, fazendo a balança pender para o lado das plataformas que permitem que assistamos filmes sem sair de casa.
Se isso significa que uma plataforma de streaming finalmente deve levar um Oscar de melhor filme, são outros quinhentos. O Globo de Ouro é escolhido pelos jornalistas estrangeiros em Hollywood, um perfil bem diferente dos votantes da Academia - que são profissionais da indústria (de atores a compositores, passando por diretores e relações públicas, entre outros) -, e também um grupo historicamente muito mais suscetível ao brilho de estrelas e grandes cineastas, não importa em qual plataforma estejam.