Caos sempre foi a força-motriz de Gotham - tanto nas telas, com a quantidade de absurdos que os habitantes da cidade já enfrentaram, como também na produção, que frequentemente teve de enrolar seus planos por conta de pressão externa ou para atender a demanda de 24 episódios por temporada. Mesmo assim, a série conseguiu encontrar sua voz para entregar algo cheio de personalidade e único no universo televisivo da DC.
Agora, o programa começa sua quinta e última temporada pronto para abraçar toda a bagunça que fez ao longo dos anos - desta vez, preparado para realizar a visão que tinha desde o início.
[Cuidado! Spoilers da quinta temporada de Gotham abaixo]
"Year Zero", primeiro episódio do ano cinco, abre mostrando o que eventualmente Gotham se tornará: largada ao crime e violência, sitiada por militares pouco prestativos. A cena, ambientada quase 10 meses no futuro, traz Gordon (Ben McKenzie) apelando para um plano final: se unir com o Pinguim (Robin Lord Taylor) e Edward Nygma (Cory Michael Smith) para combater o exército que impede a entrada de suprimentos e evacuação de civis. Subverter um personagem da lei dessa forma demonstra o quão extrema a situação ficará - mas ainda há muito pela frente até chegar nisso.
No presente, Gordon e os demais policiais tentam lidar com as revoltas e racionamento, enquanto ainda buscam contatar as forças militares. Ao ritmo que fica cada vez mais claro que a ajuda não está a caminho e que a delegacia está mais e mais isolada entre a guerra de gangues, ele recorre a Bruce Wayne (David Mazouz), que tem um plano para carregar suprimentos por helicóptero. A execução, claro, é menos do que a ideal, com o veículo sendo abatido logo de cara e chamando a atenção de todos os criminosos da cidade.
É aí que aparece o grande destaque do episódio: o Pinguim. Ele teve uma grande evolução ao longo do programa, mas agora sim começa a se encaixar na vilania que imortalizou o personagem nos quadrinhos do Homem-Morcego. Aqui, Oswald Cobblepot está cada vez mais insano e instável, em uma ótima atuação de Robin Lord Taylor, e tem a chance de demonstrar sua perversão ao assassinar Tabitha (Jessica Lucas), finalmente vingando-se da assassina da sua mãe. Quando o vilão é baleado na perna por Gordon, também passa a jurar uma recompensa para quem lhe trouxer a cabeça do policial - algo que com certeza criará conflitos interessantes para o restante da temporada.
Enquanto isso, Bruce Wayne continua sua gradual evolução para tornar-se o Batman, confrontando criminosos das diferentes gangues. Por mais que seu objetivo seja ajudar os policiais da forma que pode - algo que ganha a confiança de Gordon -, também fica claro que o garoto está tomado pela culpa de ver Selina Kyle (Camren Bicondova) no hospital, com estado mental mais e mais fraco. Os momentos finais do capítulo mostram a menina tentando cometer suicídio por conta do trauma que passou nas mãos do Coringa (Cameron Monaghan), responsável por deixá-la paraplégica.
Trauma e o desejo de compensá-lo são partes fundamentais da construção do Homem-Morcego e o vídeo promocional do restante da temporada já indicou que o icônico uniforme do herói finalmente dará as caras no seriado após muitos momentos de "quase". De certa forma, isso resume bem a trajetória de Gotham até aqui: o seriado enrolou, lidou com o protecionismo da Warner Bros. e precisou criar inúmeros arcos narrativos para crescer sua trama, mas essas limitações ajudaram a desenvolver o emocional e a personalidade dos personagens para o espectador ao ponto de que, agora, o próximo passo lógico só pode ser assumir a forma que conhecemos dos quadrinhos. Ao que tudo indica, é isso mesmo que a produção pretende fazer no seu ano final - aplicando seus próprios toques, é claro, para criar uma memorável e caótica temporada de despedida.
Gotham é transmitida no Brasil pelo canal pago Warner Channel. As temporadas anteriores estão disponíveis no catálogo da Netflix.