Como fã quase incondicional de Green Day, desde o álbum de 2004, American Idiot, eu tremo com cada anúncio de lançamento do trio. Isso não vem de uma dúvida quanto ao talento (já diversas vezes comprovado) do grupo, e sim de uma trajetória muito clara que o trio constrói desde o que pode ser considerado o seu auge na indústria musical. Antes que alguém grite “não, o auge foi o Dookie”, preciso deixar claro uma coisa: American Idiot pode não ser o favorito de todos e pode não ser tão importante ao pop punk quanto o disco de 1994, mas ele certamente concluiu uma jornada de exploração tanto instrumental quanto temática do grupo. Em American Idiot, o Green Day se provou uma banda maior que o punk, e entrou pela 2ª vez em sua carreira nas listas de álbuns essenciais da história da música.
Mas, desde então, a banda não parece ter encontrado seu rumo certo. Isso não é o mesmo que dizer que o grupo não lançou nada bom; eu discordo, e afirmo que há destaques em cada um dos lançamentos do grupo até hoje. Mas a chegada de Father Of All Motherfuckers esta semana parece um passo grave na direção errada. Desde os primeiros singles, algo parecia estranho. E o movimento foi tão bizarro que até uma teoria da conspiração apontava que Father Of All… era, na realidade, uma brincadeira da banda, que depois lançaria o seu verdadeiro disco. Terminando os míseros 26 minutos do álbum, o gosto que fica é que seria bom se a ilusão fosse verdade.
Talvez tudo isso esteja saindo de uma amargura exagerada de fã, mas a verdade é que Father Of All… é o maior exemplo de um potencial desperdiçado. As 10 curtas músicas passam rápido, e variam absurdamente de qualidade, caminhando por referências esquizofrênicas e diversas, compilando o material mais estranho que o Billie Joe já lançou até hoje - e olha que até álbum com Norah Jones ele já fez (e é ótimo, diga-se de passagem).
Quando o Green Day estourou na indústria, a crítica adorava falar sobre esse trio de Oakland que amadureceu apesar de cantar músicas sobre “tédio e masturbação”, como se tivesse algo errado com esta temática. Garanto que é mais esquisito ouvir Billie Joe, em seus plenos 47 anos, cantar que "escola é para os perdedores", em um álbum cuja capa é um unicórnio vomitando arco-íris em cima da arte de American Idiot.
Me afastando do rancor acumulado pela capa (essa capa...) e os três primeiros singles - “Father Of All”, “Fire, Ready, Aim” e “Oh Yeah!” - ouvir Father of All... na íntegra não é totalmente desesperançoso. Existe uma energia em comum, existem destaques como “Meet Me On the Roof” e “Sugar Youth”, e há toques de algo que poderia ter tido um potencial, principalmente na minha já favorita “Grafittia”. Mas caminhando por temperos de Beatles, The Clash, Joan Jett, Black Keys e diversas outras influências, Father Of All... atira para vários lados e não resulta em muita coisa. Ele não é para velhos fãs. Ele não serve para ganhar novos fãs. Ele não entrega um propósito certo a não ser bater ponto na carreira do Green Day, que precisava lançar algo depois de quatro anos após Revolution Radio.
O fã de Green Day já passou por muita coisa desde American Idiot. Já viu o grupo emular a mesma sonoridade em um bom - porém inconsistente - 21st Century Breakdown; já os viu investir na quantidade acima de qualidade em uma trilogia que mais tarde seria atribuída aos problemas de drogas de Billie Joe; e já testemunhou o trio tentando retornar aos trilhos no simpático e despretensioso Revolution Radio. Tudo isso teve seus altos e baixos. Mas o que Father of All... tem de diferente de todos os outros lançamentos é sua absoluta falta de sentido. Sem boas letras ou momentos instrumentais, o álbum é um exercício gratuito que apenas exemplifica a dificuldade do grupo em se reinventar mais uma vez, se confortar com o que já é familiar, ou deixar estar de uma vez por todas.
Retornando à “Graffitia”, a última faixa do disco, Father Of All… acaba deixando um gosto ainda mais amargo. A simpática melodia, que também traz a melhor letra do disco, fecha o 13º álbum do Green Day como um soco no estômago, como se para lembrar que, apesar de tudo que você ouviu até aqui, eles sabem muito bem o que é bom. O potencial está lá, mas sua concretização não, o que acaba soando mais como preguiça do que qualquer outra coisa. Encerrando uma jornada impiedosa, a faixa serve apenas como um lembrete aos fãs que a esperança ainda existe. E por isso seguimos aqui, no aguardo.