Sophie já tinha tomado uma ou outra taça de vinho quando resolveu fazer uma chamada de vídeo para contar ao filho como conheceu seu pai. Não que o menino tivesse algum interesse em particular na sua história de origem — aliás, ainda que seu rosto sequer tenha sido revelado, bastou o tom da sua voz para saber que a promessa dela de não o poupar dos “trechos mais sexies” não foi lá muito cativante. Mas, diante de tamanha determinação, não seria ele quem frearia os impulsos da sua mãe. E é assim, meio a contragosto, que ele começa a acompanhar as minúcias da juventude de Sophie em pleno 2022, um ano que na ficção nunca se ouviu falar em pandemia, mas onde o Tinder é, sim, a principal ferramenta para se relacionar.
A premissa de How I Met Your Father, série que chega ao Star+ nesta quarta (9), é em essência a mesma da sua série-mãe com óbvias atualizações. Se Ted Mosby obrigou seus filhos a se sentar no sofá da sala no que deve ter sido a noite mais longa de suas vidas — foram nove temporadas de How I Met Your Mother, afinal de contas —, Sophie faz seu filho de refém digitalmente. O fator aplicativos também mudou o modo como as pessoas se conhecem e criam laços de 10 anos para cá, e uma produção que pretende falar sobre amor e sexo, ainda que pela via cômica, não poderia ignorá-los se quisesse (re)conquistar o público. Há, ainda, um necessário reconhecimento de que Nova York é uma cidade muito mais diversa do que o que fora retratado anos antes, tanto em termos raciais, quanto em orientações sexuais. No entanto, no seu cerne, o derivado segue à risca a fórmula que consagrou HIMYM como uma queridinha do público.
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O que poderia ser uma boa notícia para os fãs mais saudosistas de HIMYM na realidade se revela o principal problema do spin-off. Porque não importa quantos elementos contemporâneos HIMYF adicione, os primeiros episódios deixam a sensação de se estar diante de uma produção datada. Não se engane, a série não tem um personagem fazendo as vezes do Barney, com comentários questionáveis em tom de piada. Pelo contrário: a nova versão traz uma perspectiva feminina sobre relacionamentos, um contraponto interessante à original, e no geral parece ser bastante consciente de que, embora bem-sucedida, sua antecessora envelheceu mal em muitos quesitos. No caso, o grande obstáculo de HIMYF é mesmo ser uma sitcom tão tradicional.
Todo o humor da série se sustenta em punchlines inofensivas, que, no máximo, arrancam um sorriso do rosto do espectador. E, se formos honestos, isso não é um demérito só dessa série: essa bobeirinha está no DNA de HIMYM. Por isso, inclusive, que assisti-la hoje, menos de 10 anos depois da sua despedida, pode ser mais frustrante do que nostálgico: você pode amar os personagens, mas a série não é tão engraçada quanto você se lembrava. Isso só fica muito mais aparente em HIMYF, porque você não tem um relacionamento prévio com aquelas pessoas. Você está começando a conhecê-las.
Essa falta de ousadia também é reflexo da inexperiência de seus criadores, Isaac Aptaker e Elizabeth Berger, com o formato. Ambos foram bastante honestos sobre o quão dependente essa temporada é da produtora-executiva e diretora Pam Fryman, que foi responsável pela direção de quase todos os episódios de HIMYM. Então, não bastasse ser um derivado que opera no mesmo mundo — e, portanto, nas mesmas regras — do original, realmente não tinha muita condição de ele sair da sombra de sua antecessora.
Existe uma razão para que as sitcoms sejam tão raras nos últimos anos. Trata-se de um formato desgastado, e a não ser que HIMYF encontre uma maneira de realmente inovar na sua proposta — porque, convenhamos, até a ideia de um amor para a vida toda é um pouco anacrônica a essa altura —, ela não vai conseguir resultados muito melhores. Isso não quer dizer que ela seja de todo ruim. Os personagens são fofos, existe um quê de intrigante na história de quem é o pai e por que a mãe está sozinha em 2050, e ela é uma série feel good. Ela simplesmente parece ter se encontrado por completo ainda.
Muitas sitcoms demoram uma temporada inteira para acertar seu tom. E não dá para negar: HIMYF não é nenhuma exceção. Em muitos sentidos, ela é só mais uma delas.
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