Filmes

Entrevista

Hitchcock | Omelete entrevista o diretor Sacha Gervasi

Ele fala da opção de destacar Alma Hitchcock, da primeira conversa com Anthony Hopkins e de seu próximo filme

28.02.2013, às 15H21.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Hitchcock, filme que conta a história da produção do clássico Psicose, é o primeiro trabalho de ficção do londrino Sacha Gervasi como diretor. Roteirista de O Terminal e diretor do documentário Anvil: The Story of Anvil, Gervasi fala dos desafios dessa sua estreia em entrevista exclusiva.

hitchcock

None

hitchcock

None

hitchcock

None

Sacha Gervasi

None
Sacha Gervasi

Hervé Villechaize

None
Hervé Villechaize

Manter Hitchcock conversando com a câmera - uma coisa que ele fazia para promover seus trabalhos - foi intencional para preservar a fantasia do cineasta?

Sim, é só um filme. Tem elementos fantásticos, e é também uma referência [à série de TV] Alfred Hitchcock Presents, em que ele se dirigia para a câmera. Tratamos como uma referência direta porque a maioria do público dos EUA via a série. Na Inglaterra eles têm outro referencial. Nós trabalhamos em cima dessa persona que ele criou. E também é uma forma de deixar o público ciente de que [o filme] é surreal e fantástico. Há esses elementos de fantasia. Imediatamente adiantamos que esta não é a típica cinebiografia intensa, sincera, honesta.

O que eu acho interessante é que o trabalho de Hitchcock, com o tempo, adquiriu o status de obra-prima, mas naquela época os críticos diziam que os filmes dele eram passatempos divertidos, como cinema de gênero. Ele fazia filmes para o público, então tentamos abraçar esse espírito. Sabíamos que isso provocaria uma comoção, mas ficamos empolgados com essa opção. Todo mundo sabe sobre as atrizes e o que aconteceu com Tippi Hedren. É de domínio público esse lado ligeiramente difícil, sádico e neurótico do diretor. O que as pessoas não sabiam é que a grande parceira [de Hitchcock] era a esposa dele.

A ideia de se concentrar em Alma era menos intimidadora, já que ela não é tão conhecida quanto Hitchcock?

De um jeito meio estranho, eu não estava de verdade tratando de Hitchcock. Eu não tentei solucionar todos os enigmas [sobre ele]. Tudo o que eu tentei fazer foi jogar uma luz em uma parte pouco explorada de sua vida. Há pessoas que sabem de Alma, mas mesmo fãs do diretor não sabem a fundo o quanto ela se envolvia [nos filmes]. Para nós, era uma chance de contar essa história. É uma história de relacionamento bem emocional, como eu fiz com Anvil. Essencialmente, são histórias de casamentos criativos que duram anos, embora os filmes sejam completamente diferentes. Adoro a ideia de colaborações criativas, a ideia de explorar casamentos longevos. Esta não é uma história romântica. Há romance ali, mas em alguns momentos é incrivelmente doloroso. Hitchcock não era exatamente maravilhoso com a esposa. Essa é a questão.

Como foi seu processo de procurar Anthony Hopkins e Helen Mirren até que eles aceitassem?

Ambos já sabiam do projeto. Helen negou duas vezes, e Tony evitou o assunto por anos, quando ainda era outro diretor. Todo mundo adorou Anvil, e depois disso eu encontrei com ele. A primeira coisa que Tony me disse foi que ele assistiu a Anvil três vezes, falou que adora o filme. Àquela altura, senti que ele poderia aceitar o papel. "Você é totalmente louco, estou dentro!", disse ele. Quando nos conhecemos, ele me perguntou: "Este não vai ser um filme sobre o making-of de um clássico, vai?". Eu respondi: "Como pano de fundo, sim, mas na verdade é uma história de relacionamento".

Como você teve contato com Hitchcock pela primeira vez?

Quando vi Psicose, eu era bem novo. Eu tinha um cineclube na minha escola, que eu fiz com outra pessoa. Os três primeiros filmes que passamos foram Inverno de Sangue em Veneza, Easy Rider e Psicose. Lembro que era perturbador ver Psicose com 14, 15 anos. Fiquei anos sem rever porque foi meio traumatizante. Obviamente, como cresci na Inglaterra, ele é o ícone. Quando pessoa interessada em cinema era fascinada por ele. E depois, estudante na Universidade da Califórnia, na aula de Howard Suber... Howard dá aula lá há 48 anos, ele ensinou todo mundo, de Paul Schrader e Francis Coppola a Alexander Payne. Sempre fui fã de Hitchcock, e o que me impactou é que alguns cineastas têm duas ou três obras-primas, enquanto Hitchcock tem dez ou 12, dependendo da preferência da pessoa. Ele conseguia se reinventar constantemente, e Psicose foi parte dessa reinvenção.

Mergulhar em Alfred Hitchcock para fazer este filme mudou a sua perspectiva sobre os filmes dele?

O filme explora o que pudesse passar pela cabeça dele e o que pudesse estar acontecendo enquanto ele fazia Psicose. Não estávamos no quarto com um gravador, registrando tudo. Lendo o livro de Stephen Rebello e todas as outras biografias, tivemos uma dimensão de quem ela [Alma] era e o que estava acontecendo. Nós fizemos o que todo filme faz: pegar os fatos que conhecemos e dramatizá-los conforme o que consideramos ser verdadeiro. Foi maravilhoso quando a neta de Hitchcock disse no [jornal] New York Times há algumas semanas que ela se sentia agradecida por finalmente a avó dela ter algum reconhecimento. Essa era a intenção primeira do filme.

Vocês fizeram testes de audiência?

Fizemos, sim.

Essas reações mudaram o filme?

Começamos a filmar em abril de 2012, então não tivemos muito tempo. Testamos em agosto, e foi incrivelmente bem. Aproveitamos algumas respostas, mas no geral era "o filme é engraçado?", "as pessoas riram?", "houve uma reação emocional?". E com certeza tivemos tudo isso. Depois só afinamos tudo. Tivemos que fazer só uma sessão teste. [Às vezes] pode ser uma experiência horrível, traumatizante, como no próprio Psicose, em que as pessoas saem do cinema e ficam sem reação, de pé, do lado de fora. Quando vai bem, ajuda, mas quando vai mal não ajuda nada.

Acho que o filme ecoa com as caras-metades, o marido ou a esposa de alguém. Para cara pessoa brilhante, não importa se é um advogado ou um cineasta, há alguém que escuta todos os problemas do gênio na cama, à noite, e está lá para apoiá-lo. Acho que é por isso que Helen Mirren queria ficar com o papel [de Alma]. Ela reconhece isso, já que foi casada também com um diretor [Taylor Hackford]. Há 20 anos ninguém sabia quem era Helen Mirren. Ela veio para Los Angeles, ia às festas e todo mundo só queria saber do marido dela.

Você acha que terá muitas cenas deletadas para incluir no DVD?

Temos algumas, sim, mas posso guardá-las para fazer uma surpresa, certo? Não tivemos muito tempo para filmar, então tínhamos que ser bem específicos. Acho que quatro ou cinco cenas acabamos descartando, mudamos muita coisa de lugar, mas acho que no fim quase tudo que filmamos está no longa.

Agora você vai fazer My Dinner with Hervé, seu filme sobre Hervé Villechaize, o conhecido anão de A Ilha da Fantasia?

Acho que é o próximo, sim. Espero que role. É baseado na história real da minha entrevista com ele, seis dias antes de Hervé cometer suicídio.

O que te interessou nele?

Não sei. Me mandaram para entrevistá-lo [Gervasi trabalhou como jornalista nos anos 1990], seria uma matéria de 500 palavras em tom de piada. Ele acabou me ameaçando com uma faca e dizendo que não tinha terminado de falar. Acabei passando três dias com ele, e acabou sendo sua última entrevista. E isso se tornou meu primeiro roteiro, My Dinner with Hervé, e agora vou dirigir esse filme.

Peter Dinklage vai ser o protagonista?

Exatamente, ele é ótimo. É uma história bem diferente. Sempre me atraíram esses personagens exóticos e excêntricos, seja Anvil, Hervé ou mesmo Hitchcock. Você não os conhece de verdade, mas à medida em que os desvenda você descobre que eles não são tão estranhos assim.

Hitchcock estreia no Brasil em 1º de março.

Veja cinco filmes indispensáveis de Alfred Hitchcock

Leia mais sobre Alfred Hitchcock

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.